Lula volta dos EUA como liderança global

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Foto: Jonathan Ernst/Reuters

Além da agenda bilateral, presidente reavivou a ideia de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU e se colocou como articulador e líder em várias frentes

Se há duas palavras para definir a política externa que o presidente Lula executou no primeiro e no segundo mandatos e tenta reproduzir agora, elas são audácia e pretensão. Exatamente por isso, Lula usou o primeiro encontro com o presidente Joe Biden, em Washington, como trampolim para mergulhar nos grandes temas globais e tentar resgatar o protagonismo internacional não apenas do Brasil, mas dele próprio.

Muito além da agenda bilateral, Lula reavivou a ideia de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU para o Brasil e se colocou como articulador e líder em várias frentes: defesa da democracia; fundos internacionais não só para a nossa Amazônia, mas para países de grande biodiversidade e sem recursos; reocupação de espaço na África em contraposição ao avanço da China; criação de um grupo de países “não envolvidos” para um cessar-fogo e a construção da paz entre Rússia e Ucrânia. Não são pautas bilaterais, são pautas globais.

Quem estava ali, com o presidente da maior potência mundial, não era só o presidente do Brasil em defesa de investimentos e de interesses estritamente brasileiros. Assim como ele foi à Argentina e ao Uruguai para recuperar a liderança do País e dele na região, seu objetivo nos EUA foi lutar por um lugar ao sol entre os grandes do mundo.

A audácia e a pretensão repetem-se nas conversas com França, Alemanha, China e a própria Rússia e vêm desde o Lula 1 e 2, com Brics, penetração na África e a articulação com a Turquia de uma saída para o programa nuclear do Irã, derrotada na ONU. De volta, esse Brasil e esse Lula têm a simpatia da vizinhança, da Europa e dos EUA de Biden, aliviados com o fim de Jair Bolsonaro, não só pelo que representou internamente no Brasil, mas pelo esgarçamento das relações externas e seu papel na extrema direita internacional.

Ao admitir fraude nas eleições americanas e resistir à derrota de Trump, Bolsonaro empurrou Biden para Lula. Já em 2022, os EUA condenaram a reunião do então presidente com dezenas de embaixadores contra as urnas eletrônicas e se comprometeram a reconhecer o quanto antes o resultado das eleições. Assim foi. Biden soltou nota no mesmo dia da vitória de Lula, ligou para ele em menos de 24 horas e o convidou a ir aos EUA. E solidarizou-se com Lula e o Brasil após o 8/1.

Assim, Biden é peça fundamental para jogar holofotes no Brasil e no próprio Lula, que tem ambição, biografia vibrante, a marca do combate à fome e a credencial de ser o principal líder da América do Sul. O céu é o limite. Resta saber se o sonho condiz com a realidade.

 

Estadão