EUA passam a financiar preservação da Amazônia

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Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

O comunicado conjunto da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Washington, a ser divulgado no fim da tarde desta sexta-feira, fará menção a uma contribuição do governo americano ao Fundo Amazônia, uma condenação ao “extremismo” e à “violência” na política e um compromisso mútuo em defesa da democracia. Na diplomacia, os comunicados dão o passo e o compasso das relações.

Este pode marcar o início do período de maior entendimento entre Brasil e Estados Unidos em décadas. A contribuição, cujos valores não deverão ser especificados, seria a primeira do governo americano.

O fundo, criado em 2008, no segundo governo Lula, tem como doadores internacionais os governos da Noruega e da Alemanha. Suspensas ao longo do governo Jair Bolsonaro, as doações dos dois países europeus deverão ser retomadas.

A Alemanha já anunciou um aporte de R$ 200 milhões e a Noruega confirmou a disposição de voltar a contribuir. Juntos, os dois países já doaram R$ 3,4 bilhões ao fundo, sendo 98% de aportes noruegueses.

A menção ao Fundo Amazônia no comunicado surpreendeu o governo brasileiro uma vez que não foi negociado no escopo de uma visita programada para marcar o alinhamento dos dois países no enfrentamento da extrema-direita que ameaçou tanto as instituições democráticas americanas, em 6 de janeiro de 2021, quanto o Brasil no último 8 de janeiro.

No discurso sobre o “Estado da União”, tradicionalmente enviado pelos presidentes americanos ao Congresso no início do ano, Biden mencionou a “big lie” (grande mentira), numa referência à guerra da desinformação patrocinada pela extrema-direita.

No comunicado de hoje à tarde, Biden e Lula condenarão o “extremismo” e a “violência”, segundo fontes diplomáticas. Ainda é aguardada uma menção ao conflito da Ucrânia, muito embora a palavra “paz” não esteja incluída.

Lula chegou a condenar a Rússia pela invasão durante a visita do chanceler alemão Olaf Scholz a Brasília no mês passado.

O Brasil, moveu-se da neutralidade, que marcou sua posição ao longo do primeiro ano da guerra, e agora defende a criação de um “grupo da paz” para mediar o conflito.

A ideia, porém, não tem acolhida pelo governo americano e ficará fora do comunicado. Serve, porém, de anteparo à pressão por envio de munições já rejeitado pelo governo brasileiro.

O tema, porém, não deve turvar um encontro marcado, sobretudo, pela convergência em torno da proteção da democracia.

Reiteradas comitivas americanas estiveram no Brasil ao longo da eleição com o propósito de deixar claro a confiança americana nas instituições democráticas brasileiras.

A mais importante delas foi liderada pelo secretário de Defesa dos EUA, Lloyd J. Austin, cargo equivalente ao de ministro da Defesa, que vaticinou, em discurso público, a necessidade de as Forças Armadas em todo o continente se subordinarem ao poder civil e democrático.

Este apoio torna ainda mais obrigatória a presença do Brasil no próximo encontro da cúpula das Americas no fim de março.

O embaixador chinês no Brasil, Zhu Qingqiao, chegou a mencionar o encontro em audiência na secretaria-geral do Itamaraty, em 16 de janeiro.

Ante a determinação da diplomacia brasileira de comparecer à cúpula, o embaixador chinês expressou a expectativa de que o Brasil não viesse a se somar a declarações anti-China.

Ouviu, então, a reiteração da soberania na adesão a iniciativas que convirjam com os valores da diplomacia brasileira e que o país se soma a declarações a favor.

Lula deve ir à China ainda em março.

Valor