Transporte grátis diminuiu abstenção

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Foto: CNN

A queda na taxa de abstenção nos municípios que ofereceram transporte público gratuito no segundo turno da eleição presidencial foi mais acentuada do que a redução observada nas localidades que não tiveram gratuidade.

A diferença, porém, foi pequena. Ainda que o resultado da eleição presidencial tenha sido o mais apertado história – 50,9% para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a 49,1% para o presidente Jair Bolsonaro (PL) – o impacto estimável da gratuidade é insuficiente para qualquer inferência sobre alterações no placar da disputa.

As conclusões são de cruzamentos feitos pelo Valor entre a lista de cidades que tiveram passe livre no segundo turno, levantamento do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), e os dados de comparecimento e abstenção em cada município divulgados pelo Tribunal Eleitor Eleitoral (TSE).

Nos 381 municípios que concederam passe livre no segundo turno ou foram beneficiados por gratuidades dadas por governos estaduais em transporte intermunicipal, a abstenção caiu de 19,8% no primeiro turno para 19,2% no segundo turno. Queda de 0,6 ponto.

Nesse grupo estão várias capitais e alguns dos maiores municípios do país. Reúnem 73,9 milhões de eleitores, 47,5% do total.

Já nos 5.137 municípios que não tiveram gratuidade, a abstenção caiu de 21,8% para 21,6%. Redução de apenas 0,2 ponto.

Esse conjunto é formado sobretudo por municípios pequenos. Reúne 79,9 milhões de eleitores, 51,3% das pessoas aptas a votar.

Há ainda um terceiro e pequeno grupo de municípios em que as prefeituras oferecem gratuidade permanente no transporte público, conforme a relação do Idec.

Nas 51 cidades de passe livre permanente (1,9 milhão eleitores, 1,2% do total), a queda na abstenção foi idêntica à dos locais em que a gratuidade só foi aplicada no segundo turno: de 19,8% para 19,2%.

Com base exclusivamente nesses dados, é possível projetar, de forma simplificada e abstrata, quantas pessoas a mais teriam votado no segundo turno se 100% dos municípios tivessem oferecido gratuidade. Se a abstenção tivesse caído 0,6 ponto nos 5.137 municípios que não tiveram gratuidade, o comparecimento proporcionalmente maior resultaria num acréscimo de 327,8 mil eleitores.

Da mesma forma, é possível calcular quantos eleitores votaram a mais no segundo turno em razão da oferta de passe livre em 381 municípios. O 0,4 ponto percentual a mais de comparecimento nesse grupo de cidades equivale a 250,9 mil pessoas.

Para o economista Maurício Moura, da empresa Ideia Big Data, a diferença é residual considerando o tamanho do eleitorado. Uma medição mais precisa do impacto da gratuidade, afirma, também precisaria levar em conta a desigualdade na distribuição de pessoas que precisam de transporte.

A acentuada polarização na disputa, avalia, teve mais influência na queda geral da abstenção do que a gratuidade.

O cientista político Andrei Roman, da Atlas Intel, faz avaliação semelhante. “O resultado é interessante. Mas é preciso considerar outros fatores que podem ter influenciado na queda da abstenção”, disse. “A eleição foi atípica. O segundo turno era a última oportunidade de o eleitor se opor a Lula ou a Bolsonaro. Isso foi um elemento motivador de comparecimento.”

Valor Econômico