PM de SP repele protesto indígena com violência

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Foto: Ana Paula do Amaral/COIAB

A Tropa de Choque da Polícia Militar lançou bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha contra famílias indígenas que bloquearam a rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo, em protesto que começou nesta terça (30). O erro dos guaranis foi não estarem vestidos com camisetas amarelas da seleção brasileira. Se assim fosse, poderiam ter conseguido muito mais tempo dado o histórico do poder público com os bloqueios bolsonaristas. Os indígenas protestavam contra o PL 490, que está tramitando em ritmo acelerado na Câmara e pode chancelar a ideia do marco temporal. Ou seja, de que os povos tradicionais só podem reivindicar os territórios em que já estavam na promulgação da Constituição Federal, em outubro de 1988. O que é uma aberração, uma vez que muitos estavam expulsos de suas áreas naquele momento. No caso dos guaranis da região do bairro do Jaraguá, eles se amontoam em um território com menos de dois campos de futebol, enquanto reivindicam outro de 532 hectares. Estavam negociando uma caminhada para destravar a rodovia, quando a retirada violenta começou. A polícia reclama de flechas lançadas contra eles. Como sabemos, elas são armas de destruição em massa.

A PM também foi usada para desobstruir rodovias nos bloqueios realizados por bolsonaristas que, insatisfeitos com a vitória de Lula, ocuparam rodovias pedindo um golpe militar no ano passado. Mas, na maioria dos casos, houve condescendência. Na rodovia Castello Branco, por exemplo, houve bloqueios desde o dia 31 de outubro, mas a Tropa de Choque só usou gás e bombas no dia 2 de novembro – após decisão do STF que mandou liberar as rodovias. Relembrar é viver: nem bem Jair Bolsonaro perdeu a eleição e a extrema direita que o apoia cerceou o direito de ir e vir de milhões de brasileiros, pedindo pediu golpe militar com expurgo de adversários. Muitos bloqueios estavam, aliás, sendo fomentados por empresários que apoiavam o ex-presidente. Mais de 20 estradas tiveram trechos trancados só em São Paulo. Com a leniência de polícias militares e rodoviárias, eles impediram por dias ou semanas o transporte de pessoas e cargas, o que gerou desabastecimento. Foi afetado o fornecimento de carne bovina e suína, aves e peixes, leite, hortaliças, legumes e frutas. A Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) reconheceu, por exemplo, que no dia 1º de novembro caiu a quantidade de veículos que entraram no entreposto da Vila Leopoldina na capital. Culpa do bloqueio das rodovias. Um funcionário foi além e contou a esta coluna que metade dos caminhões de hortaliças, legumes e frutas não chegaram naquela madrugada ao Ceagesp porque motoristas ficaram parados na estrada. “Temos que trabalhar, temos que escoar a mercadoria. É lamentável, afeta o abastecimento, os preços, e quem sai prejudicada é a população”, afirma. Mesmo com esses impacto negativo na população, muitos bloqueios foram mantidos no Brasil e em São Paulo. É inegável a força do bolsonarismo nas polícias militares e na política estadual, onde um de seus ex-ministros se tornou governador em São Paulo. Você pode discordar do método de pressão utilizado em ambos os casos, o bloqueio de rodovias. Mas é perturbador que quem pede golpe de Estado seja mais bem tratado quando faz isso do que quem pede respeito à sua existência.

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