Temer convenceu Moraes a reabilitar Ibaneis

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Foto: Roberto Casimiro/Fotoarena/Agência O Globo

O ex-presidente Michel Temer articulou nos bastidores para ajudar Ibaneis Rocha (MDB) a voltar ao governo do Distrito Federal, segundo a coluna apurou com três aliados do emedebista que pediram para não ser identificados.

Ibaneis estava afastado do cargo desde 9 de janeiro, em consequência das investigações sobre os atentados que culminaram com a invasão e a depredação da sede dos três poderes em Brasília.

Pela decisão de Alexandre de Moraes, Ibaneis deveria ficar longe do Palácio do Buriti por 90 dias — ou seja, até 8 de abril. Nesta quarta-feira, porém, Moraes o reabilitou politicamente e o autorizou a reassumir o posto.

O recuo á vinha sendo cogitado em Brasília e discutido abertamente no Supremo havia semanas. Havia na corte uma apreensão com a reação negativa do meio político com o que consideraram um exagero de Moraes.

Segundo interlocutores de Ibaneis, Temer conversou repetidas vezes com Moraes sobre a situação do governador afastado.

O ex-presidente foi responsável pela indicação de Moraes ao Supremo em 2017.

“Camarada ajuda camarada”, resumiu um influente parlamentar emedebista, ao descrever o encontro à equipe da coluna.

Ibaneis irritou integrantes do Supremo por ter insistido na nomeação de Anderson Torres para a Secretaria de Segurança Pública do DF. Quando extremistas depredavam a sede dos três poderes, Torres estava de férias nos Estados Unidos.

Pouco antes da invasão, o governador chegou a tranquilizar ministros do Supremo dizendo que a situação na Esplanada dos Ministérios estava sob controle. O emedebista, que também não estava em Brasília, alegou depois que não foi informado da ação de radicais na Praça dos Três Poderes.

Nas últimas semanas, ganhou força tanto no Supremo quanto fora da corte a leitura de que, com o fim da intervenção na segurança pública do DF e o avanço das investigações sobre os atentados, não havia mais justificativas para a manutenção do afastamento até abril.

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“Tirar alguém eleito pelo voto popular do cargo por tanto tempo não dá”, disse à equipe da coluna um ministro do STF.

A decisão de Moraes mostra que ele encampou o argumento dos colegas.

“O momento atual da investigação – após a realização de diversas diligências e laudos – não mais revela a adequação e a necessidade da manutenção da medida, pois não se vislumbra, atualmente, risco de que o retorno à função pública do investigado Ibaneis Rocha possa comprometer a presente investigação ou resultar na reiteração das infrações penais investigadas”, escreveu o ministro.

De acordo com Moraes, os relatórios policiais não trazem indícios de que Ibaneis “estaria buscando obstaculizar ou prejudicar os trabalhos investigativos, ou mesmo destruindo evidências”.

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Ibaneis considera Temer seu amigo. Os dois têm atuação na área jurídica e são colegas de partido.

Em 2019, o governador emprestou um avião para Temer voltar para casa, após o ex-presidente derrubar na Justiça a prisão determinada pelo juiz Marcelo Bretas em um desdobramento da Lava Jato.

Ibaneis ficou fora do cargo por 66 dias. Nesse período, o Distrito Federal foi comandado por Celina Leão (PP), aliada do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Celina e Ibaneis devem se reunir na manhã desta quinta-feira, às 9h, para tratar das ações de governo.

Procurado pela equipe da coluna, Temer confirmou ter ajudado Ibaneis, mas foi econômico no comentário:“Quando Ibaneis me procurou, dei os palpites jurídicos e só isso.”

O Globo