Golpistas usaram comunicadores para coordenar ataques
Dois homens que participaram da depredação do STF (Supremo Tribunal Federal) em 8 de janeiro usaram rádio comunicador pouco antes da invasão do Congresso.
Ainda não identificados, eles estavam com Ana Priscila Azevedo, presa dois dias depois sob a suspeita de ser uma das líderes da tentativa de golpe bolsonarista. Em imagens obtidas pelo UOL, os dois homens aparecem com fones no ouvido direito, conectados a um fio que seguia por baixo da roupa.
Também é possível ver que um deles tinha um equipamento de rádio na cintura.
O vídeo foi gravado no início da tarde de 8 de janeiro, durante a marcha bolsonarista que saiu do Quartel General do Exército rumo ao Congresso.
Na altura do Teatro Nacional, a cerca de 500 metros da Esplanada dos Ministérios, os dois homens se aproximaram de um carro onde estava Ana Priscila.
Conhecida entre radicais bolsonaristas, Ana Priscila vinha divulgando áudios e vídeos em que pregava a tomada dos três Poderes no dia 8.
Vamos tomar essa porra de assalto, galera.” Ana Priscila Azevedo, do carro, gritando para manifestantes em 8 de janeiro Diante dos homens com comunicadores, Ana Priscila pediu “cobertura” para se juntar à manifestação.
Eles concordaram em fazer a escolta. O uso de rádio comunicador nos ataques a Brasília foi incentivado em grupos de Telegram bolsonaristas. Em 5 de janeiro, um vídeo do YouTube com instruções sobre frequências de emergência foi postado no grupo “Caça e Pesca”, que organizou a ida de manifestantes do Sudeste para Brasília.
Invistam algumas pessoas e tenham alguns rádios, facilita demais, comunicação instantânea –
– usem as frequências dos Talk About Motorola, que são legalmente permitidas por lei, ignorem o resto da tabela e usem só uma da lista ou organizem entre grupos de subgrupos lá em Brasília.
” Mensagem no grupo de Telegram bolsonarista “Caça e Pesca”, em 5 de janeiro
Forças de segurança não comentaram
Às 15h de quinta-feira (18), o UOL questionou a Polícia Federal e a Polícia Militar do Distrito Federal sobre o uso de rádio comunicador nos ataques de Brasília e enviou prints do vídeo.
A reportagem apurou que não havia nenhuma linha de investigação a respeito, até aquele momento.
Naquele mesmo dia, à noite, o interventor federal no Distrito Federal, Ricardo Cappelli, postou no Twitter a respeito: “Segundo policiais, ‘manifestantes’ usavam rádios para se comunicar. Estamos apurando tudo”.
A Polícia Federal disse que não se manifesta sobre investigações em andamento.
O que mostra o vídeo obtido pelo UOL
“Galera eu preciso de cobertura. Eu só não tô aí [na marcha rumo ao Congresso] porque o povo [governo] quer minha cabeça”, disse Ana Priscila para os homens que se aproximaram da janela de seu carro.
Um deles, de comunicador, vestia camiseta e boné preto.
“Bora Ana. Vem, vambora. Encosta o carro ali no terminal rodoviário e vamos embora”, respondeu o homem.
“Vocês vão me dar cobertura aí?”, insistiu Ana Priscila.
Em seguida, o segundo homem com comunicador se aproximou.
Ele vestia uma camiseta preta e, por cima, uma camisa com estampa militar, além de boné preto.
“Ana Priscila Azevedo, tá pedindo um apoio pra gente”, explicou o primeiro homem.
“Bora, encosta ali”, disse o segundo.
Homens trocaram de roupa antes de ataques Em seguida, os dois homens foram gravados em diversos vídeos com Ana Priscila.
Chama a atenção que, após o início dos ataques aos três Poderes, eles deixaram de usar os comunicadores e trocaram de roupa.
O de camiseta preta passou a usar uma blusa cinza. O
de camisa camuflada tirou a peça e também trocou o boné preto por um verde. Ainda antes do início das invasões, o grupo passou em frente ao estacionamento do Ministério da Justiça, onde a Força Nacional estava posicionada.
O local fica a poucos metros do bloqueio da Polícia Militar que impedia o acesso ao Congresso Nacional e à Praça dos Três Poderes.
“Olha a Força Nacional do Flávio Dino, não tá fazendo nada!”, gritou Ana Priscila.
Nesse momento, o homem de boné verde abordou uma pessoa que passava com uma mala de rodinha. Ana Priscila é alertada:
“Calma, tá revistando a mala do cara ali”.
Já após a tomada do Congresso pelos golpistas, o grupo subiu a rampa junto e comemorou. Missão dada, missão cumprida.”
Ana Priscila e grupo formado pelos homens que usavam comunicadores A suspeita de liderar os ataques também gravou vídeo entrando no Planalto invadido.
Em seguida, ela e os dois homens participaram da invasão do STF. Em um vídeo, é possível ver os dois homens derrubando grades de contenção do lado de fora do Supremo.
Já no interior do prédio, outro vídeo mostra os três em uma sala muito depredada. Os dois homens jogam objetos no chão.