PT atrai União Brasil

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Foto: Sérgio Lima

Em meio ao esforço para aprovar a PEC da Transição, lideranças do futuro governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva iniciaram conversas com a cúpula do União Brasil para atrair o partido para a base governista. Embora uma ala da legenda flerte com os petistas, a sinalização de dirigentes é que a sigla, nesse primeiro momento, ficará independente, e resiste a votar favoravelmente à proposta se o texto não estabelecer um prazo determinado para a licença para gastar além do teto com os programas de transferência de renda.

Outro aceno do União à futura gestão é de que o partido tem o coordenador da transição, Geraldo Alckmin (PSB), como interlocutor preferencial. Nas palavras de um dirigente do União, o “empoderamento” ao vice-presidente seria o gesto mais evidente de que a gestão lulista caminhará em direção ao centro, o que facilitaria a aproximação.

Em paralelo, o União avança para formar um bloco com o PP na Câmara, onde juntos contarão com uma bancada de 106 deputados, e estarão na linha de frente da reeleição do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). No Senado, as duas siglas somarão 19 senadores.

Com esse capital de votos, se o União – em alinhamento tático com o PP – não aderir à base governista, será quase impossível ao PT garantir a aprovação da PEC da Transição, e de outras propostas estratégicas, sem o apoio do partido. Além disso, caberá a um quadro da sigla – o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Davi Alcolumbre (AP) – a relatoria da matéria no Senado, elevando o capital do partido nas transações.

Alckmin tem trânsito privilegiado junto às duas siglas porque sempre foi aliado próximo de dois caciques do União e do PP: o ex-prefeito de Salvador e secretário-geral do União, ACM Neto, e o ministro-chefe da Casa Civil e presidente licenciado do PP, Ciro Nogueira. Coube a Neto e Nogueira levarem seus partidos para a coligação de apoio à candidatura presidencial do ex-tucano em 2018.

Nos bastidores, o partido está dividido sobre o apoio ao governo Lula. Impasses regionais dificultam a adesão à base, como a situação na Bahia, onde ACM Neto perdeu a eleição estadual para o petista Jerônimo Rodrigues (PT), o que impede o cacique do União de se tornar governista no plano nacional. Em contrapartida, o partido elegeu os governadores de Goiás, Rondônia, Amazonas e Mato Grosso, que já alertaram a cúpula partidária de que eventual postura de oposição ao governo seria prejudicial aos interesses estaduais.

Na semana passada, Alckmin, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o ex-ministro Aloizio Mercadante ouviram de lideranças do União que a sigla aguardará a formação do governo e a apresentação das propostas antes de debater com os filiados a adesão à base lulista.

Sobre a PEC da Transição, lideranças do União, incluindo Alcolumbre, esclareceram a interlocutores de Lula que o partido não concorda com o texto enviado ao Congresso, que prevê prazo indeterminado para a exclusão dos recursos relativos ao Auxílio Brasil do teto de gastos. Dois dirigentes disseram ao Valor que o União não avalizará a autorização para gastar acima do teto sem um marco temporal. Segundo essas lideranças, o partido sustentará no Congresso que essa concessão seja restrita a 2023, e contemple, exclusivamente, despesas com o Auxílio Brasil e o reajuste do salário mínimo.

O posicionamento desagrada a Lula, que autorizou aliados a negociarem o prazo de quatro anos para exclusão dos recursos do Bolsa Família da ferramenta fiscal. Nos termos colocados pelas lideranças do União, a futura gestão não alcançará os R$ 175 bilhões extra teto discutidos. Entretanto, não há sinalização de que o União recuará da postura de independência.

Valor Econômico