CPI do DF quer saber por que Ibaneis abriu a Esplanada no 8/1

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Foto: Reprodução, Youtube/TV Câmara Distrital

Enquanto a CPMI do 8/1 só ontem decidiu quais os convocados para depor aos parlamentares da Câmara e do Senado, a comissão da Câmara Distrital do Distrito Federal, que apura os mesmos fatos ocorridos em 8 de janeiro, já fez 15 sessões. Segundo seu presidente, o deputado Chico Vigilante, do PT, a chamada Comissão dos Atos Antidemocráticos jogou luz sobre muitos pontos obscuros e sobre personagens que estavam passando desapercebidos. Um deles é o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), citado por um coronel da Polícia Militar como o responsável pela ordem para abrir a Esplanada dos Ministérios ao acesso do grupo golpista. “Se a Esplanada estivesse fechada, não teria acontecido o que aconteceu”, afirmou Chico Vigilante, em entrevista à coluna.

A informação de que o governador do DF deu a ordem para liberar a área foi atribuída ao tenente-coronel PM Paulo José, citado por um colega de farda ouvido na CPI, o coronel Marcelo Casimiro. A previsão é que Paulo José seja convocado em breve para esclarecer esse fato. O deputado destaca como importantes as convocações de três generais do Exército – dois deles já falaram à comissão: Augusto Heleno e Gustavo Henrique Dutra, ex-chefe do Comando Militar do Planalto. Também valoriza o depoimento de dois proprietários de uma rede de supermercados de Brasília que teriam financiado o acampamento golpista e a admissão por parte do Exército de que havia tráfico de drogas e prostituição no acampamento à frente do QG. UOL – Qual o balanço que o sr. faz da CPI dos Atos Antidemocráticos até agora? Chico Vigilante – Primeiro, uma questão importante foi que quando aconteceu o movimento golpista de 8 de janeiro a Câmara Legislativa do Distrito Federal estava de recesso. Mas mesmo assim eu propus com mais dois deputados do PT que a gente fizesse a CPI. Apresentamos o pedido de requerimento e conseguimos chamar uma sessão extraordinária, mostrando para o presidente da Câmara a gravidade daqueles atos. Consegui a assinatura de 23 dos 24 deputados e no dia 7 de fevereiro foi instalada a CPI. Nós já fizemos 15 sessões, já ouvimos uma série de coronéis da Polícia Militar do Distrito Federal, dois generais. Ouvimos dois financiadores que são proprietários de uma rede de supermercado aqui no Distrito Federal. Essa rede tem mais de mil empregados. Portanto são empresários de peso que estavam lá no acampamento. Esse negócio não começou dia 8, começou muito antes. Esses empresários tinham financiado outdoors. De repente, no meio de setembro, eles inundaram Brasília com peças alusivas à campanha do Bolsonaro. Depois, quando o PT derrubou na Justiça esses outdoors, imediatamente eles adaptaram a mensagem, dizendo que era sobre a Copa do Mundo, quando, na verdade, era a campanha do Bolsonaro. Esses mesmos depois contrataram um trio elétrico gigante para o acampamento. A gente tem informação que eles levavam alimento também. Quais os pontos altos da CPI até agora? Um momento importante foi a vinda de um oficial general do Exército da ativa depondo na CPI, o general Dutra Gustavo Henrique Dutra, ex-chefe do Comando Militar do Planalto). Os coronéis da Polícia Militar estavam jogando toda a culpa no Exército e a gente conseguiu trazer o general Dutra. O depoimento dele foi muito bom. Eu acho que outro momento importante foi quando o Exército assume que naquele acampamento tinha droga, ou seja, tinha tráfico Fala que tinha arma, e isso é crime. E fala que tinha prostituição, que também é crime. Afinal, por que o acampamento golpista não foi retirado da frente do QG? O pessoal do governo do Distrito Federal ficava o tempo todo dizendo que aquilo era uma área do Exército e o general disse que aquela não é uma área do Exército, que é uma área de servidão. Ele falou que se tirasse o acampamento sem ordem judicial poderia ser encarado como abuso de autoridade. Mas se fosse qualquer outra categoria acampada ali não teria ficado um minuto. Na minha opinião, não precisava de decisão judicial. Como se explica que aqueles vândalos tenham se movimentado com tanta liberdade? Eu quis saber de quem tinha sido a ordem para abrir a Esplanada para os golpistas. Se a Esplanada estivesse fechada, não teria acontecido o que aconteceu. O coronel Marcelo Casimiro, da PM do DF, disse que a ordem para abrir a Esplanada foi do tenente-coronel Paulo José, que deveria ter prestado depoimento, mas conseguiu um atestado do psiquiatra dizendo que ele não está bem das faculdades mentais. Segundo Casimiro, Paulo José disse que foi o Ibaneis (governador Ibaneis Rocha) que deu a ordem para abrir a Esplanada. Nós queremos esclarecer isso, Ibaneis tem que explicar por que mandou abrir a Esplanada. Para mim está claro hoje que quando o Ibaneis diz que teve um apagão na segurança pública, na verdade vejo que o apagão foi deliberado. Estava programado que colocariam 600 policiais pra fazer a segurança da Esplanada naquele dia. Inicialmente colocaram somente 200 alunos do curso de formação da polícia. Outra coisa: em vez de colocar a polícia de prontidão colocaram de sobreaviso. Prontidão é quando o soldado fica no quartel, com as armas e tudo. No sobreaviso, o cara vai pra casa e caso aconteça alguma coisa vão ligar para ele. Uma irresponsabilidade para aquele momento, já que os golpistas tinham inundado as redes sociais, dizendo que vinham a Brasília dar um golpe, tomar o poder. Não se vê na CPI da Câmara Distrital do DF os confrontos e a falta de respeito que acontecem na CPMI do Congresso. Não acha que esse tipo de bate-boca confunde a opinião pública? A CPI da Câmara Legislativa tem um grupo pequeno que segue mais ou menos o que têm feito na CPMI. É uma coisa que eu não gosto de chamar de narrativa, mas é uma estratégia da extrema-direita para tentar jogar responsabilidade em cima do Lula, dizendo que o presidente é o culpado, quando ele seria um bobão se tivesse programado um autogolpe. Claro que isso é inimaginável. Eles tentam emplacar isso aqui na Câmara Legislativa. Não colou, mas eles têm tentado o tempo todo emplacar isso na CPI nacional. Portanto, eu já conversei com algumas pessoas da CPI nacional, sem querer dar conselho a ninguém, mas é preciso cuidado com essa tentativa de fazer tumulto e entrar fundo nas investigações. O que achou de o governo ter lutado no começo para que a CPMI não fosse instalada? A bancada que dá sustentação ao governo errou. Acho que deveriam ter proposto a criação dessa CPMI logo no início, a exemplo do que nós fizemos aqui no Distrito Federal. Acho que se os partidos governistas tivessem feito isso logo no começo tinha tirado esse discurso da extrema direita e e já estariam bastante avançados nas investigações. Acho que no caso do 8 de janeiro, quanto mais investigação melhor. Temos a Polícia Federal investigando, o Ministério Público deveria estar investigando com mais vigor e tem o trabalho fundamental que é feito pelo ministro Alexandre de Moraes, que pra mim é o grande sustentáculo da democracia e do Estado de Direito no pais. O legislativo não poderia deixar de investigar também. Qual o objetivo final que o sr. quer alcançar com a CPI? Nós vamos ao final individualizar as condutas e indiciar as pessoas responsáveis.. Aí a gente encaminha para o Ministério Público para que ofereça as denúncias. Depois, que o Judiciário puna.

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