Bolsonaro cometeu combo de crimes em dezembro

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Foto: Reprodução

Uma série de ações desastradas tomadas por Jair Bolsonaro (PL) e seu entorno na reta final de seu governo, em dezembro de 2022, viraram focos de crises que estão atingindo o ex-presidente após o fim do mandato. O último caso a vir à tona é a suspeita de fraude em seu cartão de vacinação, o que levou a Polícia Federal (PF) a cumprir mandado de busca e apreensão em sua casa, além de prender alguns de seus assessores.

Além disso, o “dezembro aloprado” de Bolsonaro teve ainda reuniões conspiratórias contra o resultado das eleições; a preparação da minuta golpista que seria encontrada com seu ex-ministro da Justiça, Anderson Torres; e desenlaces que culminaram no escândalo das jóias das Arábias.

A PF investiga a criação fraudulenta de cartões de vacinação para pessoas que não se imunizaram contra a Covid-19, entre elas Bolsonaro, sua filha Laura e seu ajudante de ordens e braço-direito, tenente-coronel Mauro Cid. De acordo com o relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), constam emissões de documentos nos dias 22, 27 e 30 de dezembro do ano passado.

A investigação da Polícia Federal identificou que documentos de imunização no aplicativo ConecteSUS foram emitidos a partir de endereços de IP do Palácio do Planalto. Os downloads foram feitos dias antes e na própria data da viagem de Bolsonaro a Orlando, na Flórida, para onde foi antes mesmo do fim de seu mandato.

Ainda segundo a PF, a conta do ex-presidente no sistema de acesso ao ConecteSUS era controlada por Cid. Por conta disso, ele foi preso pela PF nesta quarta-feira. Além disso, Bolsonaro teve seu celular apreendido pelos policiais.

As ações que vêm complicando Bolsonaro depois de ele ter deixado o Palácio do Planalto se iniciaram já nas primeiras semanas de dezembro. Um mês após ser derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno, o ex-presidente se enrolou em uma trama conspiratória com o objetivo de anular as eleições. No episódio que foi relatado pelo senador e seu aliado Marcos do Val (Podemos-ES), o ex-presidente manteve conversas com ele e o então deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) que envolveram encontros sigilosos e planos para realizar gravações clandestinas de ministros do STF.

Segundo o relato, no dia 7 de dezembro, Daniel Silveira procurou Marcos do Val durante uma sessão do Congresso e avisou que o presidente Bolsonaro desejava falar com ele. Por telefone, o presidente pediu ao parlamentar que o visitasse no Alvorada.

Eles marcaram então a reunião para o dia 9 de dezembro. Após um esquema para chegar a Bolsonaro que envolveu troca de carros e localização por GPS, Marcos do Val e Daniel Silveira foram recebidos pelo então presidente. O senador deu diferentes versões do que ocorreu em seguida. Em todas elas, é Silveira que introduz a ideia do plano de gravar uma conversa com o ministro do STF Alexandre de Moraes. No entanto, há divergências entre os relatos.

Na versão contada em uma live, Marcos do Val disse que Bolsonaro tentou coagí-lo. Já em uma entrevista dada à revista Veja, o senador diz que o presidente afirmou que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) iria prestar apoio técnico ao plano.

Posteriormente, do Val disse que Bolsonaro permaneceu calado durante todo o encontro e que a afirmação quanto à participação do GSI veio de Silveira. Mais tarde, em outra entrevista, o senador acrescentou outro detalhe: Bolsonaro, ao fim da conversa, teria dito que aguardava a resposta do senador.

No dia 14 de dezembro, Do Val encontrou Alexandre Moraes no salão branco do STF por alguns minutos. Porém, o parlamentar recuou do acordo e contou o plano que teria acertado com o então presidente Bolsonaro. Neste mesmo dia, o senador informou a Daniel Silveira que não faria mais parte da ação.

Outro episódio que vem causado dores de cabeça a Bolsonaro e seu entorno foi a criação da minuta golpista, documento encontrado pela Polícia Federal em 12 de janeiro na casa do ex-ministro Anderson Torres. O texto com o objetivo de reverter o resultado da eleição, na qual Jair Bolsonaro foi derrotado foi criado no início de dezembro. O documento faz menção direta ao dia da diplomação de Lula no TSE, ou seja, 12 de dezembro.

A minuta detalhava passo a passo como deveria ser decretado um certo “estado de defesa” no TSE, dando poderes ao ex-presidente Jair Bolsonaro para interferir na atuação da Corte – o que é flagrantemente inconstitucional. Tanto o caso relatado por Do Val quanto a minuta golpista estão na mira das investigações do inquérito conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes que apura a autoria intelectual dos ataques golpistas do dia 8 de janeiro e o envolvimento de Bolsonaro nos episódios.

Em virtude dos atos, Torres foi preso no dia 14 de janeiro. O ex-ministro é suspeito de omissão na condução das forças de segurança pública em 8 de janeiro, quando extremistas invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes em Brasília. O caso foi ainda incluído pelo ministro Benedito Gonçalves, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na ação em que o ex-presidente Jair Bolsonaro é investigado por ataques ao sistema eleitoral brasileiro.

Foi também em dezembro do ano passado que Bolsonaro passou a atuar de forma incisiva para tentar reaver o pacote de joias dadas de presente pela Arábia Saudita e apreendidas pela Receita Federal do aeroporto de São Paulo.

Às vésperas do fim do mandato de Bolsonaro, o então secretário da Receita Federal, Julio Cesar Viera Gomes, tentou liberar as joias. Ele enviou um ofício para a alfândega do aeroporto em São Paulo pedindo a liberação. Os fiscais, no entanto, responderam que só liberariam os bens mediante pagamento do imposto.

No mesmo dia, o ajudante de ordens Mauro Cid, preso nesta quarta-feira, entrou em ação e também tentou liberar os itens através de um ofício enviado à Receita Federal. Novamente o pedido foi negado pela Alfândega.

A tentativa derradeira de recuperar o mimo milionário dos sauditas veio no dia 29 de dezembro — véspera da viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos. O emissário da Ajudância de Ordens do presidente e sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva foi para Guarulhos em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB).

A justificativa dada à viagem foi de que o militar iria “atender demandas” do gabinete de Bolsonaro. Mais uma vez, os bens seguiram retidos pela Receita.

O Globo