Conheça o principal comparsa de Bolsonaro

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Foto: Reprodução

O conteúdo do celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, traz uma série de diálogos com o coronel Jean Lawand Junior, então subchefe do Estado Maior do Exército. O material, revelado pela revista Veja nesta quinta-feira, mostra Lawand pedindo repetidamente a Cid que convencesse o ex-presidente a colocar em prática um golpe de estado.

Hoje com 51 anos, o coronel de artilharia ingressou nas Forças Armadas em 1992, aos 20, como aspirante a oficial na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), no Sul do Rio — mesma unidade frequentada por Bolsonaro em seus tempos de caserna. A passagem de Lawand pelo local foi marcante: ele computou a melhor média entre todos os alunos que se formaram em 1996 (9,517, na artilharia). O feito rendeu uma menção no Anuário Estatístico da Aman.

Especializado em artilharia, Lawand chefiou, ainda como tenente-coronel, o 6º Comando de Mísseis e Foguetes (6º CFA), cargo que ocupou até dezembro de 2020. Antes, foi comandante do Corpo de Alunos da Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), em Campinas (SP), onde ele próprio passara um ano antes de prosseguir com a formação na Aman.

Com os aspirantes a oficial sob a batuta de Lawand , a unidade recebeu, em 2017, as 34 primeiras brasileiras autorizadas buscar a carreira militar bélica, com chance de alcançar a patente mais alta do Exército. O ingresso das mulheres aconteceu por determinação da ex-presidente Dilma Rousseff, ainda em 2012. A lei sancionada deu cinco anos para a EsPCEx e a Aman se adequarem.

— As adaptações foram imensas e não incluíram apenas reformas na escola, mas mudanças na mentalidade — contou Lawand ao GLOBO em entrevista, à época, sobre a pioneira turma feminina. — Havia brincadeiras que fazíamos com os garotos que não poderíamos fazer com elas. Mas o impressionante é que elas eram as primeiras a não querer diferenciação.

Em março de 2021, Bolsonaro decidiu incluir no Quadro Ordinário do Corpo de Graduados Efetivos da Ordem do Mérito Militar, em meio a dezenas de outros oficiais, o coronel de artilharia Jean Lawand Junior. A honraria é destinada a militares, civis e instituições que tenham prestado serviços relevantes à nação brasileira, especialmente ao Exército.

Segundo a Veja, Lawand foi destacado pelo governo Lula para assumir o posto de representante militar em Washington, nos Estados Unidos. Atualmente, ele recebe um salário bruto de pouco mais de R$ 25 mil por mês.

De acordo com a revista, após a derrota de Bolsonaro nas urnas, Lawand manteve contato frequente com Mauro Cid e cobrou, repetidamente, que um plano golpista fosse colocado em prática. “Cidão, pelo amor de Deus, cara. Ele dê a ordem, que o povo está com ele”, implorou o coronel na noite de 1º de dezembro. “Acaba o Exército Brasileiro se esses caras não cumprirem a ordem do Comandante Supremo”, completou, referindo-se aos generais que chefiavam a Forças Armadas e ao próprio Bolsonaro.

Na mesma mensagem, Lawand chega a vislumbrar uma futura prisão do então presidente. “Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso”, previu o coronel, antes de acrescentar: “E pior, na Papuda, cara”. A resposta de Cid, porém, foi lacônica: “Mas o PR (presidente) não pode dar uma ordem se ele não confia no ACE (Alto-Comando do Exército)”.

No dia seguinte, Lawand retomou o assunto e relatou o encontro de “um amigo do QG” com o general Edson Skora Rosty, então subcomandante de Operações Terrestres, que teria anuído com a ofensiva. “Foi uma conversa longa, mas, para resumir, se o EB (Exército Brasileiro) receber a ordem, cumpre prontamente”, disse, antes de ponderar: “De modo próprio o EB nada vai fazer, porque será visto como golpe. Então, está nas mãos do PR (presidente)”.

Nove dias mais tarde, as intenções golpistas permaneciam circundando as interações da dupla. “Se a cúpula do Exército não está com ele, da Divisão para baixo está”, garantiu Lawand. “Assessore e dê-lhe coragem. Pelo amor de Deus”, prosseguiu, mais uma vez em tom de súplica. Cid retrucou informando que havia “muita coisa acontecendo”, “passo a passo”. O coronel festeja: “Excelente!!!”

Procurado pela revista, Lawand afirmou ter uma relação de amizade com Cid, com quem conversava sobre “amenidades”. Ele disse não se lembrar de nenhum diálogo de teor golpista. O general Rosty também relatou que não se recordava de conversas do gênero. Cid está preso desde o início de maio após uma operação da PF sobre fraudes em cartões de vacina, na qual seu telefone acabou apreendido.

O Globo