Cargo cobiçado por ministra do Turismo é campo minado

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Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil

O equipamento federal de saúde instalado no Rio de Janeiro, que Daniela Carneiro almeja controlar como compensação pela perda do Ministério do Turismo, é composto por hospitais que tradicionalmente são motivo de denúncia de ineficiência e corrupção. Reclamações desse tipo, com detalhamento de casos, foram encaminhadas pelo Sindicato dos Trabalhadores Federais em Seguridade e Seguro Social (Sindsprev-RJ) à equipe de transição do governo Lula e muitas delas confirmadas. As irregularidades foram incluídas em um relatório concluído em abril, elaborado por uma comissão técnica criada na gestão atual do Ministério da Saúde e foram constatadas em vistorias realizadas nos seis hospitais federais do Rio. O documento relata insuficiência de profissionais e sucateamento de setores inteiros que foram fechados nos últimos anos. Quase 300 leitos continuam fechados para atendimento de alta complexidade. De acordo com o censo hospitalar, esse número era de quase 600 em janeiro.

As situações mais graves são as dos hospitais de Bonsucesso (HFB), do Andaraí (HFA) e dos Servidores do Estado (HFSE), que totalizam 27 setores fechados por falta de manutenção, obras ou devido a equipamentos deteriorados. Os seis hospitais federais fluminenses não passam por obras e avaliações há pelo menos sete anos. A situação da rede é tão grave que no dia 29 de março deste ano a questão foi debatida na Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Rio, quando os parlamentares do estado cobraram soluções urgentes. Apesar desse cenário de penúria, os hospitais federais do Rio frequentemente aparecem no noticiário por denúncias de corrupção. Um dos últimos escândalos aconteceu no fim de maio, quando o diretor-geral do Hospital Cardoso Fontes, Gustavo Albino Pinto Magalhães, pediu exoneração em meio a denúncias sobre a realização de uma obra feita sem licitação para instalar isolamento acústico em seu gabinete. Enquanto o diretor se dava esse luxo, os pacientes da unidade sofrem com a falta de itens como algodão, fralda, luvas, agulhas, soro fisiológico, avental descartável para cirurgias, fio de nylon, entre outros. Em agosto do ano passado, um relatório da área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) identificou quase R$ 100 milhões em contratos sem licitação entre 2019 e 2021. O montante representa 70% de todos os recursos encaminhados à unidade desde o começo do governo de Jair Bolsonaro. Um ano antes, a Câmara determinou ao TCU que analisasse contratos de prestação de serviços do mesmo hospital, por suspeita de irregularidades. Segundo os parlamentares, o hospital dispensou, de maneira irregular, licitações para formalizar contratos de prestação de serviços durante os anos de 2019, 2020 e 2021. “Essa prática irregular representa 69% das contratações. A dispensa de licitação é autorizada em casos emergenciais, mas o hospital vem adotando para a contratação de serviços básicos e contínuos, como limpeza, vigilância e monitoramento eletrônico”, disse na época o deputado Elias Vaz (PSB-GO), ao site Congresso em Foco. Nos últimos quatro anos, esses hospitais ficaram sob influência política do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente. Várias nomeações para cargos-chave das unidades foram atribuídas a ele. Agora, essa rede pode ficar sob controle de Daniela Carneiro e seu marido, Waguinho, prefeito de Belford Roxo, como uma espécie de prêmio de consolação pela perda do Ministério da Saúde. Ex-ministro da Saúde de Lula, José Gomes Temporão, critica qualquer ingerência que não segue os padrões técnicos. “A rede federal no Rio sempre aguçou a cobiça de partidos e políticos. Loteamento de cargos, controle de verbas, garantia de atenção e internações em troca de votos”, explicou Temporão à coluna. “Essa realidade oscila para melhor ou pior ao longo décadas e se agravou nos governos Temer e Bolsonaro”. Para o ex-ministro, a rede federal do Ministério da Saúde do Rio precisa de profissionalização da gestão, atualização tecnológica, ampliação do quadro de técnicos e especialistas e integração com as redes estadual e municipais de saúde. “É um patrimônio de grande valor do povo do Rio e do país, a ministra Nísia está imbuída desse sentimento e da importância dessas medidas. Entregar os hospitais para partidos ou políticos? Com que objetivo? Qual o sentido? Com certeza não será a do interesse público e da saúde pública”, questiona Temporão.

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