Deputados bolsonaristas pedem cargos a Lula

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Foto: Reprodução

Deputados que apoiaram o ex-presidente Jair Bolsonaro na eleição do ano passado têm feito gestos de aproximação com o Palácio do Planalto e trabalhado para ocupar cargos da máquina federal em seus estados. As investidas ocorrem no momento em que o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, negocia com as bancadas estaduais do Congresso a partilha de postos regionais, em troca de apoio ao governo.

De acordo com personagens que têm participado das conversas, há bolsonaristas “em quase todos os estados” dispostos a manter ou ampliar o controle sobre assentos federais. As tratativas são feitas com os coordenadores das bancadas de cada estado.

Em Minas Gerais, por exemplo, três deputados que apoiaram Bolsonaro querem o comando da superintendência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). São eles Marcelo Freitas (União), Igor Timo (Podemos) e Samuel Vianna (PL), correligionário do ex-titular do Planalto. O cargo almejado pelo trio hoje é ocupado por Marco Antônio Câmara, nome ligado a Vianna.

Enquanto trabalha para manter o posto sob sua influência, Vianna fez questão de publicar em suas redes sociais fotos ao lado do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Segundo ele, “há pautas que divergem e há pautas que nos convergem”. “O Agro é uma pauta do Brasil”, escreveu o parlamentar.

Na bancada do PL, partido de Bolsonaro, a indicação de nomes ao governo Lula não é debatida abertamente para evitar conflitos com personagens mais ligados ao ex-presidente, como os filhos dele. Reservadamente, porém, quadros do partido confirmam que as negociações estão em curso.

Igor Timo (Podemos-MG), que chegou a elogiar a “transparência” do ex-presidente da República durante a pandemia, tem se aproximado do Planalto desde o início deste ano. Recentemente, ele se tornou vice-líder do governo na Câmara.

O flerte com bolsonaristas gerou uma reação de partidos da base aliada. A bancada mineira de PT, PCdoB e PV se reuniu nesta semana com Padilha para pedir que a Codevasf no estado não seja entregue aos novos aliados.

Desde a transição, petistas tentam conquistar espaços na estatal, muitas vezes, sem sucesso. A presidência do órgão será mantida com um indicado de Elmar Nascimento (BA), líder do União Brasil na Câmara, na tentativa de pacificar a relação com o partido e agradar ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a quem Elmar é ligado.

Entre os integrantes da bancada de Goiás, há pelo menos três deputados que apoiaram Bolsonaro e estão dispostos contribuir com o novo governo em troca de influência. Entusiasta do ex-presidente, Glaustin da Fokus (PSC) articula pela permanência de Volnei de Freitas na Superintendência Regional do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Ele admite que o assunto está sendo discutido, mas diz que o martelo ainda não foi batido. Desde o governo anterior, Fokus participa de eventos públicos para inaugurar obras em Goiás ao lado de Volnei de Freitas.

— O governo está trabalhando com isso, mas ainda não há definição — diz o deputado.

Já Zacharias Calil (União-GO) defende a continuidade de Wirley Castro Vargas na gerência executiva de Goiânia do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Ele admite o pleito, mas afirma que a situação não está definida.

— Ele (Vargas) é um profissional de carreira, tem feito um bom trabalho — diz Calil.

Segundo parlamentares da bancada, Magda Mofatto (PL), defensora de pautas bolsonaristas, como o armamento da população, estaria trabalhando para indicar um nome à gerência regional da Agência Nacional de Mineração (ANM). Ao GLOBO, contudo, a deputada negou que tenha interesse nesse posto.

— Não sei onde essa história foi fabricada. Eu nunca tive indicação na ANM — disse.

Questionada se estaria disposta a debater a indicação de cargos ao Executivo, entretanto, ela não rechaçou a hipótese. Disse apenas que isso “não foi conversado”.

Postos de interesse dos bolsonaristas

Superintendência da Codevasf no norte de Minas:

Disputado por Marcelo Freitas (União), Igor Timo (Podemos) e Samuel Vianna (PL).

Superintendência do Dnit em Goiás:

Glaustin da Fokus (PSC) tenta manter Volnei de Freitas no cargo.

Gerência da Agência Nacional de Mineração em Goiás:

Magda Mofatto (PL) estaria trabalhando para indicar nome.

Gerência executiva do INSS em Goiânia:

Zacharias Calil (União-GO) defende a continuidade de Wirley Vargas

O Globo