Ex-comandante militar do Planalto depõe na CPI distrital do golpe

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Foto: Divulgação/Exército Brasileiro

Ex-chefe do Comando Militar do Planalto (CMP), o general Gustavo Henrique Dutra detalhou nesta quinta-feira o diálogo que ele teve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na noite de 8 de janeiro, logo após o quebra-quebra na Praça dos Três Poderes. Em depoimento à CPI da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o general relatou que convenceu Lula de que não era uma boa ideia efetuar as prisões dos manifestantes naquele momento “sem planejamento”. Segundo ele, a desmobilização poderia acabar em tragédia com confronto e até mortes. Por fim, o presidente acatou à sugestão do general e pediu a ele que apenas “isolasse a praça” e prendesse os manifestantes golpistas na manhã de 9 de janeiro, o que de fato aconteceu.

— [Lula me falou:] São criminosos, tem que ser todo mundo preso. [Eu respondi:] ninguém tem dúvida disso, serão todos presos. Presidente, estamos todos no mesmo passo, serão todos presos. Só que até agora nós estamos lamentando dano ao patrimônio. Se nós invadirmos, terá sangue — afirmou o general. Com receio de que a operação descambasse em confito, Lula mudou de ideia, conforme o militar.

Naquela ocasião, integrantes do governo Lula, como o ministro da Justiça Flávio Dino e o então interventor federal na segurança do DF, Ricardo Cappelli, defendiam que o acampamento fosse desmobilizado o quanto antes.

— Eu tenho uma admiração pela inteligência emocional do presidente. E ele me falou:: general, isola a praça e prende todo mundo amanhã — contou o general, reproduzindo a conversa que teve com o presidente. Foi o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, que intermediou a conversa entre Lula e o militar. — Eu nunca imaginei que falaria com o presidente naquele momento — acrescentou ele.

Dutra era o então chefe do Comando Militar do Planalto, que cuidava da segurança da área onde foi montado o acampamento golpista em frente ao Quartel-General, em Brasília. Ele foi exonerado do cargo em fevereiro, sendo remanejado para um posto de subchefia no Estado Maior do Exército (EME).

Na noite do dia 8, uma tropa da Polícia Militar do Distrito Federal chegou a se posicionar na frente do setor militar, mas três blindados foram colocados na entrada do perímetro. Em depoimentos anteriores à CPI, os coroneis da PM-DF Fábio Augusto e Jorge Naime relataram que tentativas de desmobilização do acampamento haviam sido frustradas por ação do Exército.

À CPI, o general rebateu essas alegações, dizendo que o Exército tentou “o tempo todo, desde o início, desmotivar o acampamento”.

— Nenhuma instituição que tinha a obrigação ou poder de dizer que aquele acampamento era ilegal o fez. Nós resolvemos estabelecer uma estratégia indireta para desmobilizar o acampamento. Desde o início, estabelecemos regras, limitamos os acessos e a logísticas — afirmou o militar.

O Globo