Lula recusa tentativas de pautar sua escolha do sucessor de Lewandowski

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva no café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto – Foto: Fernando Donasci / O Globo

No dia em que foi oficializada a aposentadoria do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se comprometeu a indicar uma mulher ou negro para a Corte. Ao ser questionado sobre o tema em um café da manhã com jornalistas nesta quinta-feira, Lula declarou que não vai considerar o critério identitário para a escolha do futuro ministro do tribunal e que este é um compromisso que não quer ter nesse momento.

— Se eu for responder o que você (jornalista) perguntou, eu estarei criando um compromisso que eu não quero ter agora. Se vai ser negro, se vai ser negra, se vai ser mulher, vai ser homem, é um critério que eu vou levar muito em conta na escolha, mas não te darei nenhuma referência, porque, se eu der referência, eu estarei carimbando a futura pessoa que vai ser ministra ou ministro da Suprema Corte. — disse o presidente.

Lula ressaltou, no entanto, que sua indicação será uma pessoa com conhecimento jurídico e sensibilidade social.

— Será uma pessoa altamente gabaritada do ponto de vista do jurídico. A pessoa tem que ter uma compreensão do mundo social, dos problemas sociais desse país. A pessoa tem que conhecer a realidade. Então tem que ter o mínimo de sensibilidade social para assumir uma postura dessa, porque é muita responsabilidade.

O movimento para a indicação de uma mulher negra para a vaga que será aberta no STF se intensificou após o apoio público de ministros do próprio governo, como Silvio Almeida (Direitos Humanos) e Anielle Franco (Igualdade Racial), e do ministro Edson Fachin, do STF. Hoje, os principais cotados para o posto, porém, não correspondem a esse perfil. No momento, os favoritos são o advogado Cristiano Zanin Martins e Manoel Carlos de Almeida Filho, ex-assessor de Lewandowski.

No encontro com a imprensa, Lula também disse que não vai indicar ninguém “pensando num futuro problema do presidente da República” e sinalizou que não tem pressa para a definição.

— O critério de escolha, a forma como vai ser escolhido para apresentar ao Senado, vai ser feito por mim, bem pensando, bem discutido. O nome que indicarei será certamente um nome que vai fazer justiça ao povo brasileiro. Jamais indicarei um ministro da Supremo Corte por conta de precisar de algum favor. Não foi assim com nenhum que indiquei e não será assim daqui pra frente — ressaltou.

‘Nem da coisa e nem do coiso’
Sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Brasil e o senador Sergio Moro (União-PR), Lula disse que foi orientado pelo ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, a não citar os nomes “nem da coisa e nem do coiso”.

— O Pimenta tem me alertado todo dia para não citar os nomes que você perguntou. Por isso nem citei os nomes. Eu não tenho que falar nem da coisa e nem do coiso. O bom senso e a experiência me ensinam que eu só tenho que falar do futuro deste país. Do passado, eu pretendo falar o menos possível. Vou falar das coisas que nós temos que fazer daqui para a frente.

O presidente disse, porém, que Bolsonaro vai ter que responder aos inquéritos e que vai ter muito processo, mas que o papel dele (Lula) não é se preocupar com isso.

— Ele tem que responder aos inquéritos que ele tem que responder. E vai ter muito processo contra Bolsonaro, porque ele cometeu muitos erros. E o mais grave deles na minha opinião é um que sequer está sendo discutido que foi as 700 mil vítimas da covid. Pelo menos metade é da responsabilidade dele.

Lula ironizou a recepção de Bolsonaro na volta ao país na semana passada ao associar a falta de mobilização popular ao preço da gasolina.

— Agora ele tá livre para fazer motociata. Ele imaginava que ia ter uma grande recepção, que ia ter milhões de motocicletas. Como não tinha ninguém para pagar a gasolina, não tinha mais motocicleta. Fica mais difícil.

O Globo