Tarcísio e prefeito de SP apostam em antipetismo em 2024

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Foto: Ciete Silverio/Governo do Estado de São Paulo

Em busca da reeleição, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), aposta em parcerias com o governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para fortalecer sua pré-candidatura em 2024. Nunes procura o apoio do governador e do PSD, que integra a gestão estadual, para ser o candidato anti-PT da capital paulista.

Com perfil conservador, o prefeito apoiou Tarcísio e o então presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno da eleição de 2022, e negocia a reciprocidade desse respaldo no próximo ano.

O governador ainda não definiu quem apoiará na eleição para a prefeitura da capital, mas estuda uma aliança com Nunes. Afilhado político de Bolsonaro, Tarcísio tem dito que não é um “bolsonarista raiz” e tem se afastado dos apoiadores radicais do ex-presidente.

Na mesma linha, o prefeito evita o vínculo com o bolsonarismo mais radical e busca mostrar-se como crítico do PT. A associação direta à imagem de Bolsonaro na cidade de São Paulo pode trazer prejuízos eleitorais a Nunes.

Na capital, Bolsonaro foi derrotado nos dois turnos da eleição presidencial de 2022, apesar de ter vencido no Estado. No primeiro turno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu 47,54% dos votos válidos e Bolsonaro, 37,99%. No segundo, o petista ganhou por 53,54% a 46,46% do ex-presidente.

O candidato de Bolsonaro ao governo estadual, o governador Tarcísio, também foi derrotado na cidade pelo PT. O ex-prefeito petista Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda, ganhou no primeiro turno por 44,38% a 32,56%. No segundo turno, Haddad venceu por 54,41% a 45,49% de Tarcísio.

Em agendas recentes, Nunes tem reforçado a bandeira antipetista e criticado a gestão de Haddad (2013 e 2016). Essa foi a tônica do discurso do prefeito, por exemplo, ao inaugurar unidades habitacionais na comunidade de Heliópolis, na capital, junto com Tarcísio, no fim de janeiro.

Com cargos tanto no governo Lula como na gestão Tarcísio, o PSD de Gilberto Kassab tem puxado politicamente o governador para a centro-direita e avalia de forma positiva um possível acordo com Nunes. No governo paulista, o PSD tem cargos estratégicos, como a vice, com Felício Ramuth, e a Secretaria de Governo, com Kassab. O partido articula-se para expandir sua influência sobre o espólio deixado pelo PSDB no Estado e aumentar o número de prefeitos em 2024. Na capital, no entanto, ainda não há um nome forte para a disputa municipal e a tendência é apoiar a reeleição de Nunes, segundo o vice-governador.

“Temos visto um esforço grande do prefeito Ricardo Nunes em oferecer melhores serviços para a população de São Paulo”, afirma Felício Ramuth. “Não existe nada consolidado em relação ao futuro da cidade de São Paulo, mas é natural que o prefeito Ricardo Nunes, inclusive com a gestão que tem feito, vá se destacando cada vez mais e seja um candidato muito competitivo nas próximas eleições. Mas é construção que se dará nos próximos meses”, diz o vice, ao Valor.

Na avaliação de Ramuth, Ricardo Nunes é “moderado” e, neste momento, o governo paulista deve “ajudar e fortalecer o prefeito a entregar melhores serviços para a cidade de São Paulo”. “A eleição fica para um segundo momento”, diz.

O prefeito deve ajustar o discurso antipetista para abranger críticas à esquerda. Em 2024, o PT caminha para não ter um candidato próprio em São Paulo. O presidente Lula lançou a candidatura do deputado federal Guilherme Boulos (Psol) ainda na pré-campanha presidencial, em março de 2022.

Na eleição municipal passada, Boulos tentou ter apoio do PT, mas os petistas lançaram um nome próprio, o de Jilmar Tatto, que ficou em sexto lugar. Boulos, no entanto, foi para o segundo turno e foi derrotado pelo prefeito e candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB). Covas morreu em maio de 2021 e o vice na chapa tucana, Ricardo Nunes, assumiu.

Há divergências dentro do PT e dirigentes ainda buscam um nome do partido para 2024. Como argumento, justificam que a sigla teve bom desempenho na eleição de 2022, com a vitória de Lula e de Haddad na capital, e que é preciso manter esse espólio. Boulos, no entanto, cobra o apoio de Lula e do PT e diz que será candidato pelo Psol. O deputado, líder do Psol na Câmara, já está em pré-campanha.

De olho nas eleições, o atual prefeito terá um orçamento recorde neste ano, de R$ 95,8 bilhões, mas tem patinado na execução orçamentária e em problemas em áreas como saúde, educação, transportes e assistência social.

Apesar de recursos bilionários em caixa, a capital tem um recorde de pessoas em situação de rua, com ao menos 48,3 mil pessoas, segundo estudo feito pela UFMG. Faltam remédios e insumos como fralda geriátrica em postos de saúde, há fila para cirurgias eletivas e exames, moradores da periferia sofrem com ruas alagadas com as chuvas e há problemas na zeladoria da cidade, como ruas esburacadas e lixo acumulado nas calçadas, entre outros problemas. A prefeitura anunciou ações conjuntas com o governo paulista para combater a cracolândia, mas não há prazos nem metas.

Ainda sem marcas fortes na gestão, o prefeito anunciou estudos sobre a proposta de passe livre nos ônibus. A medida, no entanto, não encontra respaldo no governo estadual, para uma eventual expansão para o metrô e os trens da CPTM, o que tende a dificultar a adoção na cidade.

O vice-governador de São Paulo diz que a tarifa zero “não é um tema que o governo pensa” ou que está se dedicando. “Nem está em questão”, diz Felício Ramuth. Ex-prefeito de São José dos Campos e ex-secretário municipal de Transportes, Ramuth diz que os estudos da prefeitura para o passe livre “devem apontar a inviabilidade” da medida em São Paulo. “Vemos geralmente em cidades menores”, diz. “Acredito que o estudo vai apontar para a inviabilidade disso”, diz Ramuth.

O prefeito rebate as críticas sobre a execução orçamentária e problemas da gestão, e afirma ter um “plano muito robusto para desenvolver a cidade” para além de 2024. “Seria fundamental que a gente pudesse dar continuidade a esse processo, a esse desenvolvimento da cidade, especialmente nas áreas de drenagem, de habitação, da saúde, educação”, diz. Segundo Nunes, essas áreas foram “prejudicadas” em gestões anteriores “por falta de ações mais contundentes e mais ousadas”.

Ao fazer um balanço da gestão e apresentar promessas, Nunes destaca a expansão das vagas em creches, cita a ampla vacinação contra covid-19, menciona o fim da dívida da cidade com a União e diz fará uma entrega “recorde” de unidades habitacionais. Até 2024, estão previstas 49 mil moradias.

Nunes diz ter boa relação com o governador e afirma que Tarcísio participou da negociação da dívida da prefeitura em troca do Campo de Marte, quando o atual governador era ministro da Infraestrutura do governo Jair Bolsonaro. “Ele foi muito solícito, muito técnico, muito efetivo. Depois, como governador, a relação tem sido excepcional, ótima”, diz.

Valor Econômico