Suposto apoio à Rússia reduziu aprovação de Lula

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Foto: JULIEN DE ROSA / AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia embarcado para a China no dia 11 de abril sob pressão para decidir, na volta, o sucessor do ministro Ricardo Lewandowski no Supremo Tribunal Federal (STF).

Mas a agenda comprometida por duas graves crises – a escalada da violência nas escolas e a demissão do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias – impediu que Lula se reunisse com Lewandowski para uma conversa definitiva sobre a sucessão do magistrado, e adiou o desfecho do impasse na Suprema Corte.

Agora quando regressar do périplo a Portugal e à Espanha, na quarta-feira à noite, o mandatário estará diante não mais de uma, mas de duas pendências politicamente sensíveis: as nomeações do próximo ministro do STF e do próximo ministro do GSI.

O ministro interino do GSI, Ricardo Cappelli, disse em entrevista ao Valor que já terá um diagnóstico pronto sobre a pasta para apresentar a Lula já na quinta-feira, quando ambos devem se reunir.

A sinalização é de que o novo titular do GSI seja anunciado na própria quinta ou até sexta-feira porque segundo interlocutores, Lula não quer prolongar a turbulência no ministério.

O nome mais cotado para o cargo continua sendo o do general da reserva Marcos Antônio Amaro dos Santos, que comandou a pasta sob Dilma Rousseff. Uma ala do PT, entretanto, ainda pressiona Lula para que, no âmbito de uma reestruturação do ministério, o presidente escolha um civil para o lugar de G. Dias.

Enquanto Lula se debruça sobre as duas difíceis decisões, ministros e aliados preocupam-se com os recorrentes tropeços do petista nas declarações de improviso. A percepção é de que afirmações consideradas desastradas ou polêmicas nas últimas semanas geraram crises desnecessárias.

Uma consequência direta das falas impensadas foi a queda da popularidade do governo, detectada pela última rodada da pesquisa Quaest, encomendada pela Genial Investimentos, realizada entre 13 e 16 de abril, e divulgada no dia 19.

O levantamento mostrou que a aprovação do governo Lula caiu quatro pontos percentuais desde fevereiro, passando de 40% para 36%. E a taxa de reprovação subiu nove pontos, de 20% para 29%.

“O presidente tem falado muita coisa que desagrada o eleitorado”, disse à coluna o diretor da Quaest e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Felipe Nunes. “Não gostaram da fala dele sobre o [senador] Sergio Moro”, exemplificou.

O levantamento detectou, por exemplo, que a população não quer o Brasil metido na guerra da Rússia e Ucrânia. Entre os 2.015 entrevistados, 59% afirmaram que o presidente deve focar sua atuação nas questões nacionais, ante 35% que apoiam que ele tente mediar uma solução para o conflito. No grupo que reprova o governo, 76% dos entrevistados sustentam que o petista deveria se concentrar nos problemas do país.

Pelo menos 2% dos entrevistados citaram o mal estar com Sergio Moro como uma notícia negativa relacionada ao governo. Lula havia declarado que a operação da Polícia Federal para desbaratar ação de uma organização criminosa que planejava um atentado contra o ex-juiz e sua família seria uma “armação” do parlamentar.

Felipe Nunes também atribui a queda na aprovação do governo a mais dois fatores: insatisfação com a economia, e falha na comunicação. “Embora bem intencionado, Lula aparece como um presidente que não tem conseguido fazer aquilo que prometeu na campanha”, observou.

O alto volume de notícias negativas sobre o governo contribui para essa percepção. A pesquisa mostrou que 44% dos brasileiros já viram, ouviram ou leram alguma notícia negativa sobre a gestão petista. A ameaça de taxar as compras de produtos de varejistas chinesas, como Shein e Shopee, com valor até US$ 50, apareceu no topo da lista. A repercussão negativa obrigou o governo a recuar da medida.

Nunes argumenta que se o comportamento de Lula, a percepção de baixa entrega do prometido na campanha, e o volume de notícias negativas contribuem para a piora na avaliação do governo, uma solução seria rever a estratégia da divulgação das realizações anunciadas até aqui.

“O grau de conhecimento sobre o relançamento do programa Mais Médicos, da revogação da lei que facilitava a posse de armas, do aumento real do salário mínimo, do aumento do piso dos professores e das bolsas de pesquisa poderia ser maior porque são temas muito aprovados pela população”, alertou Nunes.

Diante dos percalços, Lula foi aconselhado por aliados a evitar declarações açodadas ou sem cálculo prévio, em quebra-queixos, quando cercado pela imprensa na saída de eventos. Ele também vem sendo pressionado a nomear um porta-voz, recurso que utilizou nos mandatos anteriores.

Contudo, um ministro ouvido pela coluna minimizou as críticas à verborragia presidencial. Ponderou que declarações desastradas de Lula não são novidade deste mandato e não descarta novas gafes no futuro.

Argumentou, todavia, que Lula está mais atento às suas falas, principalmente nos assuntos mais sensíveis ao mundo político. Observou que o mandatário suspendeu os confrontos com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Alegou que Lula continuou criticando os juros altos, mas sem se referir diretamente ao presidente do BC, ou chamá-lo de “este cidadão”.

No Palácio do Planalto, apesar do desconforto com a declaração de Campos Neto, em Londres, de que os juros não vão baixar no curto prazo, o clima não é de pessimismo. Ao contrário. Há uma avaliação de que os juros vão começar a baixar a partir da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de junho. O argumento é de que até lá, o novo arcabouço fiscal terá sido aprovado ao menos na Câmara dos Deputados, e a conjuntura econômica estará mais favorável ao recuo da Selic.

Valor Econômico