Apoiadores de Lula passam pano para Bolsonaro
Bolsonaristas invadem o Palácio do Planalto. Foto: Cristiano Mariz
Para 51% dos brasileiros, o ex-presidente Jair Bolsonaro não é culpado pela destruição da sede dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro, segundo a mais recente pesquisa Ipec. Pouco mais de dois meses depois dos atos golpistas, 22% dizem que Bolsonaro deve ser julgado e perder o direito de disputar as próximas eleições. E cerca de um em cada cinco (19%) defende que o ex-presidente seja preso pelos ataques promovidos por seus apoiadores.
Autor de um ataque grave à democracia a cada 23 dias, como mostrou o GLOBO, Bolsonaro é investigado por incitar os atos terroristas de 8 de janeiro. Ao longo dos quatro anos de mandato, o ex-presidente colocou em xeque a lisura das eleições, desferiu ataques contra o Judiciário e o Legislativo e sugeriu uma ruptura institucional no país.
No dia da invasão ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro já estava nos Estados Unidos e demorou a repudiar as depredações, que comparou a atos praticados “pela esquerda”. Assim como seus apoiadores, ele tem defendido a tese de que infiltrados participaram dos ataques, o que até hoje não foi comprovado.
O segmento que mais isenta Bolsonaro da responsabilidade pelos atos são os evangélicos: 66% não acreditam na culpa do ex-presidente. No entanto, para 28%, o antecessor de Lula deve, sim, ser julgado para ser preso ou ficar inelegível, mostra a pesquisa do instituto fundado por ex-executivos do Ibope. Esse percentual é 26 pontos maior entre os moradores da região Nordeste do país, segmento que mais acredita na implicação de Bolsonaro.
O Ipec mostra ainda que há uma correlação entre a avaliação de governo de Lula e a imputação ao ex-presidente da República. Entre os brasileiros que consideram a atual gestão ruim ou péssima, nove em cada dez (91%) dizem que Bolsonaro não teve relação com os atos. É residual (4%) a fração desse grupo que defende qualquer tipo de punição ao ex-mandatário. Há, porém, uma parcela significativa (18%) da população que avalia o governo Lula como ótimo e bom e isenta Bolsonaro.
Pesquisa qualitativa conduzida no mês passado pelo Instituto Travessia, em parceria com O GLOBO, já havia mostrado que, apesar de criticarem a destruição, bolsonaristas não radicais isentam o ex-presidente do quebra-quebra e acreditam, entre muitas notícias falsas, na versão de que infiltrados “petistas” estiveram envolvidos nos atos de 8 de janeiro.
A pesquisa do Ipec foi a campo no período de 2 a 6 de março e realizou entrevistas presenciais com 2 mil pessoas de 16 anos ou mais em 128 municípios do país. A margem de erro é estimada em dois pontos percentuais para mais ou para menos, mas varia quando são analisados recortes menores do universo total pesquisado.