Presidente da Câmara petista venceu com todos os votos em 2003
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Há quatro anos, tudo era diferente no Senado. Davi Alcolumbre (DEM) era o candidato da mudança, apadrinhado pelo então ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro (PL), Onyx Lorenzoni, e apoiado por independentes que não queriam o retorno da “velha política” representada por Renan Calheiros (MDB).
Aquela foi uma eleição estranha: teve ocupação da Mesa, roubo de pasta, decisão de voto aberto derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sessão no sábado e uma suposta tentativa de fraude, quando foram registrados 82 votos – um a mais que o total de 81 senadores. O caso ficou por cinco meses sendo investigado pela Corregedoria do Senado e foi arquivado como inconclusivo.
“Para a independência dos Poderes e autonomia parlamentar, nós não precisamos de mais do mesmo. Precisamos restabelecer a nossa fé e a nossa confiança nos poderes constituídos”. A fala, feita por Alcolumbre logo após a vitória em 2019, é basicamente a mesma repetida agora por Rogério Marinho (PL-RN), o candidato bolsonarista da vez, para fazer frente a Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A diferença é que Pacheco é agora o candidato do governo, apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula (PT) e por Renan Calheiros. E também por Alcolumbre, agora visto como o “mais do mesmo” e cujo protagonismo nas negociações tem trazido problemas para Pacheco.
Naquela disputa, Alvaro Dias (Podemos-PR), Major Olímpio (PSL-SP), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Simone Tebet (MDB-MS) deixaram o processo eleitoral em favor de Alcolumbre. Nenhum deles estará no Senado agora: Dias não foi reeleito, Tasso aposentou-se, Olímpio faleceu em 2021, vítima da covid-19. Tebet disputou a Presidência em 2022, declarou voto em Lula no segundo turno e agora é ministra do Planejamento.
Já na Câmara, o cenário é parecido com o de quatro anos atrás, quando o então presidente Rodrigo Maia (hoje no PSDB-RJ) disputou a reeleição estando no cargo e contou com apoio do governo Bolsonaro. Na ocasião, porém, a oposição teve duas candidaturas, do deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ) e de JHC (PSB-AL). Maia costurou acordo com parte do PT e da esquerda, esvaziou ambos e foi eleito no primeiro turno com 334 votos.
Lira agora terá apoio do governo e da oposição e enfrentará dois adversários com chances quase nulas de vitória na busca por obter a maior votação desde a redemocratização. O arco de alianças é uma demonstração de força, mas não é inédito e a Câmara já teve duas eleições com candidato único desde a volta da democracia.
Em 1999, Michel Temer (MDB) estava na mesma situação: presidente da Casa, apoio do governo e oposição, ampla aliança. Ele mudou o entendimento para permitir a própria reeleição, com o argumento de que havia mudança na legislatura, e não teve adversários. Mas 66 deputados votaram em branco, quatro anularam e ele obteve 422 votos.
O maior placar até hoje foi atingido também numa eleição com candidato único: Ibsen Pinheiro (MBD-RS) foi eleito em 1991 com 434 votos, quando a Câmara tinha ainda 503 deputados. João Paulo Cunha (PT-SP) atingiu os mesmo 434 votos no primeiro turno, mas em 2003 a Câmara já tinha 513 deputados. O recorde não garantiu tranquilidade aos dois. Cunha e Ibsen foram cassados pouco depois de deixarem a presidência.