Ministra do Turismo ganha tempo no cargo

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Foto: Cristiano Mariz

Na mais nova queda de braço entre caciques da Câmara e o Palácio do Planalto, representantes do Centrão se aproveitaram da instabilidade da ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União-RJ), para aumentar a pressão sobre o governo. Eles sinalizaram agora que não se contentarão apenas com a provável mudança no comando da pasta e que pretendem expandir o controle para órgãos do segundo escalão, como Embratur e Correios, hoje na mão de petistas. A nova ambição não agrada a cúpula do Executivo. Nesta terça-feira, após uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a titular da cadeira que é alvo da cobiça de correligionários ganhou uma sobrevida no posto, mas foi avisada de que a falta de apoio dentro do seu próprio partido torna a permanência dela na Esplanada praticamente insustentável.

A situação de Daniela se tornou crítica depois que congressistas da legenda dela elaboraram um abaixo-assinado para pedir a substituição da correligionária por um outro parlamentar da sigla, o deputado Celso Sabino (União-PA). Para além das cadeiras ministeriais, o União Brasil mira outros cargos.

De acordo com a colunista Malu Gaspar, do GLOBO, o senador Davi Alcolumbre (União-AP), que apadrinhou as indicações dos ministros Waldez Góes (Integração Nacional) e Juscelino Filho (Comunicações), ambos do União, e o líder do partido na Câmara, Elmar Nascimento (BA), reivindicaram ao Planalto “tratamento isonômico” em relação a outros partidos que ocupam ministérios. A queixa é que MDB e PSD, que também têm cadeiras no primeiro escalão, conseguiram indicar as chefias de órgãos subordinados às pastas que comandam.

Elmar e Alcolumbre reclamam que a Embratur, por exemplo, ligada ao Turismo, é administrada pelo ex-deputado Marcelo Freixo (PT). Os Correios, que são subordinados à Comunicação, estão sob o comando do advogado Fabiano Silva dos Santos, ligado ao PT. No caso da Integração, o Banco do Nordeste é presidido por Paulo Câmara (ex-PSB), e o Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) é controlado pelo Avante.

Ontem, Elmar sinalizou que a sigla vai pleitear mais espaço se a troca no Turismo for efetivada, o que interlocutores do Planalto acreditam estar próximo de ocorrer. O preferido da bancada da legenda para assumir o posto é Celso Sabino.

— Eu preciso entender como é o funcionamento do ministério, o que cabe, e a gente discutir com o governo. No início, quando fiz a interlocução com o presidente sobre isso, a perspectiva era ter ministério completo, com todas as posições, até porque é um ministério pequeno — afirmou Elmar.

Em conversa ontem com Freixo, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que o comando da Embratur não entrará na negociação. O Planalto vislumbra, no entanto, ceder gerências da empresa a indicados do partido. Sobre os Correios, a hipótese de troca na chefia também está afastada no momento.

Em meio às pressões externas, Lula convocou Daniela ontem para uma reunião de última hora. Ela foi informada de que o pedido do União Brasil por mudança é um entrave concreto à manutenção dela.

Na avaliação de integrantes do governo, a permanência dela no Turismo será momentânea. A preocupação do Planalto, agora, é não deixar a ministra desassistida ao sair. Daniela e o marido, Waguinho, prefeito de Belford Roxo, foram os principais cabos eleitorais de Lula na Baixada Fluminense no ano passado — por isso, ela é vista como uma integrante do primeiro escalão da “cota pessoal” do presidente.

Lula argumentou que era natural que o ministério de Daniela fosse o primeiro a ser analisado para eventual troca, já que o grupo político dela entrou em litígio com a legenda. Após divergências com o presidente nacional do União, Luciano Bivar (PE), o marido de Daniela trocou o partido pelo Republicanos, e a ministra também encaminha sua saída da sigla.

Durante a conversa no Planalto, Lula disse que o movimento, se confirmado, ocorrerá por um motivo político. Não ficou estabelecida uma data para ela deixar a pasta. O presidente elogiou o trabalho da ministra diversas vezes. Porém, reforçou que havia necessidade de resolver o impasse com o União. Daniela participará amanhã da reunião ministerial, quando levará um balanço das ações desenvolvidas pela pasta.

Segundo um dos presentes, Lula fez questão de reforçar a gratidão dele a Waguinho e Daniela pelo apoio durante a campanha e reafirmou o compromisso com o casal. O prefeito de Belford Roxo aproveitou a conversa para levar demandas de repasse de recursos para o município na área da saúde, que Lula pediu celeridade para atender.

À tarde, a ministra foi à Câmara para uma audiência na Comissão de Turismo. Na chegada, ela buscou mostrar confiança de que seguirá no cargo:

— Tive hoje uma conversa muito boa, muito positiva. Volto a dizer: estou à disposição do presidente, eu fui indicação dele e estou aqui para contribuir com o Brasil. Ele (Lula) falou na reunião: “Fique tranquila, faça seu trabalho”. A especulação também é muito grande, infelizmente. Não pelo governo, mas por alguns aí… A questão do machismo estrutural. Sou da Baixada Fluminense, de família muito humilde.

‘Sem beicinho’
Durante a reunião, ela recebeu o apoio até de um parlamentar bolsonarista. Bibo Nunes (PL-RS) se declarou aliado e defendeu a continuidade da gestão dela:

— Sou oposição, mas não raivosa.

O deputado Washington Quaquá (RJ), vice-presidente do PT, fez coro e disse que a formação de maioria na Casa não virá por meio de “distribuição de ministério”. Também estiveram presentes três deputados do União Brasil, incluindo o suplente de Daniela, Ricardo Abrão (RJ). A bancada da legenda se reuniu ontem, e havia a previsão de um jantar com senadores para ratificar o apoio a Sabino.

Desde que despontou como favorito, ele vem enfrentando desgastes em função do apoio que deu ao ex-presidente Jair Bolsonaro na campanha do ano passado e de manifestações contra Lula — ele chegou a apagar tuítes que continham críticas ao petista. Uma decisão judicial de 2014 que obrigou o deputado a cumprir medidas protetivas contra a ex-mulher por “perturbação da tranquilidade” também circulou no governo, mas interlocutores do Planalto minimizaram o impacto do episódio, já que o caso foi encerrado pela Justiça após o Ministério Público defender o arquivamento. Procurado pelo GLOBO, Sabino disse que não houve “agressão ou qualquer tipo de violência”.

O revés de ontem não provocou mudanças expressivas no humor da cúpula do União Brasil, ainda confiante em um desfecho que seja positivo para o partido. Com 59 deputados, a sigla é a terceira maior da Câmara, atrás de PL e PT.

— É o presidente que escolhe os nomes para o seu ministério. O União não vai ficar se lamentando, retaliando ninguém ou fazendo beicinho. O governo segue disposto a dialogar conosco, independentemente desta escolha pontual — afirmou Bivar.

O Globo