País gasta dinheiro do social para consertar destruição golpista

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Foto: Rosinei Coutinho/STF e Míriam Leitão

Um mês após os atos terroristas que depredaram as sedes dos três Poderes em Brasília, parte dos prédios e dos acervos já foi recuperada. O prejuízo, no entanto, foi milionário, e algumas obras de arte destruídas por golpistas têm valor inestimável. Equipes de restauração do Supremo Tribunal Federal (STF), da Câmara dos Deputados e do Senado Federal trabalharam nas últimas semanas para restabelecer parte da normalidade nas Casas e na Corte a tempo do retorno às atividades do Legislativo e do Judiciário em 1º de fevereiro.

De acordo com Maria Cristina Monteiro, coordenadora do Museu do Senado, ainda não é possível definir quando acontecerão a restauração e a entrega de todas as obras danificadas. O processo é longo e custoso, como ela ressaltou em entrevista ao GLOBO. No dia seguinte à invasão, a diretora geral do Senado, Ilana Trombka, informou que a recuperação da estrutura da Casa, da mobília e de obras de arte depredadas custariam em torno de R$ 3 a R$ 4 milhões.

Um relatório preliminar divulgado pela Câmara dos Deputados no dia 10 de janeiro mostrou que o custo da reparação dos danos causados pelos terroristas ultrapassava R$ 3 milhões, considerando equipamentos como computadores, vidros, veículos e outros itens de mobiliário. Segundo a Casa Legislativa, 400 computadores foram destruídos no ataque. O prejuízo resultante da destruição e da subtração das obras de arte ainda não havia sido estimado, assim como os custos com mão de obra e material necessários para a limpeza dos ambientes, além de reparos da rede elétrica da plataforma superior do Palácio do Congresso.

Na sede do Poder Executivo, vândalos destruíram um acervo milionário. A obra “As mulatas”, de Di Cavalcanti — principal peça do Salão Nobre do Palácio do Planalto — foi encontrada com sete rasgos, de diferentes tamanhos. Seu valor está estimado em R$ 8 milhões, mas peças desta magnitude costumam alcançar valores até cinco vezes maior em leilões. A mesa de trabalho de Juscelino Kubitscheck, exposta no salão, foi usada como barricada pelos golpistas. A galeria dos ex-presidentes foi totalmente destruída, com fotografias retiradas da parede, jogadas ao chão e quebradas.

O relógio de Dom João VI, destruído por um vândalo, é do século XVII e o valor da peça é considerado “fora de padrão”, segundo a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom). Inicialmente, a secretaria divulgou apenas uma lista prévia de obras de arte danificadas por terroristas no Palácio do Planalto, contabilizando mais de R$ 10 milhões. — O valor do que foi destruído é incalculável por conta da história que ele representa — disse o diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho.

Quatro dias após as invasões, a Polícia Federal (PF) encerrou a perícia na sede do Supremo Tribunal Federal (STF) e equipes de manutenção começaram a realizar reparos nas bancadas e cadeiras utilizadas pelos ministros e nas instalações elétricas, além da limpeza de pichações e cacos de vidros.

O palácio da Suprema Corte foi o mais destruído pela ação de golpistas bolsonaristas. Segundo o STF, a restauração em tempo recorde possibilitou que a abertura do ano do Judiciário fosse realizada nesta quarta-feira no plenário da Corte.

A ação dos terroristas no prédio do Supremo gerou um prejuízo de R$ 5,9 milhões aos cofres públicos, além de valor inestimável em termos históricos. Um levantamento feito pela equipe do museu do Supremo ao qual o GLOBO teve acesso, com data de 15 de janeiro, dá conta de 35 peças consideradas na condição de “perda total”, ou seja, com 50% ou mais de dano.

As obras de arte danificadas também começaram a ser restauradas. Algumas, no entanto, não foram totalmente recuperadas e integram um memorial sobre os ataques. O busto de Rui Barbosa, o patrono dos advogados, que fica no prédio da Corte, voltou a ser exibido com um afundamento na cabeça. Ao seu lado, há uma cadeira chamuscada e um quadro com cacos de vidro. Na abertura do ano do Judiciário, a ministra Rosa Weber afirmou que esse cenário exibe cicatrizes do “ataque golpista e ignóbil”.

O Globo