Militância de Bolsonaro não comenta sua volta e foca em Lula

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Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo

Nas horas que antecederam o retorno do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Brasil, na manhã desta quinta-feira, um clima de reserva prevaleceu sobre o bolsonarismo. Enquanto aliados viam ação do governo federal para minimizar o impacto de sua chegada ao país após três meses de autoexílio, as redes sociais seguiram focadas em ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Bolsonaro chega ao aeroporto de Brasília às 7h desta quinta-feira, num voo direto da Florida, Estados Unidos. De lá ele segue para a sede do Partido Liberal, onde será recebido pela esposa Michelle, pelo presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto, e pelo ex-ministro Braga Netto, hoje secretário de relações institucionais do PL.

Aliados do ex-presidente se queixam de uma orientação dada pela Polícia Militar do Distrito Federal para Bolsonaro não desfilar em carro aberto, por questões de segurança e para evitar episódios parecidos com o 8 de janeiro. Ele também deverá deixar o aeroporto por uma rota alternativa, sem contato com apoiadores. Aliados creem ser uma pressão do Palácio do Planalto para esfriar o episódio do retorno.

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Criticado publicamente até por aliados por seu ostracismo desde a saída da Presidência, na antevéspera da posse de Lula, Bolsonaro aposta em uma volta “triunfal” para retomar espaço como líder da oposição ao governo do PT.

O PL não prevê um discurso do ex-presidente no evento da manhã, mas há expectativa de que uma multidão de manifestantes possa comparecer ao local. Bolsonaro deve repousar durante a parte da tarde em razão do voo, e à noite deve marcar presença no evento de posse da nova diretoria executiva do PL-DF, que será presidida pela deputada federal Bia Kicis. A cerimônia também contará com Michelle.

Enquanto isso, as principais personalidades do bolsonarismo continuam usando suas redes sociais para atacar Lula — a volta de Bolsonaro tem passado batida. Outros temas têm dominado a pauta em vez da exaltação do seu principal líder. Nesta quarta-feira, o embate entre Flávio Dino e bolsonaristas em depoimento na Câmara no dia anterior ainda tinha grande repercussão. A declaração polêmica de Lula de que o plano de uma organização criminosa para sequestrar o senador Sergio Moro (União-PR) e ataques à agenda trans também ocuparam as redes bolsonaristas.

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Embora seus aliados afirmem que Bolsonaro se recolher nos próximos dias — ele assume como presidente de honra do PL e passa a despachar do escritório do partido em Brasília na próxima semana —, existe apreensão sobre se ele se pronunciará publicamente na sexta-feira.

Isso porque é 31 de março, dia que militares saudosos dos tempos da ditadura costumam exaltar o que consideram ser uma “revolução”. A data marca o início do regime ditatorial que durou até 1985 e deixou um legado de mortes, torturados, desaparecidos e inúmeras violações de direitos humanos no Brasil.

Apoiadores disputam a presença de Bolsonaro para os dias seguintes. Há convites para ele marcar presença em uma feira de agronegócio em Sorriso (MT), evento no Rio de Janeiro ou iniciar uma turnê pelo Brasil começando por Maceió, por exemplo. Para aliados, Bolsonaro deve escolher um roteiro pautado pela segurança, já que não tem mais a estrutura do Gabinete de Segurança Institucional e seguranças

No entorno de Bolsonaro existe um desconforto sobre o período da ausência do ex-presidente. Por um lado, existe uma avaliação de que ele perde capital político a cada dia que passa fora do país. Por outro, sair dos holofotes coloca Lula no centro das atenções — o que pode desgastá-lo diante das críticas.

O Globo