Marido de ministra do Turismo vira ator federal
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Após bater ponto entre segunda e quinta-feira em Brasília para negociar a permanência da mulher, Daniela Carneiro, à frente do Ministério do Turismo, o prefeito Wagner dos Santos Carneiro, conhecido como Waguinho, passou a sexta-feira mergulhado em reuniões políticas antes de sua posse como presidente estadual do Republicanos, marcada para este sábado, no Rio. Na agenda atribulada, faltou tempo para dar expediente na prefeitura de Belford Roxo, município da Baixada Fluminense, no qual foi reeleito em 2020, mas onde enfrenta dificuldade para forjar um sucessor.
Os afastamentos de Waguinho do posto de trabalho, apesar de nem sempre tão longos quanto na semana passada, se tornaram constantes nos últimos meses em meio à preocupação com a perda de espaço no governo federal e, em paralelo, com a mobilização partidária de olho na corrida ao governo estadual em 2026. O GLOBO constatou a ausência na tarde de sexta, ao procurar Waguinho na sede da prefeitura — fora da cidade durante o dia, era aguardado por funcionários somente à noite. Enquanto isso, adversários alimentam planos de derrotar o grupo do prefeito em seu reduto na eleição do ano que vem, em mais uma possível dor de cabeça no horizonte do aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Padrinho político de Daniela, Waguinho tomou a dianteira para conter a iminente troca no Turismo e conseguiu, após reuniões com Lula e com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ao menos adiar a queda. Para interlocutores do prefeito, o esforço abriu uma brecha, ainda que pequena, para reverter a provável demissão, exigida pela bancada do União Brasil na Câmara após Waguinho deixar o partido e afirmar que a mulher, ainda filiada, fará o mesmo. O substituto mais cotado, Celso Sabino (União-PA), tem apoio da bancada e é próximo de Lira.
Em março, quando ainda tentava manter o controle sobre o diretório fluminense do União Brasil, Waguinho rumou a Brasília para o que classificou como um “importante encontro” com o senador Davi Alcolumbre (União-AP), um dos caciques da legenda. A agenda, sem relação com atividades da prefeitura, teve o objetivo de “reforçar nossa amizade e parceria”, segundo registro de Waguinho. Agora, um dos focos do prefeito nas incursões pela capital federal é uma eventual reacomodação no governo. No início do mês, ele se reuniu com o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, de olho na superintendência estadual da autarquia, de acordo com petistas.
Já a turnê da última semana incluiu uma agenda com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, cuja pasta é alvo de cobiça do Centrão. Integrantes do PT fluminense admitem que o controle de hospitais federais no estado, hoje sob indicação do partido, pode migrar para Waguinho, embora ele negue publicamente ter interesse nesses postos. Segundo um antigo interlocutor, o prefeito corre risco de se desgastar por ficar “mirando o espaço de outros deputados”. Dirigentes do PT, por sua vez, admitem um esforço do governo para manter Waguinho em espaços relevantes.
Além da agenda federal, Waguinho vem percorrendo o estado para articular alianças com prefeitos. Há duas semanas, uma viagem a Campos dos Goytacazes, município a cerca de 300 quilômetros de Belford Roxo, serviu para costurar uma aproximação com o prefeito Wladimir Garotinho (sem partido). Dias antes, o itinerário havia sido pela Região dos Lagos.
Na capital fluminense, por outro lado, Waguinho tem atraído nomes que se distanciaram do atual prefeito Eduardo Paes (PSD). O diretório carioca do Republicanos ficou sob gestão da família do ex-deputado Domingos Brazão, hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ).
Outra filiação articulada por Waguinho foi a do empresário Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que retirou sua candidatura para apoiar Paes na última disputa municipal mas ficou fora da gestão. O Republicanos, partido do ex-prefeito Marcelo Crivella, deve lançar candidatos na capital e em outros colégios eleitorais importantes, com o objetivo de preparar terreno para uma eventual candidatura de Waguinho ao governo do Rio em 2026.
— Waguinho está se movimentando, até porque já desponta como uma liderança popular na Baixada e também tem força no interior do estado — disse Paulo Marinho.
A estratégia, porém, ainda esbarra na dificuldade de forjar um sucessor. Segundo lideranças políticas próximas ao prefeito, Waguinho pode lançar um nome da própria família, mas a falta de um parente com peso político é um empecilho. A legislação eleitoral não permite que Daniela concorra ao mandato seguinte do marido. Ex-aliado, o deputado estadual Márcio Canella (União-RJ) já se apresenta como candidato em Belford Roxo e costurou alianças com lideranças do estado, como o governador Cláudio Castro (PL) e Paes, colocando pressão sobre Waguinho.
Canella e Waguinho se afastaram no segundo turno de 2022, quando o deputado apoiou o então presidente Jair Bolsonaro (PL), ao passo que o prefeito optou por Lula. Irritado, Waguinho demitiu nomes indicados pelo grupo político de Canella, o que gerou uma dissidência na base do prefeito, até então quase unânime na Câmara de Vereadores. O atual vice-prefeito, Marcelo Canella, é irmão do deputado estadual. Embora mantenha convivência pacífica com Waguinho, o vice fica isolado do dia a dia da gestão, mesmo durante as viagens do prefeito.