PF identifica digitais em minuta golpista

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Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo

A perícia realizada pela Polícia Federal nas digitais da minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres ainda não encontrou elementos que ajudassem a esclarecer de onde veio o documento e quem o redigiu.

De acordo com fontes ligadas à investigação, a análise só identificou no papel três digitais: a do próprio Anderson Torres, de um delegado e de um advogado que acompanharam a operação de busca e apreensão, realizada alguns dias depois do atentado golpista de 8 de janeiro. A suposição da PF, por ora, é que eles foram as últimas pessoas a pegar o documento, durante a ação.

A perícia encontrou ainda vários fragmentos de outras digitais, que agora serão alvo de uma segunda etapa de verificação em busca de novas pistas. Como são apenas fragmentos, a análise será mais demorada – e sem nenhuma garantia de sucesso.

Uma outra linha de averiguação se cogitou no início das investigações, a análise das características do papel e suas marcas para tentar encontrar a impressora de origem, também não teve resultado.

Por causa da minuta, na prática o rascunho de um decreto dando poderes ao presidente da República para interferir na atuação do TSE – nítida tentativa de dar ares de legalidade a um possível golpe de estado –, Torres foi chamado como testemunha no processo em que o PDT pede a inelegibilidade de Jair Bolsonaro.

A ação, uma das mais avançadas entre as dezesseis em andamento no tribunal, apura as circunstâncias de uma reunião com embaixadores em que Bolsonaro lançou suspeitas sobre o sistema eleitoral brasileiro.

Em janeiro, o corregedor da Justiça Eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, decidiu incluir a minuta no processo por considerar que a reunião e a minuta estão no mesmo contexto – os ataques sistemáticos do governo Bolsonaro à lisura do processo eleitoral – e por isso devem ser analisados conjuntamente.

A defesa de Bolsonaro contestou, mas a decisão de Gonçalves foi mantida por unanimidade pelo plenário do TSE no mês passado.

Na última quinta-feira (16), pouco antes de um depoimento de Torres que a defesa de Bolsonaro tentou adiar, sem sucesso, os advogados do ex-presidente pediram ao TSE que solicitasse ao Supremo Tribunal Federal (STF) os resultados da perícia nas digitais da minuta.

Para a defesa de Bolsonaro, que tenta empurrar o julgamento do caso para o segundo semestre, esses elementos “ ostentam o condão de auxiliar na mensuração da gravidade da conduta objeto de apuração nos autos”.

O pedido, que estava incluído dentre vários outros, chamou a atenção dos investigadores. Concluiu-se, na PF, que os advogados já têm a informação sobre de quem são as digitais, e pretendem usar a resposta para tentar desqualificar a investigação.

No TSE, porém, considera-se que a informação sobre os donos das digitais já identificados também pode servir para desqualificar o próprio Torres, que afirma ter recebido o documento de sua assessoria, sem dar o nome de ninguém. “Se ele recebeu de alguém, por que essa digital não apareceu?”, questiona uma fonte que acompanha de perto os desdobramentos do caso.

A julgar pelo que se passou nos bastidores até agora, a busca pelas digitais do golpismo ainda vai render muita polêmica.

O Globo