Sob Bolsonaro, 3 ativistas de direitos humanos morriam por mês

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Foto: Cauê Angeli/Repórter Brasil

Três defensores de direitos humanos foram mortos por mês, em média, durante o governo Bolsonaro, apontou um relatório das entidades Terra de Direitos e Justiça Global, publicado nesta quarta-feira (14/6). As violações de direitos humanos se concentraram no Norte e no Nordeste e atingiram principalmente indígenas e negros.

De 2019 a 2022, a pesquisa registrou 1.171 violações de direitos humanos em todo o Brasil. Foram 169 assassinatos. A categoria mais recorrente foi a de ameaça, com 579 casos, metade do total. O auge da violência contra os defensores de direitos humanos aconteceu em 2021, com 302 violações.

Segundo o estudo “Na linha de frente”, a eleição de Jair Bolsonaro foi determinante para o quadro: “A política adotada pelo governo Bolsonaro contribuiu para fortalecer grupos de extrema direita. Acentuou um ambiente hostil, de violência e ódio voltado especialmente contra grupos historicamente marginalizados”.

As regiões com mais registros foram Nordeste (32,4%), Norte (31,5%) e Sudeste (16,6%). Defendores indígenas (29%) e negros (13%) foram os mais atingidos pelos episódios de violência, que incluem ainda agressão física, atentados e criminalização. O estudo considerou defensor de direitos humanos qualquer pessoa ou grupo que atue contra qualquer violação de direito, a exemplo de políticos, sociais, culturais e ambientais.

A coluna detalhou a história de quatro vítimas citadas no relatório. Os assassinatos aconteceram em 2019, 2020 e 2021, no Maranhão e no Pará.

Em 26 de janeiro de 2021, em Pau D’Arco (PA), o camponês Fernando Araújo dos Santos foi morto com um tiro na nuca, dentro de casa. No dia seguinte, planejava deixar a região após receber diversas ameaças de policiais. Fernando era um dos sobreviventes da chacina Massacre de Pau D’Arco, em 2017, quando policiais mataram dez trabalhadores rurais. Entre os mortos estava o namorado do camponês.

Duas semanas antes de ser assassinado, Fernando reafirmou as ameaças recebidas em uma entrevista: “Eu sinto que tá vindo coisa pesada pra nós aqui na [fazenda] Santa Lúcia. Os policiais estão pensando em vir aqui dar um jeito de não haver mais testemunha antes do julgamento”, disse à repórter Ana Aranha, da Repórter Brasil.

As ameaças de morte se concretizaram contra Paulo Paulino Guajajara em 1º de novembro de 2019, dentro da terra indígena Arariboia, em Bom Jesus das Selvas (MA). Paulo foi morto a tiros. No ano passado, a Justiça determinou que os dois réus pelo assassinato, Antonio Wesly Nascimento Coelho e Raimundo Nonato Ferreira de Sousa, fossem a júri popular.

Paulo fazia parte do grupo indígena Guardiões da Floresta, responsável por vigiar o território contra invasões de garimpeiros, madeireiros e fazendeiros. O líder pertencia ao mesmo povo da atual ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.

Os defensores de direitos humanos Celino e Wanderson Fernandes, pai e filho, morreram em 5 de janeiro de 2020 em Arari (MA), com tiros na cabeça. Os quilombolas foram executados dentro de casa, na frente de familiares.

Os quatro assassinos inicialmente se apresentaram como policiais civis e usavam coletes da corporação, além de capuzes. Integrantes do Quilombo Cedro, Celino e Wanders já haviam denunciado os conflitos agrários na região a órgãos estaduais e federais.

Metrópoles