Bolsonarismo do Republicanos impede acordo com Lula

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Foto: Claudio Kbene

Na tentativa de não abrir mão da ministra do Turismo, Daniela Carneiro, emissários de Lula sondaram nos últimos dias a disposição de lideranças do Republicanos de apadrinhar sua nomeação para que ela continuasse no governo. As tratativas foram confirmadas à equipe da coluna por três fontes diferentes que acompanharam as discussões em Brasília.

A sondagem, porém, não foi adiante. Tanto o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira, como o líder do partido na Câmara, Hugo Motta, deixaram claro aos interlocutores de Lula que não pretendem ter relação formal com seu governo.

De acordo com o que foi dito a ministros e lideranças governistas no Congresso, o partido, para o qual Daniela tenta migrar após pedir a desfiliação do União Brasil, não se opõe à sua permanência no ministério.

Mas não vai considerá-la uma ministra da cota da legenda e nem contrapartida para algum compromisso de apoio oficial a Lula.

“Eles querem ser nossos amantes, querem namorar escondido. Não vão nos assumir publicamente”, ironizou um parlamentar lulista que está à par das conversas.

Daniela, nomeada no início do ano na cota do União Brasil, deve ser substituída até a próxima semana pelo correligionário Celso Sabino (PA), e a principal razão da troca e que o partido ao qual ela pertencia quando foi escolhida, o União Brasil, quer o cargo para continuar apoiando o governo Lula em votações no congresso.

Daniela do Waguinho, como era conhecida até assumir a pasta, já estava na berlinda havia dois meses, desde que Waguinho rompeu com a Executiva do União e migrou para o Republicanos, partido que, a despeito de ter apoiado Jair Bolsonaro em 2022, tem votado a favor do governo na Câmara.

A ministra ainda é filiada oficialmente ao União, mas solicitou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) autorização para deixar o partido sem incorrer na infidelidade partidária. O pedido ainda não foi apreciado pela corte, mas foi suficiente para que a legenda que o elegeu no ano passado exigisse mudanças no Turismo.

A situação da ministra se agravou diante da pressão da União pela sua derrubada desde a votação da medida provisória dos ministérios, no início do mês.

A iniciativa do Planalto de cortejar o Republicanos tem a ver com seu comportamento governista na Câmara — o próprio Marcos Pereira costuma afirmar que seus correligionários votam mais a favor do governo do que os parlamentares de outras legendas.

Leva em conta, ainda, o fato de que Waguinho pretende levar para o Republicanos cinco deputados federais, incluindo sua mulher. Isso aumentaria a bancada do Republicanos de 41 para 46 deputados.

Em entrevista à GloboNews na última quarta-feira, Pereira disse ter acordado com Waguinho que, caso Daniela conseguisse formalizar sua filiação ao Republicanos, sua permanência na Esplanada não seria um problema desde que o cargo não fosse atribuído ao partido.

Nada disso exclui, entretanto, uma eventual distribuição de cargos para aliados do casal de Belford Roxo na máquina federal. Segundo um deputado federal petista ouvido sob reserva pela equipe da coluna, indicações do grupo de Waguinho e Daniela na Secretaria do Patrimônio da União (SPU) e em gerências regionais do Ibama no Rio já estariam encaminhadas pelo governo.

Como publicamos no blog no último sábado, o comando do Ministério do Turismo se tornou o principal dilema da equipe palaciana do governo Lula pela gratidão do presidente ao apoio dos dois políticos no segundo turno na Baixada Fluminense, colégio eleitoral com forte presença bolsonarista.

Ao manter a ministra Daniela Carneiro no cargo na última terça-feira (13), Lula não só fez um gesto de deferência à aliada e ao seu marido como também ganhou tempo para compensar a iminente mudança na pasta e costurar uma solução que contemple as exigências de Waguinho, que passou a semana em Brasília buscando apoio no governo.

Nesse cálculo, o Palácio do Planalto não está de olho apenas em recompensar o apoio de Daniela e de seu marido na eleição de 2022. Após uma série de derrotas na Câmara, o time palaciano de Lula trabalha para ampliar a base governista na Casa – ainda que o apoio venha de legendas independentes como o Republicanos.

Com a margem apertada no Congresso, o suporte de um partido que tem se demonstrado fiel nas votações prioritárias para o governo é bem-vindo para o governo. Nada indica que se estenderá aos 42 deputados do partido – o próprio presidente da legenda disse à GloboNews que a sigla pode oferecer, no máximo, 15 deputados.

Em meio à pressão dos demais partidos do Centrão e do União Brasil na Câmara, pode ser o suficiente para aliviar o governo Lula. Certamente é muito mais do que os votos entregues por Daniela do Waguinho desde o início do governo.

O Globo