Lira controla presidente da CPMI do Golpe

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Foto: Cristiano Mariz/O Globo

Parlamentar de destaque do União Brasil – partido que pressiona o governo nas últimas semanas por mais cargos na Esplanada -, o presidente da CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro, Arthur Maia (BA), marcou posição na largada dos trabalhos investigativos como um obstáculo no caminho do trator governista. Nos bastidores, integrantes do colegiado avaliam que a condução de Maia é mais uma “carta na manga” do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na relação conturbada com o Palácio do Planalto.

Na semana passada, logo após a primeira reunião para votação de requerimentos, com aprovação de todos os pedidos da base governista, Maia não hesitou em reclamar publicamente da blindagem de nomes ligados ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Alegando ter ficado constrangido com a tática governista na CPMI, prometeu, em jogada conjunta com a oposição, pautar “quantas vezes forem necessárias” todos os requerimentos derrubados em votação.

O deputado referia-se principalmente aos pedidos oposicionistas para convocação do general Gonçalves Dias. O militar pediu exoneração do cargo de ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) após a CNN divulgar imagens em que aparece, no Palácio do Planalto, com uma postura passiva ao lado de golpistas no dia dos ataques.

Pesa também contra o ex-ministro denúncia de que ele teria adulterado relatório de inteligência encaminhado ao Congresso para evitar expor que havia sido alertado sobre a invasão do Planalto.

Após uma primeira reclamação sem citar o nome do militar, Maia foi às redes sociais para reafirmar sua posição. “Foi constrangedor ver a maioria do colegiado da CPMI do 8 de janeiro rejeitar requerimentos de convocação de personagens centrais nessa investigação, como é o caso do G. Dias, do Saulo Moura da Cunha, ex-Abin, e do ministro da Justiça, Flávio Dino”, escreveu.

Ficamos muito decepcionados com a postura adotada”
— Rogério Correia

O parlamentar compartilhou nas redes sociais vários elogios feitos por deputados bolsonaristas após sua postagem. Na sexta-feira da semana passada, cumpriu a promessa e colocou na pauta da reunião que ocorre amanhã requerimentos para convocação de Gonçalves Dias e de Saulo Moreira da Cunha.

Ao Valor, o parlamentar afirmou que é preciso ter uma investigação equilibrada: “Se a CPMI é investigativa, ela não pode, de maneira nenhuma, eliminar possíveis provas só porque estão sendo trazidos por aqueles que tem uma narrativa diferente da maioria.”

Antes da sessão que ocorre nesta terça-feira (20), governistas vão tentar fazer com que Maia inclua na pauta de votação pedido registrado pela senadora Eliziane Gama (PSD-SE), relatora do colegiado, para convocação do coronel do Exército Jean Lawand Junior. Ele foi flagrado em troca de mensagens de teor golpista com o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Os depoimentos dos militares são considerados essenciais pelo governo para que seja anulada qualquer perspectiva de prosperar a versão da oposição de que a tentativa de golpe contou com a participação de infiltrados e conivência de aliados de Lula.

Em meio ao embate político, o presidente da CPMI também conseguiu vencer queda de braço pública com Eliziane ao conseguir evitar que Mauro Cid e Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, fossem os primeiros a serem ouvidos no colegiado.

A relatora havia reiterado que era importante a CPMI realizar inicialmente as oitivas dos dois ex-auxiliares de Bolsonaro. “Eu vejo que são dois nomes com uma relação muito direta com os fatos, que se iniciaram após a eleição, a partir do dia 30 de outubro até o dia 8 de janeiro”, disse Eliziane.

Um dia depois, Maia barrou a pretensão da senadora e anunciou que o primeiro a ser ouvido seria o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques. A data dos depoimentos de Anderson Torres e Mauro Cid não foi marcada, mas o parlamentar já avisou que eles só devem depor após conclusão de inquéritos do Supremo Tribunal Federal (STF).

Outro gesto protagonizado por Arthur Maia ligou o alerta governista. Após votação de requerimentos na sessão da semana passada, marcada por vitória do governo, o parlamentar não encerrou a sessão e passou a presidência para o senador bolsonarista Magno Malta (PL-ES). A estratégia permitiu que o senador Marcos do Val (Podemos-ES), aproveitando a transmissão da sessão pela TV Senado, exibisse um vídeo com a versão oposicionista sobre o 8 de janeiro.

“Liguei para o nosso prezado presidente Arthur Maia, que está numa reunião. Ele atendeu e eu disse: ‘o senador do Val pediu para exibir um vídeo de três minutos’. Ele disse: ‘em sendo omisso o regimento, você é o presidente: decida’”, declarou Malta. “E eu decido, decidi”, complementou.

O gesto de Maia, que já havia vedado a exibição de vídeos na CPMI, foi entendido como uma retaliação aos governistas da comissão. “Ficamos muito decepcionados com a postura que o presidente tem adotado. Eu conversei com ele antes e ele disse que estava convicto de que houve uma tentativa de golpe de estado, mas parece que só disse isso porque queria ser presidente”, reclamou o deputado Rogério Correia (PT-MG).

A avaliação de congressistas de oposição é de que Maia tem desempenhado um papel independente na condução dos trabalhos. “Ele é um cara sério. Um deputado que foi escolhido para ser presidente da CPMI para fazer um trabalho isento e imparcial”, afirmou o deputado Filipe Barros (PL-PR). Barros criticou a postura do governo de barrar requerimentos de parlamentares oposicionistas. “A atuação do governo mostra que ele têm algo a esconder”.

Valor Econômico