Bolsonarista, Skaf está por trás de golpe na Fiesp

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Foto: Claudio Belli/Valor

Dois vice-presidentes e um diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) que integram o grupo de 47 representantes de sindicatos que destituíram Josué Gomes da Silva da presidência da entidade negam a articulação de um “golpe”, acusam-no de “trair compromissos” e relatam reuniões mantidas com o ex-presidente Paulo Skaf para reclamar do empresário da Coteminas. Skaf antecedeu Josué no cargo por 17 anos consecutivos e foi o fiador de sua eleição, vencida com chapa única em 5 de julho de 2021.

Em entrevista ao Valor, os vice-presidentes André Sturm e Carlos Cavalcanti e o diretor José Silvio Valdissera rebatem a afirmação de que a remoção do presidente teria sido orquestrada por Skaf e dizem que se sentiram “traídos” com a nomeação de Pedro Wongtschowski para o Conselho Superior de Inovação e Competitividade da Fiesp. O empresário, do Grupo Ultra, integra a ala política de oposição à atual diretoria da federação e é ligado ao empresário Horácio Lafer Piva, da Klabin, presidente da Fiesp de 1998 a 2004.

Josué foi destituído na segunda-feira (16) pelo conselho de representantes de sindicatos da Fiesp, durante assembleia tumultuada e com direito a bate-boca. Procurado, o advogado de Josué, Miguel Reale Junior, não quis comentar. O jurista tem afirmado que a destituição de Josué foi tramada como “um golpe” e alega que a assembleia não tem legitimidade, nem amparo no estatuto da federação. Skaf e Wongtschowski também não quiseram se manifestar.

Desde que assumiu a presidência da Fiesp, em 2022, Josué enfrentou resistências dentro da entidade. Mas a oposição à gestão do empresário, filho de José Alencar, vice-presidente nos dois primeiros governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), escalou a partir do momento em que ele organizou um manifesto a favor da democracia e do Estado democrático de direito, que foi lido no salão nobre da Faculdade de Direito do Largo São Francisco em 11 de agosto.

No dia seguinte à leitura do documento, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) fez uma “live” e chamou o manifesto de “cartinha”, retomou ataques a Lula – que viria a derrotá-lo pelo voto na eleição presidencial – e afirmou que o documento era uma tentativa de atingi-lo eleitoralmente. Durante a gestão de Skaf, Bolsonaro aproximou-se da Fiesp e fez diversas visitas à federação.

Conforme o relato dos empresários ouvidos pela reportagem, “um sentimento generalizado de insatisfação” com a gestão de Josué teria levado diretores de sindicatos a procurar Skaf.

“A partir do momento em que o Josué passou a descumprir compromissos que firmou, a trair compromissos, a não atender os sindicatos, eu, muito incomodado, liguei para o Skaf e fui lá reclamar”, diz Sturm, que preside o Sindicato da Indústria do Audiovisual do Estado de São Paulo.

Eles contam que, a partir do início de setembro do ano passado até meados de outubro, ocorreram diversos encontros com Skaf, parte dos quais na casa do empresário e político. O Valor apurou que ao menos 15 reuniões aconteceram em 2022.

“Tinha muita gente, pelo menos 80 pessoas, e marcamos outra reunião e outra, até chegarmos em outubro [de 2022] e decidirmos convocar a assembleia. O Paulo Skaf estava dentro, porque ele tem responsabilidade no assunto”, afirma Sturm. Entre os presentes nos diversos encontros, estavam representantes dos sindicatos de vestuário masculino, de indústrias de especialidades têxteis, da indústria de móveis de junco e vime, da indústria de reparação de veículos e acessórios, da indústria de panificação e confeitaria, da indústria de esquadrias e construções metálicas, entre outros.

Cavalcanti, que é ex-presidente do Sindicato da Indústria de Mármores e Granitos de SP, diz que se desentendeu com Skaf e ficou cinco meses sem falar com ele após a nomeação de Wongtschowski para um dos conselhos da Fiesp. “No dia 30 de janeiro de 2022 teve a nomeação do Wongtschowski e só voltei a falar com Skaf em junho, de tão bravo que fiquei. Eu disse, ‘se esta é a gestão, eu não vou participar disto aqui. O grupo [de Piva] que nós derrotamos em 2004 voltar ao poder é uma coisa absurda’.”

“Eu fiquei realmente incomodado com o Skaf, reclamei muito e cheguei a ter um momento tenso com ele, por jogar toda a responsabilidade [pela eleição de Josué] em cima dele”, diz Valdissera, presidente do Sindicato da Indústria de Instalações Elétricas, Gás, Hidráulicas e Sanitárias do Estado de São Paulo.

Até o fim da tarde dessa quarta-feira (18) havia a expectativa de que a defesa de Josué Gomes da Silva judicializasse a assembleia que o apeou do cargo, por meio de uma liminar endereçada à primeira instância do judiciário paulista. No entanto, até o início da noite a ata da assembleia não havia sido lavrada em cartório, como exige o estatuto da Fiesp.

Valor Econômico