Direita segue goleando esquerda nas redes
Entre parlamentares, nomes do PL tiveram cinco vezes mais interações no Facebook que petistas ao rebater falas de Lula
As recentes críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Banco Central e ao seu presidente, Roberto Campos Neto, tiveram mais impacto no Facebook ao serem exploradas pela oposição que pelos governistas. Um levantamento feito pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV (ECMI) aponta que perfis de deputados e senadores do PL, legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro, tiveram cinco vezes mais curtidas, comentários e compartilhamentos em seus perfis que parlamentares do PT que trataram do tema.
Ao todo, deputados e senadores do PL fizeram 31 postagens entre 2 e 10 de fevereiro e somaram, juntos, quase cem mil interações. No mesmo período, petistas fizeram 30 publicações, mas atingiram apenas 19 mil curtidas, comentários e compartilhamentos na rede social. Os deputados do PT tiveram menos interações que os do Novo (46,4 mil), também críticos às falas de Lula, e do PSOL (32,1 mil), que apoiaram o atual presidente. As duas legendas contam com poucos representantes no Congresso, respectivamente três e 14 deputados, considerando a federação do PSOL com a Rede.
A oposição liderou ainda o ranking formulado pela ECMI/FGV entre os 66 deputados e senadores que abordaram o tema, mas há nomes aliados a Lula na lista. Se consideradas as interações, os deputados federais Marcel Van Hattem (Novo-RS) e Bia Kicis (PL-DF) ficaram nas primeiras posições, seguidos por Guilherme Boulos (PSOL-SP), Carla Zambelli (PL-SP), que recuperou recentemente suas redes, Filipe Barros (PL-PR) e Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Professor da ECMI/FGV, Victor Piaia vê uma reprodução na nova legislatura de um padrão semelhante de influência digital visto na composição anterior do Congresso:
— Os aliados ao Bolsonaro, em geral, têm desempenho e alcance grande, porque têm um público ativo e participativo. Nesse caso, o PT tem um número de publicações semelhante, mas o engajamento do PL é incomparável. Mas é interessante notar que esta é uma pauta do governo Lula. Ainda que perca em volume, quem está pautando o debate é a esquerda. Até então tínhamos um debate em que Bolsonaro era a figurava que pautava — avalia Piaia.
Base não embarca
Os dados mostram baixa participação de lideranças de siglas mais ao centro, inclusive MDB e União Brasil, que compõem o Ministério de Lula, o que pode indicar falta de alinhamento desse grupo com essa agenda. Entre os nomes do PSD no Congresso, por exemplo, não houve referência ao embate sobre o Banco Central.
— Esses partidos devem estar fazendo seus cálculos sobre entrar ou não, ainda que criticamente, no debate — acrescenta Victor Piaia.
Entre os deputados do União Brasil que abordaram o assunto, estão David Soares (SP), José Rocha (BA) e Rodrigo Valadares (SE). Todos defenderam a autonomia da instituição. Em uma das suas postagens, Rodrigo Valadares chegou a descrever Lula como “inimigo da economia”. O deputado Emanuel Pinheiro Neto (MT) foi o único representante do MDB, legenda da ministra Simone Tebet (Planejamento), na lista. Ele reproduziu um trecho de um discurso em plenário em que defende questionar os altos juros, mas pondera que isso não significa acabar com a autonomia do BC.