Lira se une ao bolsonarismo em Alagoas

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Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados

Parceiro do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no âmbito federal, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), selou a aliança para reforçar o campo bolsonarista em sua base eleitoral, Alagoas. Lira indicou há uma semana dois aliados como secretários municipais do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o “JHC” (PL), que disputará a reeleição no próximo ano.

O atual prefeito é o favorito para vencer a eleição no próximo ano e se posiciona cada vez mais à direita. Trocou o PSB do vice-presidente Geraldo Alckmin pelo PL em meio à eleição nacional para fazer campanha para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). JHC trabalha para receber Bolsonaro num grande evento na capital e colocou sua mãe, Eudócia Caldas, como presidente do PL Mulher Alagoas, no mesmo ato que deu posse à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Lira e o presidente Lula estarão em campos opostos em Maceió no próximo ano, durante a eleição municipal. A condução da pauta da Câmara neste cenário é tratada como uma incógnita por políticos de Alagoas, mas o deputado nega conflito. Diz que sua aliança se justifica pela oposição ao governo estadual e que agirá de forma institucional no Legislativo, sem atuar para prejudicar o país e o governo. “O que nos difere de outros políticos é que não misturamos as questões locais com as questões nacionais”, disse ao Valor.

Na eleição passada, Lira lançou como candidato à prefeitura o ex-deputado estadual Davi Davino (PP), que ficou em terceiro lugar. Ele não era do mesmo grupo do atual prefeito, mas a oposição ao clã dos Calheiros estreitou a aliança no ano passado. Lira se aproximou do senador Rodrigo Cunha (União Brasil), aliado de “Jota”, e o lançou ao governo estadual.

As costuras para que ele e o PP apoiassem a reeleição de JHC se arrastavam há meses e foram seladas com a nomeação dos novos secretários há cerca de dez dias. Prima de Lira, a ex-deputada estadual Jô Pereira (PSDB) assumiu a Secretaria Municipal de Educação.

Davino será o secretário de Relações Federativas e ainda indicou o tio, Felipe, para a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, Primeira Infância e Segurança Alimentar. Os deputados Marx Beltrão (PP) e Fábio Costa (PP) também foram contemplados com cargos no primeiro escalão.

O prefeito ampliou o número de secretarias, de 16 para 25, e criou 600 cargos comissionados para acomodar outros aliados com vistas a sua reeleição.

Dos 25 vereadores, 22 passaram a apoiá-lo (inclusive os do MDB dos Calheiros). O deputado federal Alfredo Gaspar (União Brasil), que disputou o segundo turno contra JHC, declarou apoio e indicou o secretário de Saúde.

Um dos potenciais candidatos de oposição, o deputado federal Rafael Brito (MDB) acusa JHC de criar um “cabide de emprego” na prefeitura para atrair os partidos mais alinhados ao bolsonarismo. “Isso fez com que a eleição seja nacionalizada. Ele criou o chapão do Bolsonaro, com todos os radicais ao lado dele, e nós seremos o chapão do Lula”, afirmou.

Maceió é a única capital do Nordeste onde Bolsonaro venceu Lula na eleição passada, o que deve ter peso nas costuras. Segundo comenta-se na política local, fez JHC mudar para o PL no ano passado com vistas à reeleição. O ex-presidente ganhou de 57% a 43% no segundo turno, enquanto em outras capitais, como Salvador, perdeu de 70% a 30%.

Em Alagoas, o PT tem pouca expressão e apenas um deputado federal, Paulão. Por isso, quem lidera o campo lulista é o grupo formado pelo senador Renan Calheiros (MDB) e pelo ministro de Transportes, Renan Filho (MDB), que tem como aliado o governador Paulo Dantas (MDB) e o presidente da Assembleia Legislativa, o deputado estadual Marcelo Victor (MDB).

Esse grupo ainda não definiu quem será o candidato em 2024. Entre os cotados estão dois deputados estaduais do MDB, o ex-prefeito Rui Palmeira (PSD), o vice-governador Ronaldo Lessa (PDT) e Rafael Brito, que está no primeiro mandato e se projetou politicamente como secretário estadual de Educação com a concessão de bolsas para os estudantes.

Apesar da derrota do PT nas duas últimas eleições nacionais para Bolsonaro em Maceió, Brito aposta na aprovação do governador Paulo Dantas na capital e no apoio do governo federal para reverter o favoritismo do prefeito. “Perdemos na capital no segundo turno, mas o cenário era outro.”

Até 2024 o governo federal terá tempo para atuar, desenvolver suas políticas públicas e mudar o quadro na cidade”, diz “tio Rafa”, apelido que usou em 2022.

Em nota, a prefeitura de Maceió afirma “que as mudanças recentes promovidas no secretariado da cidade têm por objetivo melhorar a capacidade de gestão”.

“A renovação nas secretarias vai aperfeiçoar os programas existentes, já reconhecidos como fontes de transformação social, impulsionar os novos e atrair investimentos”, diz.

Valor Econômico