Bolsonaristas falsificam vídeo de deputada que ameaçou matar Lula
Vídeo falso: Júlia Zanatta não disse que Márcio Jerry estava encostando nela Reprodução
Ao contrário do que circula nas redes sociais de bolsonaristas como o deputado federal André Fernandes (PL-CE), Júlia Zanatta (PL-SC), que acusou Márcio Jerry (PCdoBA) de assédio, não disse que o parlamentar estava encostando nela logo após ele ter falado em seu ouvido durante reunião na Comissão de Justiça da Câmara Federal. Na última quarta-feira, a deputada veio à público para dizer que o colega de Casa teria “dado um cheiro” em seu pescoço. Na ocasião, ela compartilhou imagens do momento em que Jerry a aborda pelas costas. Nesta sexta-feira, bolsonaristas divulgam um novo vídeo do momento seguinte, desta vez com áudio manipulado.
Compartilhado pelo deputado André Fernandes (PL-CE) em sua conta no Twitter, as novas imagens teriam ocorrido após o momento em que Jerry se aproxima de Zanatta. Vários deputados aparecem em meio a confusão durante a sessão na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, que recebia o ministro Flávio Dino na última terça-feira. No trecho, Júlia Zanatta aparece debatendo com outro parlamentar, enquanto aponta para Márcio Jerry, que está distante.
Na imagem publicada por Fernandes há uma legenda atribuída à Zanatta: “Não. Ele tá me encostando”. No Twitter, o deputado escreveu: “Logo após ter sido assediada, a deputada reclamou da atitude desprezível e nojenta do deputado comunista Jerry, do Maranhão. ‘Ele tá me encostando’, falou algumas vezes a deputada, que foi ignorada por aliado do assediador”.
No entanto, o especialista em edição de vídeo e professor da faculdade de tecnologia Instituto Infnet Kleber Galúcio afirma que o áudio foi adulterado:
— O vídeo é falso porque há um ambiente em que está todo mundo gritando e só o áudio dela se destaca. Naquele contexto, em uma filmagem de celular, é quase impossível destacar só a voz dela. Para conseguir esse áudio isolado, precisaria de um microfone de lapela. Ela pode até ter dito esta fala, mas não naquele momento — diz Galúcio.
O especialista diz ainda que o tempo de tela em que Júlia Zanatta aparece, menos de um segundo, pode dar a impressão que a fala foi dita. A câmera lenta, usada em seguida, seria uma estratégia para reforçar o áudio, afirma o especialista.
Relembre o caso
Na manhã desta quarta-feira, Júlia Zanatta acusou Márcio Jerry de assédio. A parlamentar publicou nas suas redes sociais uma imagem da reunião na Comissão de Segurança da Casa.
— Eu nem conheço este homem, não o autorizei a encostar no meu corpo, tocar o meu pescoço. Sou mãe, sou casada, tenho direito a esta escolha, toda mulher tem. Ainda estou muito abalada com tudo o que aconteceu. O partido já me acolheu e não me deixou desamparada. O presidente Valdemar me ligou e irei a uma delegacia, isto não pode ficar impune — disse Zanatta ao GLOBO.
O deputado negou as acusações. De acordo com ele, Zanatta e Lidice da Mata estavam discutindo, aos berros, quando resolveu intervir para pedir respeito a aliada. Na ocasião, o parlamentar disse que a bolsonarista reagiu normalmente.
— Ela (Zanatta) continuou o diálogo. Quase 24h depois foi às redes dizer que foi assediada. Estou indignado, não cometi o ato que a deputada me imputa, ela congelou a imagem e desvirtuou. Absurdo que se cometa um fato dessa natureza, tentando atingir a honra de alguém por uma divergência política.