Do Val divulgou documentos sigilosos sobre golpistas

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Foto: Pedro França/Agência Senado

O senador Marcos do Val (Podemos-ES), que foi alvo de uma operação da Polícia Federal nesta quinta-feira, teve acesso já no final de janeiro ao relatório que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) enviou à comissão do Congresso que controla os órgãos de inteligência do governo federal.

Segundo informações apuradas junto a fontes da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI), que reúne deputados e senadores, Do Val foi o segundo a ter acesso aos papéis, logo depois que eles chegaram à comissão, no dia 20 de janeiro.

Esperidião Amin (PP-SC) foi o primeiro a ter acesso aos papéis, no dia 21 de janeiro. O relatório continha uma coleção de mensagens enviadas por agentes da Abin a autoridades do governo federal nos dias anteriores aos atos do dia 8, alertando sobre o risco de invasão das sedes dos Três Poderes.

A resolução que regula a CCAI obriga os membros da comissão a manter sigilo sobre os documentos de inteligência a que têm acesso. Esse primeiro relatório da Abin estava disponível em papel e em formato digital, que podia ser aberto mediante a apresentação de uma senha específica.

Na noite desta quinta-feira, questionei a assessoria de imprensa de Do Val sobre como foi seu acesso ao documento, mas não obtive resposta.

A ordem de busca e apreensão assinada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes ainda é sigilosa. Pelo que se sabe até agora, Do Val está sendo investigado por tentativa de golpe de estado e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

A decisão é sigilosa, mas um dos fatos que teria baseado o pedido da PF foi a divulgação das cópias dessa versão do relatório enviada em janeiro à comissão do Congresso. O mais importante deles, porém, seria a combinação de Do Val com o então deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) e Jair Bolsonaro para um golpe de estado.

Conforme publicamos com exclusividade, os parlamentares constataram meses mais tarde que o primeiro documento, enviado pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Gonçalves Dias, não traz os onze alertas que o ministro recebeu no próprio telefone celular.

A descoberta só foi feita no final de maio, quando o ministro Alexandre de Moraes determinou novamente o envio do relatório à comissão, atendendo a um pedido da Procuradoria-Geral da República.

Sob novo comando e subordinada à Casa Civil, a Abin enviou uma versão diferente do documento, que agora trazia os alertas feitos a Gonçalves Dias. A esta altura, Do Val não era mais membro da CCAI e não teve mais acesso aos papéis.

No último dia 12, o senador postou fotos do primeiro relatório em sua conta no Twitter, junto com o texto: “Todos vocês irão ver a prevaricação dos ministros Flávio Dino, Gdias, Alexandre de Moraes e do presidente Lula! Agora vocês irão entender o medo que o governo estava e porque eles estavam tentando de tudo para não ter a CPMI (dos atos golpistas de 8 de janeiro)!”

Com a operação da PF, a conta de Do Val na rede social foi retirada do ar.

Embora os relatórios ainda não tivessem sido divulgados, o senador Amin, que faz oposição a Lula, disse que eles não eram sigilosos na data da postagem, e portanto torná-los públicos não seria crime. O senador diz ainda que não considera um problema Do Val ter feito cópias dos papéis, uma vez que a própria Abin teria informado que os documentos não eram sigilosos.

“A não ser que haja fatos novos, Marcos do Val vai acabar se saindo bem dessa situação”, disse Amin.

O Globo