Tebet foi de inimiga a aliada do PT

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Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

Após uma arrastada negociação política, com várias idas e vindas, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) aceitou o convite feito pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e garantiu sua vaga no primeiro escalão do futuro governo. Ela ocupará o Ministério do Planejamento, uma das pastas da equipe econômica da próxima gestão federal.

Terceira colocada nas eleições presidenciais deste ano, com quase 5 milhões de votos (4,16% dos válidos), Tebet foi considerada peça importante para Lula no segundo turno contra Jair Bolsonaro (PL). Contrariando parcela considerável de sua base eleitoral, a parlamentar declarou apoio ao petista e se engajou abertamente na campanha.

Tebet se aproximou de Lula, da futura primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, e da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann – que trabalhou internamente pela presença da senadora no ministério do governo eleito.

A presença de Tebet em um posto importante da equipe econômica desagrada, no entanto, ao futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que preferia um nome mais alinhado a ele e à equipe que montou na pasta. De postura mais liberal na economia, Tebet entusiasma o mercado e é vista por investidores como um possível contraponto ao ministro da Fazenda durante o governo.

No Ministério do Planejamento, Tebet assegura o comando o comitê gestor do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) —a coordenação dos projetos ficará sob tutela da Casa Civil.

Ela também queria ter sob sua alçada bancos públicos como Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, mas o presidente eleito descartou de imediato essa possibilidade. As instituições seguem sob o guarda-chuva da Fazenda.

Durante a campanha presidencial, Tebet recebeu apoio de um grupo de empresários e economistas liderado, entre outros, por nomes como Candido Bracher, ex-presidente do Itaú; Pedro Wongtschowski, presidente do Conselho de Administração do Grupo Ultra; Wolff Klabin, membro do conselho da Klabin; Armínio Fraga e Affonso Celso Pastore, ex-presidentes do Banco Central; e pela economista Elena Landau – que foi coordenadora do programa econômica da então candidata ao Planalto.

Tebet se diz abertamente comprometida com pautas liberais na economia. Ela votou favoravelmente à proposta de reforma trabalhista aprovada durante o governo de Michel Temer e à reforma da Previdência, aprovada durante o governo Bolsonaro. As duas propostas foram duramente combatidas pelo PT.

Até chegar ao Ministério do Planejamento, Tebet foi cogitada em outras pastas do futuro governo. Ainda durante a campanha, havia quem defendesse que a senadora fosse nomeada para o Ministério da Agricultura, mas a própria Tebet descartou a oferta, alegando que precisaria de uma pasta que ampliasse sua base de apoio tradicional (ela sempre foi muito ligada ao agronegócio), como consequência da dimensão nacional adquirida com a candidatura ao Planalto.

O sonho da senadora era ser ministra do Desenvolvimento Social – pasta responsável pelo Bolsa Família, vitrine dos governos do PT –, mas ela perdeu a disputa para o ex-governador petista do Piauí Wellington Dias.

Em seguida, Tebet foi sondada para o Ministério do Meio Ambiente, mas impôs como condição que a deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP) declinasse da ideia de assumir a pasta, o que não ocorreu. Tebet, então, foi convidada por Lula para o Planejamento.

Antes de cair nas graças de Lula e do PT, no entanto, Simone Tebet ajudou a tirar a ex-presidente Dilma Rousseff do poder.

Em 2016, a senadora do MDB votou favoravelmente ao impeachment que cassou o mandato da petista, afastada pelo Congresso por ter cometido fraudes fiscais, popularmente conhecidas por “pedaladas”, a fim de maquiar os números do seu governo.

Ao justificar o voto pela cassação de Dilma, Tebet afirmou: “Há um muro muito grande a separar o povo brasileiro de seu futuro, e é esse muro que venho, a partir de hoje, derrubar. É o muro da crise econômica, social e institucional, da instabilidade e da insegurança jurídica. Venho com convicção afirmar ao Brasil que voto ‘sim’ pelo juízo de admissibilidade desse processo de impeachment”.

Advogada, professora e senadora da República, Simone Tebet tem 52 anos. Ela nasceu em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, e é filha do ex-senador Ramez Tebet (1936-2006), que foi presidente do Senado entre 2001 e 2003. Ela é casada com o deputado estadual Eduardo Rocha (MDB-MS), atualmente secretário de Governo e Gestão Estratégica do estado. Eles têm duas filhas: Maria Eduarda e Maria Fernanda.

Formada em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Tebet se tornou professora de Direito Público e Administrativo – lecionou por 12 anos em diversas instituições.

Em 2002, aos 31 anos, foi eleita deputada federal pelo MDB do Mato Grosso do Sul. Em 2004, Tebet se tornou a primeira mulher a ser eleita para a prefeitura de Três Lagoas. Em 2008, foi reeleita com 76% dos votos válidos.

Em 2010, Simone Tebet pediu licença do cargo de prefeita e se candidatou a vice-governadora do estado, formando a chapa vitoriosa com André Puccinelli (MDB). Além de vice-governadora, comandou a Secretaria de Governo do Mato Grosso do Sul.

Em 2014, Tebet foi eleita senadora da República, a primeira mulher de seu estado a chegar ao Senado. Em 2019, tentou ser candidata à presidência da Casa pelo MDB, mas perdeu a disputa interna para Renan Calheiros (AL), que acabou derrotado por Davi Alcolumbre (AP), na época no DEM.

O nome de Simone Tebet começou a ganhar maior projeção nacional em 2021, a partir de sua atuação na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, que investigou as ações e omissões do governo de Jair Bolsonaro durante a pandemia.

O momento de maior destaque para Tebet na CPI foi registrado durante o depoimento do deputado Luis Miranda (DF). Respondendo a uma pergunta da senadora, o parlamentar citou explicitamente o nome do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), como envolvido em supostas irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin. O episódio fez eclodir mais uma da série de crises enfrentadas pelo governo Bolsonaro.

A grande exposição que teve na CPI catapultou Tebet para o maior desafio de sua trajetória política: a candidatura presidencial. A senadora se apresentou para a disputa em dezembro de 2021, com o apoio do presidente nacional do MDB, Baleia Rossi (SP), e do ex-presidente da República Michel Temer.

Correndo por fora contra nomes considerados de maior peso na chamada “terceira via”, como João Doria (PSDB), Eduardo Leite (PSDB) e e Sergio Moro (União Brasil), Tebet viu os principais concorrentes ficarem pelo caminho, um a um. Ela viabilizou a candidatura, apoiada pelo MDB e ainda por PSDB, Cidadania e Podemos, mas não conseguiu furar a polarização entre Lula e Bolsonaro.

A senadora terminou em terceiro lugar, à frente de Ciro Gomes (PDT), veterano em eleições presidenciais, e subiu ao palanque de Lula no segundo turno. Foi o suficiente para ganhar peso nacional e carimbar o passaporte para o ministério do governo petista, a partir de 1º de janeiro.

Metrópoles