José Dirceu também volta por cima
O ex-ministro José Dirceu, 76, foi reverenciado como “comandante” por parlamentares, familiares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e auxiliares do petista nas celebrações da posse presidencial, no início do mês, embora permaneça longe dos holofotes neste início de governo.
Seu filho e herdeiro político, porém, o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR), foi alçado ao posto de líder do partido na Câmara na primeira semana da nova gestão.
Um dos fundadores do PT, Dirceu foi um dos mais festejados durante a noite de Réveillon oferecida pelo criminalista Antônio Carlos de Almeida de Castro, conhecido como Kakay, no dia 31 de dezembro.
Em uma comemoração que reuniu integrantes da equipe do terceiro governo Lula, inclusive ministros, Dirceu posou para fotos com convidados e expôs sua opinião sobre o cenário político.
Ao discursar minutos antes da virada do ano, o anfitrião descreveu Dirceu como o maior político da história do Brasil. Lula foi retratado como uma pessoa diferenciada no mundo. Kakay foi efusivamente aplaudido.
Primogênita de Lula, Lurian Cordeiro Lula da Silva relatou a Dirceu na festa uma cena do voo em que viajou de Salvador a Brasília.
Em um avião repleto de petistas, um solitário bolsonarista tentou provocá-los, afirmando, aos gritos, que Dirceu voltaria.
“Respondi: ‘Oba! Volta mesmo, comandante’’’, contou-lhe Lurian, entre gargalhadas.
Lurian esteve com Dirceu após passar a virada do ano ao lado do pai e outros familiares de Lula, em um hotel na zona central de Brasília.
Mesmo cercado de elogios, Dirceu passou a noite do Ano-Novo repetindo que não retornaria ao front político. Ele prometeu ficar na retaguarda.
“Tenho 40 anos de condenação”, justificava, em alusão aos dois processos em curso no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
A submersão de Dirceu é parte da sua estratégia de defesa, mas também agrada a Lula. O processo do mensalão —até hoje uma marca que gera desgaste para o petista— teve em Dirceu um dos seus principais símbolos.
O ex-ministro não foi convidado para as cerimônias da posse de Lula. Segundo amigos, também não fez questão de ir.
No dia 1º de janeiro, caminhou pela Esplanada e posou para selfies ao lado de militantes de esquerda.
Dois dias antes, o ex-ministro foi o anfitrião de um almoço que reuniu parlamentares, ministros e dirigentes de estatais, além de filhos de Lula. Os convidados foram desencorajados a tirar fotos.
Ao longo da corrida presidencial, Dirceu se dedicou a uma articulação paralela à campanha oficial de Lula. Ele teve reuniões com políticos de diferentes matizes ideológicas para pregar unidade suprapartidária contra a reeleição do então presidente Jair Bolsonaro (PL).
A lista de interlocutores incluiu velhos adversários do PT, como o ex-senador e ex-presidente do extinto PFL Jorge Bornhausen (SC); e o ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), de quem é amigo.
Ainda em janeiro de 2022, Dirceu disse ao então governador e hoje ministro Renan Filho (MDB) que, para vencer Bolsonaro, Lula precisaria ser mais amplo do que o PT e acenar com a ideia de um “governo sem rancor”.
Numa mesma viagem ao Paraná, ele esteve com adversários como o governador Ratinho Junior (PSD).
Em suas andanças, Dirceu frisava não ter delegação de Lula para conversas políticas. Mas, segundo aliados, ele e Lula trocam impressões sobre a conjuntura política, em alguns casos por intermédio de emissários.
No último dia 5, seu filho Zeca foi escolhido para a liderança partidária em uma articulação da corrente interna CNB (Construindo um Novo Brasil), ala majoritária dentro do PT. O deputado federal foi reeleito para seu quarto mandato na Câmara dos Deputados.
Homem forte do primeiro governo Lula, Dirceu deixou a chefia da Casa Civil em 2005 após denúncia de envolvimento no mensalão.
Em 2012, foi condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a mais de sete anos de prisão, pena que foi extinta em 2015. Ele ficou um ano na cadeia.
Em agosto de 2015, foi preso preventivamente por determinação do então juiz Sergio Moro, hoje senador eleito pela União Brasil-PR.
Em 2016, Moro condenou Dirceu pela primeira vez, a 20 anos e 10 meses de prisão. Em 2017, o então juiz sentenciou o petista pela segunda vez. Pena: 11 anos e três meses de prisão.
Dois meses depois, o STF concedeu habeas corpus permitindo que ele aguardasse o julgamento dos recursos em liberdade. Em maio de 2018, teve recurso negado e foi preso novamente. Em junho daquele ano, o STF voltou a conceder habeas corpus para que Dirceu aguardasse o julgamento em liberdade.
Em maio de 2019, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidiu que o petista cumprisse pena de oito anos e dez meses pelo caso de corrupção envolvendo a Petrobras, no âmbito da Lava Jato. Ele foi solto em novembro daquele mesmo ano e aguarda em liberdade o julgamento de recursos.