Bolsonaro barrou prêmio de Chico Buarque por quatro anos

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Foto: Rodrigo Antunes/Reuters

Quatro anos depois de ter sido anunciado vencedor, Chico Buarque recebeu o prêmio Camões, maior láurea da literatura em língua portuguesa, das mãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A cerimônia, que contou com também com a presença do primeiro-ministro luso, António Costa, e de personalidades da cultura e da política lusófonas, aconteceu na tarde desta segunda-feira no Palácio de Queluz, em Lisboa.

Escolhido por unanimidade pelo júri em outubro de 2019, o cantor e compositor ainda não havia recebido o prêmio devido à oposição do então presidente Jair Bolsonaro em assinar o diploma oficial da láurea, oferecida em conjunto pelos governos de Portugal e do Brasil. Após a vitória do cantor, Bolsonaro disse que “até 31 de dezembro de 2026,” assinaria o diploma.

“Reconforta-me que o ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o meu prêmio Camões”, disse Chico Buarque na cerimônia desta segunda-feira. “Quatro anos de um governo funesto duraram uma eternidade”, acrescentou.

Pouco depois de ser eleito presidente, em viagem a Portugal em novembro, Lula anunciou a intenção de retornar ao país para entregar o diploma ao cantor.

“É uma satisfação corrigir um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura brasileira nos últimos tempos”, afirmou Lula durante a entrega do prêmio.

A ausência de cerimônia de premiação, no entanto, não impediu o pagamento dos € 100 mil, cerca de R$ 540 mil, concedidos ao vencedor, que Chico já recebeu.

O imbróglio com o diploma do compositor, no entanto, provocou uma espécie de fila de espera entre os laureados dos anos subsequentes, que também ainda não tiveram direito às solenidades para receber o prêmio.

Oficializado em 1988, o prêmio Camões foi idealizado para destacar autores em língua portuguesa. Tradicionalmente, há uma alternância entre a origem dos vencedores a cada ano, contemplando brasileiros, portugueses e cidadãos da África lusófona.

Vencedor da láurea há dez anos, o escritor moçambicano Mia Couto acompanhou a entrega do prêmio na segunda fila da plateia e comemorou a ausência de Jair Bolsonaro no encontro.

“Felizmente que ele [Bolsonaro] se recusou a assinar, porque agora temos uma festa em dobro. E esse é um prêmio que é para todos nós. É um prêmio da língua portuguesa”, afirmou.

Couto fez questão de exaltar a obra do brasileiro. “Quando eu comecei a ouvir as canções do Chico, eu percebi que havia uma dimensão da nossa língua, que ela cantava e que guardava a poesia. Como a poesia, que é profundamente lírica, profundamente íntima, podia se manifestar e se podia revelar na canção”, afirmou.

A cantora Fafá de Belém também esteve no evento. “É um ato simbólico, finalmente o resgate de democracia e do respeito às artes como fundamentais para o desenvolvimento de um país”, afirmou.

Folha