Lula elogia premiê italiana de extrema-direita

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Alice Vergueiro/Estadão Conteúdo e Cesar Perez/Presidência da Nicarágua/Reuters

Durante sua viagem à Itália nesta semana, Lula se encontrou com Giorgia Meloni, a primeira-ministra italiana de direita radical. Ambos estão em lados completamente opostos do espectro político.

Porém, esse não foi o problema para o petista, que justificou durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira (22), que “nenhum país do mundo que eu visito eu me preocupo com pensamento ideológico do Presidente”.

“Bem impressionado com a Meloni, uma jovem, porque ela é muito jovem (…) Num mundo muito machista ainda uma mulher ganhar a eleição na Itália é um fato extraordinário”.
Meloni ganhou as eleições italianas em 25 de setembro de 2022 e, pela primeira vez desde 1945, o país é governado por uma liderança pós-fascista. Seu partido recuperou o lema que popularizou o ditador Benito Mussolini (1883-1945): “Deus, pátria e família”.

O partido também mantém o logotipo da extrema-direita do pós-guerra: a chama tricolor, muitas vezes interpretada como o fogo queimando no túmulo de Mussolini. Mas esse rótulo de fascismo é algo que Meloni rejeita com veemência – ela insiste que deixou a ideologia no passado.

“Para me encontrar com a Primeira-Ministra da Itália a mim não importa o posicionamento político dela. O que importa é que ele é Chefe de Estado da Itália, defende os interesses do povo italiano”, falou Lula.

Publicação no Twitter — Foto: Reprodução/Twitter

O presidente Lula (PT) disse ser injusto que se gaste bilhões de dólares ou euros com a guerra, enquanto há pessoas passando fome no mundo. O petista fez a declaração ao ser questionado sobre a guerra na Ucrânia, durante a coletiva.

Lula cumpre agenda na Europa e, na quarta-feira (21), discutiu o conflito no leste europeu com o Papa Francisco e com a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni.

O presidente voltou a defender a ideia da criação de um grupo de pessoas para negociar uma saída para a guerra da Ucrânia e disse que o conflito precisa parar.

“O mundo tem 800 milhões de seres humanos que vão dormir toda noite sem ter o que comer, e não é justo gastar bilhões de dólares ou de euros com guerra. É desnecessário quando a gente poderia estar vivendo em um momento de paz”, disse.

Lula disse que o assessor da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, conversou com representantes do Papa Francisco sobre o andamento das conversas com a Rússia e Ucrânia.

Segundo o presidente, Amorim irá participar no sábado (24) de uma reunião na Dinamarca com representantes de vários países para discutir a situação da guerra. Lula afirmou que é necessário encontrar um denominador comum que convença Ucrânia e Rússia a pararem o conflito.

“O dado concreto é que milhares de pessoas estão morrendo. Você pode recuperar um prédio, mas não pode recuperar as pessoas. O importante é parar”, disse.
O petista defendeu que membros da Rússia e Ucrânia escolham interlocutores para que exista uma negociação entre os dois países.

Na Itália, Lula voltou a criticar o modelo do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e defendeu a criação de uma nova governança global. O presidente já havia feito um discurso semelhante na reunião do G7, em abril.

Desta vez, Lula aproveitou para fazer críticas aos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, como Rússia e Estados Unidos. O petista citou exemplos de invasões promovidas pelos dois países.

“É uma moda as pessoas que participam como membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU invadir outros países sem pedir licença a ninguém. Os Estados Unidos invadiram o Iraque, a Inglaterra e a França invadiram a Líbia. Agora, o Putin invade a Ucrânia. Eles não poderiam estar fazendo isso.”

No discurso, Lula também comentou sobre Daniel Ortega, presidente da Nicarágua, e a relação com a igreja. “A única coisa que a Igreja quer é que a Nicarágua libere os bispos. Eu pretendo falar com Daniel Ortega a respeito, sabe? De liberar os bispos”.

O presidente disse ainda que não há motivos para os bispos “ficarem impedidos de exercer sua função na Igreja. Vou tentar ajudar. Se puder ajudar, mas não é fácil”.
As relações entre a Igreja Católica e o governo Ortega se deterioraram desde 2018, quando houve protestos sustentados contra o governo do presidente e uma subsequente repressão do governo.

A Igreja recebeu quase 200 ataques entre abril de 2018 e maio de 2022 na Nicarágua, segundo um relatório da ONG Observatorio Pro Transparencia y Anticorrupción.

Um dos casos mais recente foi a prisão do bispo Rolando Alvarez, um crítico ferrenho de Ortega. Ele foi condenado a mais de 26 anos de prisão na Nicarágua em fevereiro por acusações que incluíam traição, atentar contra a integridade nacional e espalhar notícias falsas.

Álvarez era conhecido por denunciar violações de direitos humanos por parte do governo Ortega.

Não ficou claro se o Papa pediu a Lula para intervir e buscar aliviar a crise mais aguda que a Igreja Católica Romana enfrenta na América Latina.

G1