Bolsonaro enfrenta hoje maldição do Power Point

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Foto: Clauber Caetano/Divulgação

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode se tornar, nesta quinta-feira, 22, o segundo político a ser punido após usar apresentações feitas com o programa de slides por computador, em uma espécie de “maldição do PowerPoint”. Em julho de 2022, Bolsonaro recorreu ao instrumento digital para atacar, sem provas, o sistema eleitoral brasileiro a embaixadores estrangeiros reunidos por ele no Palácio da Alvorada. Agora, corre o risco de ficar inelegível até 2030.

Em março do ano passado, o ex-deputado e ex-procurador Deltan Dallagnol (Podemos-PR) teve de indenizar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em R$ 75 mil por danos morais. Deltan também usou um PowerPoint durante uma entrevista em uma das fases da Operação Lava Jato em 2016, quando tentava comprovar que Lula era “comandante máximo do esquema de corrupção” na Petrobras.

Na reunião de Bolsonaro com os diplomatas no Palácio da Alvorada, o ex-presidente apresentou vídeos descontextualizados, fez ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e usou argumentos refutados pela Justiça Eleitoral. Uma das desinformações ditas aos embaixadores foi a de que hackers ficaram por oito meses dentro dos computadores do TSE e tiveram acesso a senha de um ministro da Corte, ocasionando fraudes na eleição de 2018, a mesma em que saiu vitorioso.

“Eu sou acusado o tempo todo de querer dar o golpe, mas estou questionando antes porque temos tempo ainda de resolver esse problema”, afirmou o presidente enquanto apresentava as suas supostas provas de fraudes do sistema eleitoral a representantes internacionais.

Eu sou acusado o tempo todo de querer dar o golpe, mas estou questionando antes porque temos tempo ainda de resolver esse problema
Jair Bolsonaro, então presidente, em reunião com embaixadores

Caso se torne inelegível, Bolsonaro será o terceiro dos nove presidentes desde a redemocratização a sofrer um processo de inelegibilidade. O primeiro foi Fernando Collor de Mello, após o seu processo de impeachment, em 1992, e o segundo foi o atual presidente Lula após ser condenado a 12 anos e um mês de prisão em 2018, em decorrência de apurações da Lava Jato. Em abril de 2021, o STF anulou a condenação, permitindo ao petista a recuperação dos direitos políticos.

Tentar convencer interlocutores por meio de slides feitos no PowerPoint foi uma tática de Deltan Dallagnol, em 2016, no auge da Lava Jato. Dallagnol, que na época era procurador do Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba, usou o programa em uma entrevista coletiva de imprensa para destacar imagens e gráficos que “apontavam” Lula como o centro de uma organização criminosa que promoveu desvios de recursos públicos na Petrobras.

Durante a entrevista, Dallagnol afirmou que a propina destinada ao ex-presidente, por meio de desvios na estatal, superava a quantia de R$ 3 milhões. No quadro branco atrás do então coordenador da Lava Jato, o nome de Lula era cercado por setas que seriam indícios da participação do petista nos crimes de lavagem de dinheiro.

“Hoje, o MPF acusa o senhor Luiz Inácio Lula da Silva como o comandante máximo do esquema de corrupção identificado na Lava Jato. […] Passaremos a apresentar o conjunto de evidências e de contexto que nos fazem concluir, para além de qualquer dúvida razoável, que Lula foi o comandante do esquema criminoso descoberto pela Lava Jato”, disse Dallagnol, no início da apresentação.

Hoje, o MPF acusa o senhor Luiz Inácio Lula da Silva como o comandante máximo do esquema de corrupção identificado na Lava Jato
Deltan Dallagnol, então procurador da República, em 2016

No ano passado, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) condenou, por quatro votos a um, Dallagnol a pagar R$ 75 mil em indenização a Lula. Na decisão, o colegiado afirmou que o ex-procurador “extrapolou os limites de suas funções ao utilizar qualificações desabonadoras da honra e da imagem de Lula, além de empregar linguagem não técnica ao participar da entrevista”. Os magistrados também consideraram que Deltan “imputou fatos que não constavam da denúncia explicada durante a coletiva”.

 

Porém, o maior revés para Dallagnol ocorreu no dia 16 de maio deste ano, após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassar, por unanimidade, o seu mandato de deputado federal pelo Estado do Paraná, com base na Lei da Ficha Limpa.

Nas redes sociais oficiais do governo federal, um post em alusão ao PowerPoint de 2016 foi publicado para apresentar iniciativas da gestão petista. A ação foi vista como uma provocação.

Estadão