Lula me consolou no dia da prisão

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Eduardo Guimarães

Há 5 anos, em 7 de abril de 2018, o favorito para vencer a eleição presidencial, segundo todas as pesquisas, foi preso após segunda condenação em um processo que não dizia que crime ele havia cometido e que o prendeu por propina que nunca recebeu, atribuindo-a a “atos de corrupção indeterminados”. Vou lhe contar, agora, a história daquele dia infame.

Eu, Meire e Felipe nos encontramos no meio da rua. Passei nas casas deles para me ajudarem a
cobrir a resistência a que Lula foi compelido por apoiadores e aliados durante visita ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Era a noite de 6 de abril de 2018, antevéspera de uma eleição presidencial que nunca aconteceu, pois o favorito para vencê-la foi preso para evitar que vencesse.

Não havia como entrar no Sindicato. Milhares de pessoas formavam uma barreira humana. Estacionamos o carro a vários quarteirões de distância e fomos para lá a pé. Favorecido por ter sido alvo da Lava Jato cerca de um ano antes, tendo me tornado mais conhecido, consegui entrar com minha equipe no local de onde Lula sairia para a prisão.

Ao longo da noite, o amplo prédio fundado onde Lula começara sua carreira política, décadas atrás, ainda no auge da ditadura militar, era um mar de dor, lágrimas e ranger de dentes. Dentro do Sindicato, havia uma segunda barreira para chegar a Lula. Ele se isolou em uma ampla área privada onde só circulavam os mais próximos – que eram muitos, dezenas.

Ao lado de Guilherme Boulos, esperei por cerca de uma hora para poder chegar a Lula, passando aquela segunda barreira, entrando em corredores e salas que ficam no miolo do complexo dos metalúrgicos do ABC. Lá, encontrei o então ex-presidente vestindo casaco que ganhara do ex-presidente Boliviano Evo Morales.

Só quem conhece a Bolívia e o seu povo mais intimamente entendeu por que Lula usou aquele casaco. Era um símbolo de resistência, força e coragem que levam homens como o brasileiro e o boliviano em tela a chegarem ao Poder para lutar por seus respectivos povos e por um mundo melhor.

Lula me recebeu com um ar de serenidade que me fez estremecer. Encontrei-o após passar por áreas em que apoiadores e aliados choravam, alguns compulsivamente. Refletia, então, que o único presidente que fez de fato caírem a pobreza e a desigualdade, estava sendo preso por esse “crime”. E que, com isso, outros mandatários teriam medo de ajudar o sofredor povo brasileiro.

Não resisti, confesso. Chorei enquanto Lula ostentava um sorriso bondoso nos lábios. Então, ele me pediu que tivesse fé, ficasse tranquilo e não parasse de lutar. Em seguida, pediu que eu parasse de chorar e sorrisse para a foto que pedi para tirar ao seu lado. 26 horas depois ele deixou espontaneamente o Sindicato e se entregou à polícia.

Chegou à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba ao som e sob luzes ofuscantes de fogos de artifício. Os que concentram renda e/ou estupidez comemoravam que aquele que tanto fizera de bom em um governo que terminou com 87% de aprovação após 8 anos, estava sendo preso.

Volto a momento com Lula que ficou tatuado em Minh ‘alma. Um momento em que me dei conta de que a grandeza de um homem se revela durante a adversidade. Alguns homens, nesses momentos, recolhem-se, choram e, egoístas, só sabem lamentar por si mesmos. Grandes homens e mulheres, defendem e consolam os que sofrem sem pensar em si mesmos.

Como Lula.