STF desmente Dallagnol condenando Collor

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Foto: Theo Marques/UOL

No dia seguinte à cassação do mandato de Deltan Dallagnol, o ex-procurador da Lava Jato veio a público para dizer que agora os corruptos estariam em festa. Afinal, ele, que foi alçado ao posto de fiscal da corrupção, tinha sido punido. No mesmo dia, o ex-juiz Sérgio Moro foi conversar com o ministro Alexandre de Moraes, no salão branco do STF (Supremo Tribunal Federal). No fim da tarde, a assessoria do tribunal informou que foi uma das quatro audiências que o ministro teve no intervalo da sessão, todas agendadas previamente na semana passada. O assunto, ao menos oficialmente, foi o projeto de lei sobre segurança pública que tramita no Congresso Nacional.

O Supremo é ambiente traumático para Moro. Em 2021, a corte anulou condenações impostas pelo ex-juiz ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entendeu que Moro não conduziu os processos da Lava Jato com isenção. Os dois pilares da Lava Jato foram desmoralizados pela cúpula do Judiciário. A defesa de ambos foi talhada com o mesmo discurso: o de que as condenações seriam uma chancela para corruptos agirem sem preocupação. “Perdi meu mandato porque combati a corrupção. Hoje é dia de festa para corruptos e dia de festa para Lula”, afirmou o ex-procurador. Ambos também se defenderam atacando o Judiciário, a exemplo do que fizeram os condenados na Lava Jato – Lula, inclusive. “Fui cassado por vingança. Fui cassado porque ousei o que é mais difícil no Brasil: enfrentar o sistema de corrupção”, declarou Dallagnol. Em entrevista ao UOL em abril de 2022, Moro assumira o mesmo discurso: “Essas anulações de condenações do ex-presidente Lula por motivos que, sinceramente não consigo compreender com facilidade, tudo isso levou a um enfraquecimento do combate à corrupção e deixou o país vulnerável”. Seria ingenuidade pensar que, agora, Lula e aliados estariam indiferentes diante da condenação de Dallagnol. Ontem, o perfil oficial do governo federal no Twitter publicou uma imagem com o mesmo design usado por Dallagnol no famoso Powerpoint da denúncia contra Lula por corrupção. No post do governo, foi escrito em um círculo central “137 dias de governo”. Ao redor, setas indicavam feitos da nova gestão. Logo depois da sentença do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra Dallagnol, um integrante do governo disse à coluna em caráter reservado: “Quando eles estavam no auge, o poder subiu à cabeça. Eles achavam que podiam enquadrar todo mundo debaixo da autoridade deles”. Agora, o Judiciário se esforça para explicar, com atitudes, que o enfraquecimento de Moro e Dallagnol nada tem a ver com vingança ou impunidade. Ontem, o STF retomou o julgamento da ação contra o ex-presidente Fernando Collor, acusado de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Processo da Lava Jato, diga-se. Já são contabilizados dois votos pela condenação. Edson Fachin, o relator, sugeriu pena de 33 anos, dez meses e dez dias de prisão. Alexandre de Moraes concordou com a condenação. O julgamento deve ser concluído hoje (18), com grande chance de derrota para Collor. Em outra frente, o TSE se prepara para julgar 16 ações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por ilícitos cometidos na campanha do ano passado. A tendência é de condenação. A mensagem, portanto, é: o combate à corrupção continua. Mas, agora, com outros métodos e outros protagonistas.

Uol