Bolsonaristas trocam impeachment de Moraes por ataques a Lula

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Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo

À medida que as ameaças de golpes vão diminuindo e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, se consolidando, os bolsonaristas estão abandonando paulatinamente uma de suas principais bandeiras: o impeachment do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

Estrategistas, militantes e até parlamentares ligados ao bolsonarismo disseram à equipe da coluna que não estão mais preocupados com esse tema e que passarão a se concentrar na fiscalização do governo Lula e fazer uma “oposição responsável”.

Há uma série de motivos por trás da mudança de rota. O primeiro deles é o receio de parlamentares de “retaliação” por parte do magistrado, relator de inquéritos que atormentam o clã Bolsonaro e seus aliados: o das fake news, o das milícias digitais e o dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro.

Com o fim do governo Bolsonaro e o fracasso dos atos golpistas de 8 de janeiro, os aliados do ex-presidente se sentem mais vulneráveis a investigações de Moraes.

Temem, ainda, que o governo Lula lance mão de algum “pacote de maldades” , levantando de sigilos de informações incômodas, ou mesmo que Bolsonaro seja preso em algum momento no futuro – o que é considerado improvável, mas não impossível.

Além disso, os aliados do ex-presidente na Câmara e no Senado estão ressentidos com a postura de Bolsonaro de viajar para os Estados Unidos, após a derrota para Lula nas urnas.

A sensação de alguns integrantes do PL é a de que foram abandonados e deixados à deriva pelo líder – e, portanto, não valeria a pena seguir comprando uma briga capitaneada por ele ao longo do seu mandato.

Moraes se tornou alvo de 11 pedidos de impeachment no Senado – um deles foi apresentado pelo próprio Bolsonaro, em agosto de 2021.

À época, Bolsonaro contestou a atuação de Moraes na relatoria do inquérito das fake news, que já vinha fechando o cerco contra o então chefe do Executivo.

Bolsonaro acusou o ministro de atuar com “viés antidemocrático e partidário, sendo, ao mesmo tempo, investigador, acusador e julgador”, mas o pedido de impeachment foi arquivado sumariamente pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Há, ainda, um outro fator bem pragmático para a recém assumida cautela em relação ao ministro que até outro dia os bolsonaristas chamavam pejorativamente de Xandão.

Só neste ano, Lula vai ter direito a indicar dois novos ministros para o Supremo, para as vagas que serão abertas com as aposentadorias compulsórias de Ricardo Lewandowski e Rosa Weber, que completam 75 anos em maio e outubro, respectivamente.

Se Moraes for cassado pelo Senado, o petista ganharia uma terceira cadeira para compor a Corte, o que ampliaria sua rede de influência sobre o tribunal.

“Qualquer ministro do STF que cair agora vai ser ruim, porque trocaria alguém que a gente já conhece por um nome escolhido de forma maquiavélica pelo Lula”, resume a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) – ela própria alvo de investigações na Corte, como o inquérito das fake news e a investigação recém-aberta por Gilmar Mendes, que apura o episódio em que a parlamentar saiu armada nas ruas de São Paulo na véspera do segundo turno.

É uma justificativa insuficiente, uma vez que hoje o Supremo já tem maioria de votos contra manifestações e atos golpistas promovidos pelo bolsonarismo. Tanto que já prendeu e condenou o ex-deputado Daniel Silveira e manteve a cassação do bolsonarista Fernando Francischini por tumultuar o processo eleitoral ao atacar as urnas eletrônicas.

A mudança de postura, porém, mostra que os bolsonaristas do Congresso podem até ser radicais, mas ainda não perderam completamente o instinto de sobrevivência política.

O Globo