Governo esmaga bolsonarismo na CPI do Golpe
Foto: Pedro França/Agência Senado
Depois de um início tumultuado, em que perdeu lances importantes mesmo tendo a maioria dos membros da CPI mista dos atos golpistas de 8 de janeiro, o governo Lula reagrupou sua tropa no colegiado e conseguiu controlar a votação sobre as primeiras convocações para depoimentos.
Os governistas conseguiram nesta terça-feira (13) derrubar os pedidos da oposição bolsonarista para convocar o ex-ministro do GSI de Lula, general Gonçalves Dias, o ex-diretor da Abin Saulo Costa e o ministro da Justiça, Flávio Dino. Também rejeitaram os requerimentos que pediam acesso ao Ministério da Justiça e do Itamaraty no dia do ataque.
O placar da votação – 20 pró-governo e 11 contra – foi consolidado nos últimos dias com uma estratégia que repetiu o esquema adotado na CPI da Covid.
A diferença é que na Covid o grupo que comandava os trabalhos era da oposição, e agora é governo.
De acordo com o relato de dois dos membros do governo na CPI, o líder de Lula no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), e a relatora, Eliziane Gama (PSD-MA), avaliaram que os problemas na articulação política do governo no Congresso estavam influindo no funcionamento da CPI.
Os dois convocaram, então, uma reunião de emergência na casa de Randolfe para a manhã desta terça-feira com um núcleo de seis parlamentares que formaram um grupo de WhatsApp – além de Eliziane e Randolfe, o senador Fabiano Contarato (PT-ES) e os deputados Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Rogério Correia (PT-MG) e Rubens Jr (PT-MA).
O grupo, que já se autodenomina de G6 – à semelhança do G7, que definia as estratégias do comando da CPI da Covid – , mapeou os votos dos integrantes governistas da comissão e depois decidiram votar em bloco a lista de convocações apresentadas por Eliziane, sem os ministros de Lula.
O grupo acertou ainda que passaria a fazer reuniões fechadas de estratégia duas vezes por semana, como foi feito na CPI da Covid, para evitar surpresas nas próximas sessões.
Na sessão anterior, Eliziane e Randolfe tiveram que aceitar que fosse aprovado apenas o plano de trabalho da relatora, por não ter certeza de que sua lista de convocações seria aprovada com folga.
De uma reunião para outra, acertaram a estratégia e reagruparam os governistas para votar em bloco. Com isso, conseguiram superar os bolsonaristas – que são minoria, mas estavam dando trabalho ao governo Lula na comissão.
Assim que a CPI foi instalada, no final de maio, os governistas tiveram que aceitar na presidência da CPI o deputado Arthur Maia (PP-BA), indicado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), porque os deputados da base se recusaram a votar contra o presidente da Câmara na comissão.
Depois, correu o risco de entregar a relatoria para Weverton Rocha (PDT-MA), senador ligado ao líder do União Brasil, Davi Alcolumbre. Mas uma intervenção de Randolfe nos bastidores para colocar Eliziane Gama no lugar.
Na semana passada, o plano de trabalho de Eliziane foi aprovado, mas a lista de convocações ficou para depois. Os governistas ainda tentaram excluir da CPI o deputado André Fernandes (PL-CE), que é alvo do inquérito dos atos golpistas no Supremo Tribunal Federal. O presidente Arthur Maia, porém, não permitiu.
Com a repetição da estratégia que funcionou na CPI da Covid, os governistas esperam evitar novos sustos. Se os 20 votos obtidos na última sessão continuarem coesos, Lula terá menos um problema para resolver no Congresso.