PL dá a Michelle missão de incentivar candidaturas femininas
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro começa a dar expediente na sede do PL em Brasília depois do Carnaval com uma missão bem específica: ajudar a aumentar a quantidade de mulheres candidatas.
De acordo com a legislação eleitoral vigente, os votos de mulheres nas eleições gerais contam em dobro na distribuição de recursos do fundo eleitoral e também do tempo de televisão e rádio entre os partidos.
Só que os números da última eleição acenderam um alerta no PL. Um levantamento interno apontou uma vantagem de 270 mil votos do PT em relação ao partido de Bolsonaro entre candidatas mulheres à Câmara.
Segundo os números em mãos do presidente do partido, Valdemar Costa Neto, as mulheres do PL receberam 3,538 milhões de votos em 2022, contra 3,809 milhões das candidatas petistas
Em alguns estados a diferença foi gritante. No Pará, por exemplo, as mulheres do PT tiveram 238 mil votos, enquanto as do PL só receberam 27 mil.
Por causa dessa diferença, o PL pode até receber menos recursos do fundo eleitoral do que o PT em 2026.
Como o cálculo do fundo é sempre feito em relação ao desempenho dos partidos no pleito anterior – no caso de 2022, sobre as bancadas eleitas em 2018 – o PT já recebeu mais do que o PL nesta eleição. Foram R$ 503,4 milhões para o partido de Lula contra R$ 288,5 milhões ao PL.
O maior valor, R$ 770 milhões, foi destinado ao União Brasil, que ficou com o espólio do PSL, partido pelo qual Bolsonaro disputou a presidência em 2018. O mesmo ocorre com o fundo partidário, que também leva em conta o tamanho das bancadas, mas é distribuído ano a ano.
Tal desvantagem, somada à rejeição de Jair Bolsonaro entre as mulheres nas eleições presidenciais, fez com que o presidente do PL elegesse a conquista do público feminino entre as prioridades do partido.
Valdemar acha que Michelle pode ajudá-lo a fomentar candidaturas femininas em 2026, com vistas a garantir a sobrevivência do partido mesmo estando fora do governo.
O que preocupa o presidente do PL é não saber se terá candidato competitivo à presidência contra o partido de Lula, que ainda por cima estará no governo e talvez disputando a reeleição.
A ideia é que a ex-primeira-dama ajude a montar diretórios femininos já para as eleições municipais de 2024, priorizando as capitais – atualmente, o partido só controla uma capital, Maceió (AL), cujo prefeito não foi eleito pelo PL.
Com uma base expressiva de candidatas eleitas em 2024, o PL teria mais chances de consolidar uma estratégia feminina para 2026 – quando o fundo eleitoral deverá ultrapassar a casa do bilhão.
Os valores ainda não foram definidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Além disso, a perspectiva de perder recursos reduz o poder de atração de Valdemar naquilo que mais importa aos caciques políticos, o tamanho da bancada, e no momento em que o partido está na oposição.
Essa é uma das razões pelas quais o cacique do PL ainda não desistiu de ter Michelle candidata. A questão, porém, vem sendo tratada com muito cuidado no partido.
Após Valdemar tornar públicos os planos de lançar a ex-primeira-dama em 2026 em entrevista ao GLOBO, no fim de janeiro, Jair Bolsonaro determinou que Michelle negasse – o que ela fez em um post nas redes sociais na última segunda-feira.
“Oposição, fiquem tranquilos (sic). Eu não tenho nenhuma intenção de vir candidata a um cargo eletivo”, escreveu a esposa de Bolsonaro em um story no Instagram.
Na última quinta-feira, o filho 01 do ex-presidente, Flávio Bolsonaro (PL-RJ), disse à colunista Bela Megale que ainda é “cedo” para discutir uma candidatura de Michelle. O senador ressaltou ainda não saber se a esposa do pai “tem vontade” de se lançar na arena política.
Mas, no entorno de Valdemar, a avaliação é de que ela se tornou um ativo eleitoral indispensável, especialmente com a iminente declaração de inelegibilidade de Jair Bolsonaro pelo TSE e, embora menos provável, o risco de prisão do ex-presidente pelo fomento a atos golpistas.