Governo aumentará pressão sobre BC bolsonarista após sabotagem na Seleção
A decisão do Banco Central sobre a taxa de juros não foi exatamente uma surpresa para o governo, mas irritou Lula (PT) e seus ministros. Agora, eles devem aumentar a pressão sobre o presidente Roberto Campos Neto.
O que aconteceu?
- O Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu ontem (22) manter a taxa básica de juros, Selic, em 13,75% ao ano. O valor foi fixado nos últimos seis encontros, desde agosto de 2022.
- A decisão contraria um pedido do governo, que tem pressionado pela queda da taxa, dizendo que o valor alto “estrangula a economia”.
- Lula e seus ministros vinham fazendo esforços para que a Selic fosse reduzida e havia uma expectativa de que Campos Neto atendesse ao clamor.
- Agora, o Planalto deve dobrar a aposta e aumentar as críticas.
O anúncio deixou Lula irritado. Logo após a confirmação, ele ligou para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para traçar uma estratégia.
Já havia a expectativa de que Campos Neto pudesse não recuar. Isso porque Haddad não havia saído com uma boa impressão da última reunião com o economista, que foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Pressão vai subir.
Lula não vinha poupando críticas ao BC. Se, antes, parecia que a equipe econômica tinha conseguido contornar a situação, agora o coro vem de todos os lados ligados à Presidência.
“Com o ambiente para aprovação da reforma tributária que nós estamos construindo, com o pacote de melhorias do orçamento público já feito pelo ministro Haddad, mais a aprovação do marco fiscal, reforçam um ambiente pra uma trajetória decrescente de juros no Brasil. Porque nós temos uma situação, hoje, desproporcional em relação ao mundo.” (Alexandre Padilha, ministro de Relações Institucionais, hoje, à imprensa).
No Planalto, também já não está mais descartado pedir a saída de Campos Neto. Se antes Lula repetia que, dada independência do BC, não cabia a ele tirar ou não o presidente, agora o Planalto já não vê como absurdo enviar o pedido ao Senado, responsável pela decisão.
Poucas horas após a divulgação, Rui Costa, ministro-chefe da Casa Civil, fez duras críticas à decisão. De perfil mais discreto, até o baiano tem subido o tom nos últimos dias –e já havia prometido não levantar a bandeira branca se a taxa fosse mantida.
Hoje, em evento no Rio, Lula voltou a criticar Campos Neto. “Ninguém aguenta a cada 45 dias uma parte ficar defendendo a taxa de juros alta e a outra criticando. É preciso a gente deixar que quem tem que cuidar, cuide, cada um faz a crítica que quiser. Não tem explicação para nenhum ser humano no planeta Terra a taxa de juros estar a 13,75%.”
Como presidente da República, não posso ficar discutindo cada relatório do Copom. Eu não posso. Eles paguem o preço pelo que eles estão fazendo. A História julgará cada um de nós.” (Lula, hoje em evento no Rio).
Pressão pelo marco fiscal?
No entendimento do Planalto, a resistência de Campos Neto é uma forma de pressionar o governo a divulgar o marco fiscal (o chamado “arcabouço fiscal”) o quanto antes. Na divulgação, o BC chegou citar a incerteza com a medida como um dos motivos pela manutenção da taxa.
Havia uma promessa de que a proposta, já apresentada por Haddad a Lula, fosse levada ao Congresso antes da viagem do presidente à China, no sábado. Com objetivo de dialogar com o Congresso, a gestão assumiu o discurso de que “não há por que ter pressa”.
Segundo fontes ligadas ao Planalto, o adiamento não foi bem recebido por Campos Neto, que teria deixado claro que não pretende fazer alteração antes de ver a proposta. A decisão do Copom seria a comprovação disso.
Como foi o anúncio do Copom.
- É a maior taxa desde o reajuste estabelecido de dezembro de 2016 até 11 de janeiro de 2017. A última vez em que a Selic teve um valor mais alto do que esse foi no ciclo de 19 de outubro de 2016 até 30 de novembro de 2016, quando o índice foi a 14% ao ano.
- O Copom disse que a decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para 2023 e 2024. No cenário interno, a avaliação foi que a inflação ao consumidor e as consequentes medidas inflacionárias estão acima do esperado.
- O comitê também justificou a manutenção da taxa pelo ambiente externo deteriorado: “Os episódios envolvendo bancos nos EUA e na Europa elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento”.