Crescimento econômico fortalece Lula no Congresso

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Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo

Após críticas de que mantinha o foco nas relações exteriores, alheio às turbulências internas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou a casa arrumada desta vez antes de embarcar, na noite desta segunda-feira (19), para um novo périplo internacional que contemplará França, Itália e Vaticano. Antes de viajar, Lula resolveu a crise com o União Brasil, melhorou a relação com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), engatilhou conversas com Republicanos, PL e Progressistas (PP), e conseguiu turbinar o discurso econômico com a mudança da nota de crédito do Brasil.

No sábado, durante sua passagem por Belém, Lula deixou acordado com o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), que o deputado Celso Sabino (União-PA) será nomeado para o Ministério do Turismo assim que retornar da viagem à Europa no dia 24 de junho. Lula, Hélder e Sabino almoçaram juntos na capital paraense.

Além da bancada do União Brasil, que não se sente representada pela ministra Daniela Carneiro (RJ) – que fez um pedido judicial para se desfiliar da legenda -, Sabino também assumirá o ministério com o apoio do grupo político de Helder, um dos principais aliados nacionais de Lula.

“Se o Pará tiver mais um ministro, nós não vamos achar ruim porque fortalece o nosso Estado”, disse o governador no sábado, em evento em Belém. “Portanto, caso a sua decisão seja essa, o Celso representará todos nós junto com o ministro Jader [Filho, ministro das Cidades e irmão do governador] para que o Pará possa estar fortalecido”, completou, na solenidade que oficializou Belém como sede da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 30), em 2025.

Se o Pará tiver mais um ministro, nós não vamos achar ruim”
— Helder Barbalho

Em paralelo, Lula deixou emissários para intensificar as articulações a fim de trazer Lira, e alas do PP, PL e Republicanos para a base governista. A ideia é fidelizar cerca de 90 votos dessas três legendas que já se alinharam ao governo em votações como a das medidas provisórias de reestruturação dos ministérios, do programa Minha Casa, Minha Vida, e do novo arcabouço fiscal. Os partidos não terão de declarar apoio ao governo – haverá, apenas, alinhamento pontual nas pautas econômica e social.

A se confirmar esse movimento, somando os cerca de 130 votos dos aliados da esquerda, e mais cerca de 100 votos de MDB, PSD, Podemos e Avante, o governo alcançará o quórum para aprovar, se necessário, propostas de emenda constitucionais (PEC). “São votos que já existem nos temas pontuais, e a ideia é fidelizá-los”, disse ao Valor uma fonte do entorno do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

Até a nomeação de Sabino, avançarão as composições para compensar os aliados fluminenses – a ministra Daniela Carneiro e o marido dela, o prefeito de Belford Roxo (RJ), Wagner Carneiro, o Waguinho, dirigente do Republicanos. Waguinho quer se fortalecer como liderança da Baixada Fluminense, e conta com a destinação generosa de verbas federais para o município. Outro desejo é que Belford Roxo seja escolhido como sede de um futuro instituto federal de ensino técnico.

“Política é nuvem, e o ambiente não está mais nublado”, disse ao Valor uma fonte palaciana a par das articulações dos últimos dias. A percepção interna é de que o governo conseguiu reagir ao cerco da última semana de maio, quando a MP de reestruturação da Esplanada quase foi rejeitada.

De lá pra cá, Lula tomou as rédeas da articulação política. Reuniu-se duas vezes com Arthur Lira a sós, nos dias 5 e 16 de junho. Também conversou pessoalmente com o líder do União Brasil, deputado Elmar Nascimento (BA), na crise da medida provisória, e por telefone com lideranças do MDB, Republicanos, PSD, entre outros nomes influentes do Congresso. Orientou o ministro da Casa Civil, Rui Costa, a se aproximar de Elmar e de outras lideranças parlamentares.

A economia mostrou sinais de vitalidade com o resultado expressivo de 1,9% do PIB [Produto Interno Bruto] no primeiro trimestre, e a revisão da nota de crédito pelo S&P Global Ratings para “positiva”. O preço da gasolina continua caindo, os programas sociais recriados estão avançando, e aliados do presidente acreditam que esse conjunto de boas notícias influenciará a aprovação popular do governo. “Se tem melhora na percepção da população em relação à economia, não tem como não se reverter em popularidade para o presidente”, diz um auxiliar de Lula.

Nesse cenário, acredita-se que o governo terá mais instrumentos para estabelecer uma convivência pacífica com Arthur Lira. Para arrematar as conversas com o União Brasil, Lula ainda pretende se reunir com o presidente da sigla, deputado Luciano Bivar (PE), e com o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Davi Alcolumbre (AP), quando regressar ao Brasil.

A boa relação de Lula com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e com Alcolumbre permitem que o governo trafegue sem solavancos na Casa. Lula viajará seguro de que não haverá contratempos com a sabatina do advogado Cristiano Zanin, indicado para o Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 21, na CCJ de Alcolumbre.

O Valor apurou que Lula convidou Alcolumbre para acompanhá-lo na viagem ao Pará, a fim de conversar com o aliado. Setores do União acham que Alcolumbre tem espaço de sobra no governo – indiretamente, ele controla os ministros da Integração Regional e das Comunicações. Segundo um interlocutor do senador, ele não atendeu o convite de Lula porque viajou ao Rio Grande do Norte para comparecer a um evento sobre energia eólica.

O presidente também se comprometeu com aliados a viajar menos para o exterior. Ele pretende ficar mais tempo no país, acompanhar de perto a articulação política, concluir o trabalho de consolidação da base parlamentar, percorrer os Estados e tentar alavancar sua popularidade.

Valor Econômico