Ruralistas querem prender líder do MST
O líder do MST, João Pedro Stédile Rafael Stedile/MST
A bancada ruralista protocolou pedidos de investigação e prisão contra o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile — que viajou na comitiva de Lula para China —, por conta de declarações do ativista consideradas como “ameaças” aos proprietários rurais. Representantes do agronegócio acusam o MST de incitar “invasões” no campo, enquanto os sem-terra negam que vão fazer uma “onda de invasões”, mas sim manifestações e eventuais ocupações apenas em “latifúndios improdutivos”.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) enviou o ofício contra Stédile ao Ministério Público do Distrito Federal, Procuradoria Geral da República (PGR), Ministério Público do Estado de São Paulo, Advocacia-Geral da União (AGU) e ao Tribunal de Contas da União (TCU).
O pedido da FPA ocorre em reação ao anúncio do MST sobre as ações do “Abril Vermelho”, tradicional mês de mobilização do grupo em prol da reforma agrária. Em um vídeo divulgado pelos sem-terra, Stédile afirma que, para chamar atenção às demandas dos ativistas, estão previstas ocupações no campo.
“Neste mês de abril nosso movimento fará muitas manifestações em defesa da reforma agrária. Haverá mobilizações em todos os estados, seja marchas, vigílias, ocupações de terras, as mil e uma formas de pressionar para que a Constituição seja aplicada. E que latifúndios improdutivos sejam desapropriados e entregues para as famílias acampadas”, diz o líder do MST.
A fala foi lida pelos ruralistas como uma “ameaça” que gera um “clima de insegurança” do campo. Em nota divulgada pela FPA, o líder da bancada e deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), classifica as ações do MST como “crime”. Ele diz que ainda cabe ao governo Lula (PT) a responsabilidade de acalmar o movimento, historicamente aliado do atual chefe do Palácio do Planalto.
“O Presidente da República chegou a usar boné do MST na campanha, então acredito que eles possam dialogar para impedir que essas situações ocorram. A propriedade privada precisa ser respeitada e esse anúncio de cometimento de crime feito pelo líder do movimento deve ser combatido pelas autoridades”, diz Lupion na nota divulgada pelo FPA.
Na China com Lula
Stédile é um dos integrantes da comitiva brasileira que foi para a China e viajou ao lado de vários representantes do agronegócio levados pelo governo para fechar acordos comerciais com o país asiático. Ao portal Metrópoles, o líder do MST disse que teve uma boa interação com o grupo.
“É uma convivência democrática. Os deputados que vieram a maioria são progressistas Estamos falando o tempo inteiro sobre agricultura e no que a China pode nos ajudar”, disse o ativista.
O prestígio dado por Lula ao líder do MST ocorre em meio à pressão que os se- terra vêm exercendo no governo para terem suas pautas atendidas. Por outro lado, o petista busca equilibrar os agrados à sua base histórica com acenos para conquistar o agronegócio, setor alinhado ao bolsonarismo.
Uma das ações realizadas pelo movimento neste mês foi a ocupação de 800 hectares de três engenhos no município de Timbaúba, em Pernambuco, que, segundo o grupo, não estaria cumprindo sua “função social”. Além disso, o MST fez um protesto na sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Alagoas, para pedir a saída de Wilson César de Lira Santos — primo do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) — do posto de superintendente.
Nesta semana, em coletiva de imprensa dada em Brasília, o coordenador nacional do MST, João Paulo Rodrigues voltou a afirmar que o grupo não vai promover uma “onda de invasões” de propriedades durante o “Abril Vermelho”.
— Possivelmente haverá mais mobilização na semana que vem, que pode se dar em marchas, assembleias, atos nas capitais, nas assembleias legislativas. Estamos dizendo que não há nenhuma jornada de ocupações de terra — disse Rodrigues, completando: — O que acontecerá é alguma ocupação de terras para denunciar latifúndios improdutivos e denúncias sobre trabalho escravo.
Na Câmara, deputados de oposição tentam criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para pressionar o MST e já conseguiram o número suficiente de assinaturas para a abertura do processo. Porém, ainda não há previsão se o pedido sairá do papel.