General do GSI demitido tinha disputa com chefe da PF

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O diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues, e o ex-ministro do GSI Gonçalves Dias – Foto: Arquivo O Globo

A queda do general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aumentou a influência do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Passos Rodrigues, no núcleo duro do governo. O chefe da PF estava presente, com outros seis ministros, na reunião da última quarta-feira que selou a demissão do general.

Desde a campanha eleitoral, os dois homens de confiança de Lula travam uma disputa interna por protagonismo para lidar com informações estratégicas. Com G. Dias fora do Planalto, Rodrigues ganha espaço para impor suas propostas, como a de reduzir ao máximo o número de militares no Palácio do Planalto e a reformulação do GSI, mudança arquitetada ainda na transição por um grupo de trabalho comandado pelo delegado.

Uma das propostas que chegará à mesa de Lula nos próximos dias é uma nova estruturação do GSI, que prevê comando civil, abrigando a Secretaria de Segurança Aproximada do Presidente e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Integrantes do governo que trabalham pela mudança afirmam que a proposta já está em fase de consolidação. Lula deverá bater o martelo após retornar da viagem a Portugal e Espanha.

Escolhido ainda na campanha para assumir a PF, Rodrigues ganhou a confiança do entorno de Lula ao coordenar a equipe que cuidou da segurança do então candidato. Na época, havia temor de um atentado contra o petista devido a uma série de ameaças e ao clima de violência política no país.

A campanha acabou sem qualquer incidente, e Rodrigues ganhou o reconhecimento da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja. “Andrei foi incansável para garantir a segurança de todos na nossa linda campanha”, publicou no dia em que ele tomou posse, em 10 de janeiro.

Delegado de confiança
Quando G. Dias assumiu o GSI, parte da estrutura do órgão já havia sido desidratada. Após o governo de Jair Bolsonaro, o gabinete perdeu o comando da segurança do presidente da República e do vice. Em meio à desconfiança com a atuação de militares, foi criada uma secretaria temporária que se reporta diretamente à chefia de gabinete de Lula, com o comando de um delegado da Polícia Federal da confiança de Rodrigues: Alexsander de Oliveira, que também integrou a equipe de segurança de Lula na campanha.

Além disso, Dias havia perdido o controle da Abin, transferida para a Casa Civil. A estrutura atual do GSI é bem mais tímida que a do governo Bolsonaro. Entre as suas atribuições, está analisar e acompanhar questões com potencial de risco à estabilidade institucional e coordenar ações de defesa de palácios.

Empoderada no governo Lula, a PF já planejava reestruturar a segurança presidencial. Turmas de policiais estão sendo formadas na Academia Nacional de Polícia (ANP) em Brasília.

Nos próximos meses, a secretaria deverá ter até 300 policiais que ficarão responsáveis pela segurança do petista, do vice Geraldo Alckmin e de familiares de ambos. O grupo é formado predominantemente por agentes federais. Há, no entanto, um número menor de militares das Forças Armadas, integrantes da Abin, e policiais de outras forças.

Nesta semana, a secretaria promoverá um encontro em Brasília para debater formas de segurança presidencial com representantes de países como Portugal, Argentina e Alemanha, que também têm civis no comando da proteção de autoridades.

Embate na transição
Quando Lula ainda pedia votos, G. Dias era responsável pela estrutura de segurança e logística dos eventos de campanha — e a disputa por espaço já ocorria na ocasião.

O processo ficou mais acirrado, contudo, durante a transição. O grupo de trabalho coordenado por Rodrigues defendia a desmilitarização do GSI e a nomeação de um civil. Preocupados com a contaminação dos militares lotados no órgão, correntes do PT, na época, já falavam na extinção do gabinete ou ao menos na remoção dos oficiais de funções no Planalto.

Gonçalves Dias era contra a mudança. O general argumentava que a natureza da atividade do órgão justificava a presença de militares em sua estrutura. O oficial também costumava dizer que o próprio Lula manteve 800 fardados no GSI de 2003 a 2010.

O ápice do embate ocorreu após os ataques de 8 de janeiro, já que Rodrigues enviou um relatório com antecedência que apontava para um cenário de risco. Nos bastidores, ganharam força as críticas de que Dias não conseguiu reagir e pôr a inteligência do governo para funcionar.

O general, por outro lado, alega que havia acabado de assumir o GSI — órgão ainda repleto de bolsonaristas. O episódio desgastou o ex-ministro com a primeira-dama, enquanto Rodrigues manteve seu prestígio com Janja. Integrantes do governo avaliam que o GSI só permaneceu com status de ministério em função da influência de Dias. O general também foi chefe da segurança de Lula nos dois primeiros mandatos, época em que ficou conhecido como “sombra” do petista.

Com o novo momento, Andrei Rodrigues disputará atenção do presidente por informações estratégicas com o delegado Luiz Fernando Côrrea, indicado por Lula para assumir a Abin.

O Globo