Anderson Torres já leu acusação e depõe hoje

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(crédito: Evaristo Sá/AFP)

O delegado Anderson Torres, ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, deve prestar hoje um novo depoimento à Polícia Federal. Ele é investigado por possível omissão com os ataques terroristas de 8 de janeiro, na Esplanada. Integrantes do primeiro escalão do governo federal o acusam de ter sabotado o comando das forças de segurança pouco antes dos atos. O ex-secretário ficou em silêncio na primeira vez que foi questionado pelos policiais federais, mas a expectativa é que ele preste esclarecimentos dessa vez, já que a defesa teve acesso aos autos do processo.

O segundo depoimento foi um pedido da defesa de Torres, e solicitado ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela PF. Durante a primeira oitiva, na quarta-feira passada, que durou cerca de uma hora, o ex-secretário ficou em silêncio. Entre as perguntas feitas pelos policiais estava a minuta de decreto presidencial encontrada pela PF durante operação de busca e apreensão em sua casa. O documento continha um dispositivo para que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) interviesse no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e nas cortes eleitorais regionais, declarando Estado de Defesa, durante o pleito do ano passado. Caso fosse assinado, o decreto poderia ser usado para alterar o resultado das eleições.

A defesa de Torres argumentou que não teve acesso ao material dos inquéritos e disse que o delegado está disposto a responder às questões dos policiais no próximo depoimento, após ter acesso aos autos do processo. Até a noite de ontem, porém, a oitiva de Torres não estava confirmada oficialmente.

Outro tema de interesse dos investigadores é o conteúdo do celular do ex-secretário, que foi deixado nos Estados Unidos. Torres alega que o aparelho havia sido clonado. Para tentar acessar os dados, a Procuradoria-Geral da República (PGR) não descarta estabelecer uma cooperação internacional. Investigadores consideram também acesso remoto, pela nuvem.

Estofado rasgado

Torres está preso preventivamente no 4º Batalhão de Polícia Militar do Distrito Federal desde 14 de janeiro, por determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes. Ele ocupa uma cela que tem um sofá com o estofado rasgado, banheiro, beliche, uma televisão e frigobar. Ele pediu ainda acompanhamento psicológico, o que foi acatado pela Justiça.

O ex-secretário viajou de férias para os Estados Unidos um dia antes do terrorismo na Esplanada. Quando houve a ordem de prisão, no dia 10, ele voltou ao país e foi preso assim que desembarcou em Brasília. Torres negou ter se encontrado com Jair Bolsonaro durante a estadia em Orlando, na Flórida, onde o ex-presidente está hospedado desde o início do ano. O governador afastado do DF, Ibaneis Rocha, porém, disse em seu depoimento que as férias de Torres começaram apenas em 9 de janeiro e que, portanto, o ex-secretário tem responsabilidade pelo ocorrido.

“Tomei a decisão de interromper as minhas férias e retornar ao Brasil. Vou me apresentar à Justiça e cuidar da minha defesa”, declarou Torres antes de se entregar. Ele também nega as acusações de que foi conivente com os ataques terroristas, classificando-as como “hipóteses absurdas”. Sobre a minuta encontrada pela PF, o ex-secretário alega que o documento estava em uma pilha de papéis para descarte.

Torres é acusado por membros do governo federal de ter sabotado o comando da Secretaria de Segurança Pública para permitir a invasão e depredação das sedes dos três Poderes. Em depoimento, o então “número dois” da pasta, ex-secretário-executivo Fernando de Sousa Oliveira, afirmou que Torres aprovou um plano criado para lidar com as manifestações de 8 de janeiro. Ele assumiu o comando da pasta após a viagem do ex-secretário.

O Plano de Ações Integradas, segundo Oliveira, continha uma programação para cada uma das forças de segurança. O ex-secretário-executivo disse ainda que Torres não passou nenhuma diretriz sobre os atos bolsonaristas, que já eram esperados, nem o apresentou às forças ou a Ibaneis. Sobre a possibilidade de sabotagem, porém, Oliveira afirmou que houve uma falha da Polícia Militar ao executar o plano para contenção dos extremistas.

Correio Braziliense