Escravagistas do Sul condenam programas sociais

Sem categoria

Foto: André Mello

Se não bastassem os agrotrogloditas da Amazônia, com suas queimadas e ocupações, o agronegócio precisa se defender também dos trogloditas do Sul. Há cerca de uma semana, 200 trabalhadores baianos foram resgatados no município gaúcho de Bento Gonçalves. Contratados para a colheita da uva, viviam em condições degradantes. Expostas, as vinícolas Aurora, Salton e Cooperativa Garibaldi lastimaram o ocorrido e atribuíram a malfeitoria a uma prestadora de serviços. Esse é o protocolo seguido por todas as empresas apanhadas em malfeitorias semelhantes.

Como o negócio do vinho é sensível a exposições constrangedoras, a resposta foi rápida, clara e talvez possa se provar sincera. Estava nesse pé a coisa quando o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves resolveu entrar na discussão e saiu-se com o seguinte disparate:

“Há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade.”

O que os doutores quiseram dizer foi o seguinte: programas assistenciais estão drenando o estoque de mão de obra informal, mal paga e, às vezes, aviltada. No século XXI, eles acham que a assistência aos pobres prejudica a economia.

Em vez de oferecer lições de ciência política, os doutores do Centro deviam prestar alguma atenção para a qualidade das relações de trabalho no negócio da uva.

Na metade do século XIX, fazendeiros do Vale do Paraíba achavam um absurdo dar glebas de terras ou pagar salários a imigrantes italianos e alemães. Era isso que se fazia no Rio Grande do Sul. Passou o tempo e hoje há ali um próspero negócio vinícola.

Associá-lo a formas de trabalho aviltantes ou a empresários que satanizam programas assistenciais é colocar nos rótulos dos vinhos gaúchos a marca da estultice de alguns poucos maganos. Para produtores concorrentes, nada melhor.

Nunca tão poucos fizeram tanto mal à indústria vinícola quanto seus agrotrogloditas.

O Globo