Lula explica necessidade de o governo negociar com a oposição

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Lula durante cerimônia comemorativa do Dia do Exército — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na tarde desta quarta-feira (19) que seu governo não conseguiu eleger a quantidade de parlamentares que gostaria e, por isso, os ministros precisam saber negociar com a oposição para chegar a um consenso quanto ao Orçamento dos próximos anos. Segundo Lula, os auxiliares não foram escolhidos para dizerem que “está difícil” governar, mas, sim, para ir atrás “da cura” dos problemas.

“Eu sei que a economia é a parte mais difícil de um governo. Temos que levar em conta a correlação de forças [no Legislativo], [levar em conta] o que foi o resultado das eleições. Não elegemos o número de deputados que gostaríamos, então, neste momento, temos que saber negociar. Temos que negociar com os contrários. Tem gente que acha ruim negociação, mas deputado não é obrigado a aceitar aquilo que o presidente coloca. É normal que deputados queiram negociar, todo mundo que está no movimento social sabe disso”, argumentou.

“Ministro não existe para dizer que ‘está difícil’. A gente não vai ao médico apenas para saber o diagnóstico, a gente vai atrás de cura. A gente não ganhou as eleições apenas para ficar xingando o Bolsonaro, mas também para dar dignidade ao nosso povo”, complementou o presidente.

Lula falou sobre o assunto em Brasília, durante evento do Fórum Interconselhos Nacional, quando a gestão federal anunciou a retomada do programa PPA Participativo, que permite, por meio de fóruns nacionais, que movimentos sociais, entidades populares, representações sindicais e cidadãos ajudem a definir prioridades a serem seguidas na elaboração dos orçamentos federais dos quatro anos seguintes.

O presidente projeta que a retomada de movimentos sociais nas discussões do Orçamento deve gerar reação no Congresso, mas pediu ajuda para mostrar a importância dessa política pública. “O PPA Participativo é o começo de uma caminhada para ver se vamos conseguir ter a participação de muita gente no Orçamento. Vai ter discurso de gente dizendo que não estamos respeitando o Congresso e nós vamos mostrar porque estamos fazendo isso. O movimento social em que aprender a criar rede social para que a gente consiga se comunicar melhor com quem a gente está representando. Vocês do movimento social também serão instrumento de divulgação das coisas que estamos fazendo”, disse.

O presidente aproveitou o tema para criticar governos anteriores que, na sua visão, destruíram instrumentos de participação popular. “Este é de novo um país que, sobretudo, tem força para se reconstruir de modo mais justo e igualitário. Errou feio quem achou que seria possível governar sem participação popular”, cutucou.

“Vamos tentar recuperar as conferências nacionais porque o governo tem que ouvir quem sabe, que é o conjunto da população brasileira. A verdadeira democracia requer que, a todo tempo, o Estado se torne mais aberto e permeável à participação da sociedade. Quero ouvir de vocês, da sociedade, as reais demandas e anseios do nosso povo. Posso dizer que não esperava que a gente tivesse condições de fazer tantas coisas como fazemos. Mas também não esperava encontrar um país tão quebrado. Isso prova que aquele ditado: é muito mais fácil destruir do que construir. Eles destruíram achando que a gente não voltaria. Olha nós aqui outra vez”, emendou.

Lula defendeu que seu governo irá demonstrar que o Brasil pode ter crescimento econômico com distribuição de renda. “O Brasil que queremos e precisamos expressar no PPA é grande demais para caber nos palácios e gabinetes de Brasília. As políticas públicas são tão complexas que precisam ser pensadas junto do nosso povo. Não podemos esperar a sociedade vir até com suas propostas. Pelo contrário, estamos indo aonde o povo está. A gente tem que provar que este país póde voltar a crescer economicamente e a distribuir renda outra vez. Eu tenho 77 anos, energia de 30 e a vontade de fazer as coisas de um moleque de 10 anos de idade”, brincou. “Hoje estamos dando ao povo brasileiro o direito de ser igual [no Orçamento], o direito de concordar e não concordar.”

Novo Ensino Médio e entregadores por aplicativo

O presidente também comentou a decisão do seu governo de suspender a implementação do novo Ensino Médio, programa criado na gestão Temer e bastante criticado por especialistas.

“Eu não gosto de coisa atravessada entre nós”, afirmou à plateia presente. “Tivemos uma Comissão de transição que decidiu que a gente ia dar continuidade ao Novo Ensino Médio. O que nós decidimos depois? Discutir qual a melhor saída para aperfeiçoar o ensino médio. É isso que vamos fazer. Não é revogar sem ter nada para colocar no lugar.”

Por fim, ele mencionou que irá à Espanha acompanhado do ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, para verificar como o país solucionou o problema do vínculo empregatício dos entregadores de aplicativo. “O Marinho tem a tarefa de criar esse novo mundo do trabalho. Convidei ele, inclusive, pra ir para a Espanha porque eles conseguiram criar uma nova relação entre aplicativo e trabalhadores. Vamos ter que quebrar muita cabeça para encontrar uma solução para isso”, disse.

Por fim, Lula elogiou o atual presidente do Tribunal de Contas da União, ministro Bruno Dantas, que estava presente do evento. “O TCU está assumindo um papel muito importante na história administrativa. [A tarefa do TCU] não é só condenar, é tentar evitar que as pessoas cometam erros, é fazer com que as coisas saiam bem feitas. Sou muito agradecido ao Bruno Dantas pelo trabalho que ele tem feito no TCU”, afirmou.

Valor