Documentos desmentem suposta ignorância de Bolsonaro sobre joias

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Bolsonaro no carro ao sair da Polícia Federal após prestar depoimento Sergio Lima / AFP

Em depoimento à Polícia Federal (PF) na tarde desta quarta-feira, o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que só tomou conhecimento em dezembro de 2022 do estojo de joias, dado por autoridades da Arabia Saudita, apreendido pela Receita Federal, no dia 26 de outubro de 2021, no Aeroporto de Guarulhos. No entanto, três dias depois, o gabinete do ex-presidente enviou um ofício ao ministério de Minas e Energia solicitando o encaminhamento das joias para que elas pudessem ser incorporadas ao “acervo privado do Presidente da República ou ao acervo público da Presidência da República”, como revelou o jornal O Estado de S.Paulo. O conjunto de diamantes (colar, anel, par de brincos e relógio) é avaliado em R$ 16,5 milhões.

Os bens entraram no país na mochila do assessor do então ministro Bento Albuquerque e foram apreendidos pelos fiscais por não terem sido declarados. Para a liberação, seria necessário pagar as taxas de importação, caso fossem um bem pessoal, ou a apresentação de documento de incorporação pelo acervo da Presidência da República, em caso de presente de governo a chefe de Estado.

No depoimento desta quarta-feira, o ex-mandatário afirmou, de acordo com relato de uma pessoa que o acompanhou no depoimento, que acionou o ajudante de ordens para verificar a situação das joias em Guarulhos para tentar era evitar um vexame diplomático de o presente dado por outra nação ser levado a leilão.

Como noticiou o GLOBO, o conjunto formado por colar, anel, par de brincos e relógio da marca Chopard foi alvo de ofícios do governo em ao menos oito ocasiões. Além do gabinete pessoal, o Itamaraty, Bento Albuquerque e o secretário da Receita Federal, Julio Cesar Viera Gomes, também tentaram reaver as joias.

Além do primeiro estojo que seria um presente para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o ex-presidente recebeu outras duas caixas: um estojo que entrou no país pelas mãos de Albuquerque e foi entregue à Presidência apenas um ano depois, e outro que foi recebido por Bolsonaro durante viagem ao Oriente Médio em 2019. À PF, o antigo chefe do Executivo negou ter praticado qualquer irregularidade e afirmou não lembrar quem lhe avisou sobre as joias retidas na alfândega.

Após o depoimento, a PF tomará novas providências no inquérito aberto para investigar a destinação de três conjuntos. Além da concluir a perícia nos bens, outras diligências são realizadas, como a análise de documentos e imagens relacionados ao caso. Os investigadores também vão se debruçar sobre as oitivas realizadas ontem em busca de contradições.

O Globo