Como o governo aprovou MP dos Ministérios

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Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo

Para aprovar a Medida Provisória (MP) que reorganiza a Esplanada dos Ministérios — que poderia culminar na principal derrota do governo caso não fosse votada — a articulação do Planalto viveu horas de tensão, telefonemas e conversas entre a manhã de quarta-feira e esta quinta-feira, quando a matéria passou pela votação no Senado. Confira, ponto a ponto, como se deu a operação “vira-votos” do governo:

Para aprovar a MP, Lula precisou entrar pessoalmente em campo pela primeira vez na articulação. Na manhã de quarta-feira, o presidente se reuniu com os ministros da Casa Civil, Rui Costa; das Relações Institucionais, Alexandre Padilha; e o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), para discutir o assunto no Palácio da Alvorada.

Lula falou com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Na conversa, segundo interlocutores do parlamentar, Lira reclamou de dificuldades na articulação do governo, além de relatar incômodo com ataques que tem recebido do senador Renan Calheiros (MDB-AL), aliado do Planalto, nas redes sociais. Os dois são adversários políticos em Alagoas. O presidente da Câmara disse ser preciso “respeito” na política. Padilha, ministro das Relações Institucionais, também esteve em uma reunião com Lira e líderes partidários da Câmara na residência oficial do presidente da Casa.

À tarde, Lula recebeu ainda o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), um dos principais aliados de Lira e crítico do governo.

Vieram à torna, ainda no meio da tarde de quarta-feira que, o governo Lula havia empenhado, no dia anterior, mais R$ 1,7 bilhão em emendas para os parlamentares. Essa liberação de recursos é a maior, em um só dia, do atual governo, que enfrenta problemas na relação com os parlamentares.

Uma força-tarefa foi montada para virar votos na Câmara. Um dos aliados com a missão foi o prefeito de Belford Roxo, Waguinho, marido da ministra do Turismo, Daniela Carneiro. A ofensiva para sensibilizar os parlamentares ocorreu até o momento da votação. Conforme a votação se aproximava, a situação foi melhorando, com a sensibilização de parte das bancadas de Republicanos, PP e União Brasil.

Em entrevista a jornalistas, Arthur Lira envia diversos recados ao governo dizendo que, caso a MP não fosse aprovada, “não é por culpa do Congresso, não deverá a Câmara ser responsável”. Segundo o presidente da Câmara, “há uma insatisfação generalizada dos deputados, e talvez dos senadores, que ainda não se posicionaram, com a falta de articulação política do governo, não de um ou outro ministro”

O Palácio do Planalto calcula aprovação apertada, próxima a um empate, na votação da MP. Por volta das 19 horas, integrantes do governo acreditavam em vitória tímida e reconhecia processo de demonstração de força do presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL).

Às 20h35min, no auge da tensão, Padilha atravessou apressado o corredor do quarto andar. Ele havia acabado de sair da sala do presidente. Ao ser questionado sobre o prognóstico para a votação, afirmou apenas que tinha confiança na aprovação da MP. Lula só saiu do palácio às 20h50min, mais tarde do que o normal. Ele não chegou a se encontrar com Lira, com quem falou apenas por telefone — e ouviu um alerta sobre a “desarticulação” do Executivo federal.

A Câmara aprova a MP por 337 a 125, evita ampliar a crise com Lula, mas dá recados sobre falta de articulação política.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ao chegar à Casa, afirmou que esperava a aprovação plena da medida da reestruturação dos ministérios e garantiu que seria votada no início da pauta.

Senadores aprovaram a medida provisória. O relator, senador Jaques Wagner (PT-BA), manteve o mesmo texto referendado pela Câmara, que foi aprovado pelos senadores por 51 votos favoráveis contra 19 e uma abstenção. A medida agora vai à sanção presidencial, mas isso não precisa necessariamente acontecer dentro do prazo de validade. A oposição orientou contra a aprovação da medida.

O Globo